terça-feira, 27 de setembro de 2022

Catálogo da Semana: Mercedes-Benz OH-1315G (1992)

É quase uma obviedade dizer que a Mercedes-Benz foi a responsável por uma enorme fatia do mercado de caminhões (e outra talvez maior ainda de ônibus urbanos); então é natural que a empresa, apesar de sua enorme hegemonia, pensasse em alguns nichos de mercado, até para não dar chance e vez para as concorrentes. E concorrência nunca faltou, nem nunca faltará...

Uma das mais interessantes iniciativas veio ao mundo no ano de 1991, quando a fábrica trouxe ao mercado a versão movida a gás natural de seu moderno ônibus monobloco O-371U; algumas unidades, inclusive, rodaram pela CMTC, importante (e extinta) empresa estatal de transporte coletivo no começo daquela década:

Retrato tomado por Waldemar Freitas Júnior, divulgada no ótimo site Portal do Ônibus

O O-371UG era moderníssimo, tanto que era inteiramente fabricado pela Mercedes-Benz em uma estrutura única (daí o termo monobloco); porém, tal como antes, o mercado costumava absorver mais as unidades com tecnologia de construção mais clássica, carroçaria e chassis. E para atender esse nicho dentro de outro nicho, a Mercedes trouxe ao mercado a sua primeira plataforma movida apenas e tão somente com gás natural, o OH-1315G.

Sim, pois o motor M-366G funcionava pelo ciclo Otto; não gastava uma gota sequer de óleo diesel e não fora vendido para beber gasolina ou álcool. Apesar de alguns usuários da época relatarem que ele não era exatamente silencioso, nem um exemplo de performance em subidas, era um ônibus muito interessante e menos poluente do que os muitos que rodavam na época. E tinha um inegável apelo de modernidade.

Foto de Pablo Dalalibera Silveira, divulgada por Marco Antônio Silva de Góes no excelente site Ônibus Brasil

Não tenho dados precisos a respeito de quantos foram fabricados; em extensas buscas na internet não achei muitas fotos ou relatos sobre o OH-1315G, a não ser a informação de um entusiasta, divulgada em comentário no site Ônibus Brasil, de que a empresa Viação Pioneira - da capital Paulista - teve perto de oitenta destes, todos vestindo carroçaria Thamco modelo Dinamus.

Imagem do acervo da SPTrans, divulgada por Rafael Santos Silva no site Ônibus Brasil.

A imagem acima revela que os cilindros que comportavam o gás natural ficavam na lateral do chassis (dois conjuntos de três receptáculos), os quais poderiam ser acessados por aberturas laterais instaladas para tanto, como se fossem tampas de bagageiros em ônibus mais comuns. Possivelmente os cilindros eram abastecidos por meio destas portas, mas as imagens não são muito precisas a tal respeito.

Fotografia de Maurice Gonçalvs Natacci por ele divulgada no site Ônibus Brasil

Quem visse os Thamco Dinamus Mercedes-Benz OH-1315G pela traseira, talvez perceberia algo diferente se lesse o aviso "movido a gás natural", pois, de resto, em nada destoava muito dos demais veículos com propulsor instalado na traseira. Um entusiasta talvez percebesse o balanço traseiro um pouco maior do que o comum e o ronco diferente, apenas.

Essas configurações diferentes sempre me chamam muito a atenção; por isso, convido o leitor para ler o catálogo que a Mercedes-Benz editou para anunciar ao mercado a novidade gaseificada, o qual hoje podemos ter acesso graças a fantástica iniciativa da Anfavea em divulgá-lo na internet:







O modelo OH-1315G pode não ter sido exatamente um sucesso; porém, não podemos nos esquecer da inciativa pioneira em apresentar ao mercado uma opção diferente, com um motor diferente e um combustível bem diferente. Não sei se há algum ainda original rodando por ai (posso apostar que todos os poucos remanescentes foram dieselizados), tal como este, fotografado em junho de 2016 na cidade de Araripe/CE:

Foto de Diego Silva, por ele publicada no site Ônibus Brasil

Possivelmente nenhum destes está a rodar com o gás natural; porém, ao menos ficam as fotos dos entusiastas e o catálogo, pra gente sempre lembrar da necessidade de inovar e testar novos caminhos.

5 comentários:

  1. Até pelo fato de ônibus urbanos desativados terem a sobrevida em serviços diversos, que às vezes requerem o manejo mais fácil de um combustível líquido, já fica bem mais difícil para os operadores uma adesão ao gás natural. A propósito: recentemente vi algumas vezes um ônibus a gás natural com chassi Scania e carroceria Marcopolo em Porto Alegre, da empresa Turis Silva, especializada em serviços de fretamento. Se eu bem me lembro, esse serve a uma rota da Gerdau entre Porto Alegre e Charqueadas.

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    1. Realmente, seria inviável para uma pequena empresa (por vezes a frota se resume a não mais do que duas unidades) ter um veículo GNV, até mesmo porque a oferta do combustível não é tão massiva quanto a do diesel.

      Soube que uma empresa de Garopaba até testou a adaptação de ao menos um ônibus diesel para o GNV e não sei se o projeto foi muito adiante, sobretudo pelos custos da conversão certamente demorarem muito para a amortização. Pelo custo do combustível, em si, até pode ser vantajoso (em Floripa o metro cúbico do GNV custa menos que o litro do diesel convencional), mas manter um bicho desses no modo flex não deve ser lá tão vantajoso, hehe.

      Grato pela visita e os comentários sempre enriquecedores, grande abraço!

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    2. Caminhão com adaptação para usar óleo diesel e GNV ao mesmo tempo eu vi vários ao longo desse ano na BR-101 entre Porto Alegre e Florianópolis.

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    3. O pessoal do Mercado Livre usa várias Scania movidas a GNV e Biometano, vejo várias por aqui (algumas da Elma Chips também são, aliás esta fábrica está a usar uns JAC elétricos aqui na região, também).

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    4. Caminhões Scania a GNV da Elma Chips eu já vi também. Os elétricos eu estou começando a ver mais esse ano.

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