A curiosidade infantil me fazia imaginar o motivo pelo qual algumas das picapes que passavam pela rua eram mais silenciosas do que outras. Independente da marca ou do ano, logo reparava que algumas lembravam automóveis e outras mais pareciam pesados caminhões... Com o correr dos anos percebi que o motor a diesel, sempre rumoroso e trepidante, por vezes dava espaço para um engenho movido a gasolina ou mesmo a álcool, como é o caso do utilitário da semana, a Ford F-1000A 1985.
Picape Ford movida à álcool não era novidade, pois a F-100 desde 1980 trazia consigo o interessante motor OHC – aquele empregado na linha Maverick desde 1975 e, com pequenas modificações, na linha Jeep e F-75 desde então -, o qual, na versão alcoólatra, rendia 83,1cv em 4.400 rpm e torque de 16,5 mkgf a 2.400 rpm.
Não era tanta potência assim (especialmente
se a gente lembrar que a F-100 nasceu equipada com motor V-8) e talvez por isso
a carga máxima da picape não ia além de 660 kg de carga, falha esta que foi
resolvida pela Ford ao adaptar o Thiftpower 221 – unidade motriz largamente
utilizada na Argentina na linha Falcon – ao uso do combustível vegetal, que, ao
gerar 111,5cv em 3.800rpm e torque de 25,9 mkgf em 1.600 rpm tornou possível
carregar um pouco mais de uma tonelada numa picape Ford movida a álcool.
Nascia, então, a F-1000A, novidade avaliada pela imprensa automotiva de então, a começar pela revista Quatro Rodas, que, em sua edição n. 301, destacou, além do consumo alto, o conforto, o desempenho e a durabilidade dos novos pneus radiais presentes na novidade:
A revista Auto Esporte, em sua edição 249 de igual, percebeu o apetite do 221 seis cilindros, mas também louvou o desempenho e a maneabilidade da picapona, que poderia ser comprada nas cores branco-wimbledon e cinza-pombo-metálica, todas com faixas laterais vistosas e calotas plásticas:
Por fim, a turma da Motor-3, na
edição n. 65, gostou da estabilidade e do melhor comportamento dinâmico da
F-1000A em relação à Chevrolet A-20, embora reconhecesse que o interior da
picape da Ford já estava um tanto quanto desatualizado:
A novidade da Ford foi acolhida
com algum entusiasmo – sobretudo em licitações e frotas públicas –, mas não é
exatamente fácil encontrar uma destas rodando por ai, especialmente em razão do alto consumo e
da escassez de álcool que aborreceu muitos motoristas lá em 1989, exato ano no
qual a fábrica apresentou também a versão gasolina do já clássico motor 221. A
F-1000A (e a equivalente movida a gasolina) duraram até o ano de 1991,
justamente o ano em que a interessante picape recebeu um motor a diesel turbo comprimido,
sucesso imediato de vendas. Mas isso é história pra outra prosa.
PS: Sem as informações do excelente
blog Falando sobre carros – cuja visita recomendamos fortemente –, a matéria
não teria tantas informações históricas e técnicas.