Dia desses enquanto fazia uma caminhada pelo meu bairro - tarefa necessária para combater o meu crônico sedentarismo, recentemente agravado em tempos pandêmicos -, encontrei um belo Escort XR3 com placas pretas. Infelizmente estava sem celular (tenho essa mania de não conviver muito com telefone) e não pude fazer belas fotos desse exemplar imaculado, vermelho bordô e até com ar-condicionado, conforme pude perceber num exame pouco discreto do interior fechado do esportivo estacionado.
E naquele momento percebi que estou a ficar cada dia mais velho, pois esses carros já têm mais de trinta anos (o uso da placa preta geralmente pressupõe três décadas de vida, além da conservação e originalidade) e eu os via quase novos a passar pela rua, impecáveis e altamente desejáveis. E enquanto continuava a minha andança, conclui cá comigo mesmo que carro esporte, mesmo que não seja puro sangue na mais decantada acepção, não envelhece e nem deixa de ser desejável...
Se há um adjetivo que bem cabia ao XR3 é desejável. Sobretudo aqueles com motor Volkswagen 1,8 (herança da Autolatina) e mais ainda os conversíveis (esses caros desde novos e que faziam um sucesso incrível nos rolês dos anos 80 e 90); mas se você tem um Escort esportivo com motor CHT Fórmula - o clássico e robusto CHT com mais afinação e acerto -, não fique chateado. Ainda é um bom propulsor: durável, com ótimo torque, fácil manutenção e consumo interessante. Exatamente como o modelo que vi com as chapas de coleção, ainda um 1,6, mas igualmente interessante.
Ao chegar em casa, revisitei as minhas revistas para lembrar melhor do Escort mais esportivo e encontrei, por primeiro, esta interessante avaliação comparativa, com o igualmente desejável Kadett GS. Lançado em 1989, foi uma coqueluche, com direito à ágio, filas de espera e muito interesse. Estão ficando escassos, infelizmente, mas eram muito populares na época: o GS amarelo Elburs (aquele que parece gema de ovo, sabe?) era hipnotizante aos meus olhos de garoto e ainda o é, apesar de já adulto.
Lembranças à parte, vamos, então, ler o texto de Gabriel Marazzi e ver as fotos de Hamilton Penna Filho publicadas na edição n. 36 da saudosa revista Oficina Mecânica:
Dentre ambos, a escolha, no fundo, é muito pessoal: eles se equivalem no desempenho (e notem que a velocidade máxima por eles alcançada é maior do que a Quatro Rodas costumava atingir, ante a limitação da curta pista usada pela publicação na época); o Escort XR3 freou melhor e gastou um pouco menos de álcool - apesar de nenhum deles ter sido projetado para a frugalidade -, mas o Kadett oferecia um pouco mais de equipamentos e os bancos Recaro eram interessantes.
Muito pessoalmente, a escolha seria pelo Kadett GS, por razões afetivas, estéticas e nada racionais; contudo, ninguém me veria triste se pudesse ter um Escort XR3, mesmo equipado com o motor menor. O segredo dos veículos, distinto leitor, é um só: não importa o quão rápido acelera, mas como ele acelera. E a sensação de pisar fundo ou raso neles é das melhores.