sábado, 25 de setembro de 2021

Um computador a bordo! E um Check Control também! (Fiat, 1986)

Possivelmente, isso para não dizer certamente, você, amigo(a) leitor(a), prestigia este modesto espaço por meio de um smartphone ou de outro dispositivo móvel; talvez até um desktop, tal como aquele que uso para escrever neste espaço. Não importa: nossos dispositivos de hoje, mesmo não tão afinados com a última palavra em tecnologia, são decisivamente mais modernos do que os computadores de antes. Basta lembrar que pisamos na Lua com tecnologia muito inferior àquela que você tem no seu telefone celular, mas nem por isso éramos infelizes.

Evidentemente, a dramática evolução tecnológica hoje permite compartilhar informações em tempo real para qualquer lugar (qualquer lugar mesmo!), tanto que um automóvel novo tem de ter uma série de traquitanas modernas para ser mais vendável (desde o sinal nativo de internet sem fio até modernos e sofisticados sistemas de GPS), sobretudo se tiver uma tela colorida de funções complicadas para você mexer e impressionar quem está no banco do carona...

Mas até 1986 não tinha isso aqui no Brasil: quando muito, um painel de instrumentos poderia ter um conta giros e manômetro de pressão do óleo, computador de bordo era coisa de seriado de tevê ou ficção científica. Daí veio a Fiat e trouxe, depois de muito trabalho, o nosso primeiro computador, máquina que hoje pode nos fazer rir da singeleza, mas que trouxe uma tremenda revolução e impressionava pela precisão, como podemos ler do relato de Paulo Celso Facin, escrito para a edição n. 73 (julho de 1986) da nossa Motor-3:

O tempo mostrou que o aparelho não era um exemplo de confiabilidade, à exemplo do Check Control da mesma montadora, sistema muito brincalhão que adorava dar susto nos motoristas ao avisar falhas imaginárias nos freios e acusava portas abertas quando estavam bem travadas (que o diga a Elba CSL 1990 que meu pai teve). Mas a gente deve pensar que o pioneirismo sempre cobra um preço e, no geral, não era dos mais altos. E o sistema de checagem eletrônica era até interessante, como podemos ler desta reportagem publicada na revista O Mecânico (edição n. 31, de setembro de 1987):





Se você tem um Fiat da época com Check Control, talvez essa reportagem ajude você a resolver as falhas que eventualmente (diria quase que certamente) o sistema apresenta. Mas vale a pena mantê-lo funcionando, pois, apesar de simples, esse pioneiro controle eletrônico era bem moderno e chamava a atenção.

sábado, 18 de setembro de 2021

Teste técnico: Volkswagen Passat LS (1977)

Ah, o Passat... Moderno e atualizado, a novidade da Volkswagen para o ano de 1974 (e para os demais daquela década, é claro) representou uma verdadeira revolução: para quem se gabava de ter veículos arrefecidos a ar, o Passat, com seu moderno propulsor com refrigeração líquida, era um tremendo golpe de modernidade.

Nem tudo, porém, foi brancas nuvens: os primeiro Passat, conquanto bons, sofriam com excesso de barulho na carroçaria e suspensão (projetos europeus sofrem nas nossas ruas...) além de uma mania desagradável do câmbio em chamar a marcha-à-ré quando se convocava a primeira velocidade. Fora o ventilador que atuava no radiador, tão empolgado que relutava em se desligar... Falhas aborrecidas, é claro, mas que foram solucionadas com o tempo, sem maiores percalços.

Por isso é tão interessante a gente ler um teste mais técnico da época, como o publicado na extinta revista Oficina Quatro Rodas (edição n. 33, de agosto/1977), para se ter uma ideia do desenvolvimento do carro e de como ele se comportava. Adianto que o Passat não fez feio!






Nada é perfeito, sobretudo um veículo feito em massa por seres humanos, falíveis e inconstantes. Porém, apesar das variáveis que assolam uma linha de produção, o Passat, com certa humildade e maturidade, resolveu os problemas de infância e alcançou uma maturidade poucas vezes vista, a ponto de em 1988 muita gente ter reclamado à Volkswagen por ter descontinuado a sua produção...

sábado, 11 de setembro de 2021

Avaliação da semana: Ford F-1000 (1982)

Semana passada falamos do quão desejável seria ter uma Saveiro com motor a diesel Volks adaptado (inclusive legalmente, por meio uma estreita janela legislativa já fechada) e nada mais justo do que falar de uma picape que já saia da fábrica com motor a diesel: a Ford F-100, lançada no já distante ano de 1979, mas com fãs até hoje.

A F-1000 não era apenas um simples instrumento de trabalho, mas um veículo confiável, razoavelmente econômico e até confortável (sobretudo se o comprador lançasse mão das alternativas aftermarket, à exemplo de um condicionador de ar e bancos individuais mais macios), que fez muita gente sonhar com a possibilidade de enriquecer subitamente e poder ter uma dessas na garagem de casa. Mas para quem não conseguiu realizar esse sonho, deixo, então, uma reportagem de Paulo Celso Facin (ilustrada por Alex Soletto) publicada na nossa Motor-3 (edição 27, de setembro/1982), que nos contou como é guiar uma picapona dessas:




A F-1000, à época, não dispunha de motor com superalimentação (coisa que só veio em 1990, com a F-1000 turbo, inesquecível pick-up nacional...); contudo, o motor MWM D 229-4 não fazia feio e apresentava uma durabilidade proverbial: não é tão incomum ver unidades destas ainda na lida, lutando para sustentar o óleo de cada dia.

sábado, 4 de setembro de 2021

E que tal uma Saveiro a diesel? (1989)

Hoje fui abastecer meu veterano Uno Mille Eletronic 1993/1994 (vermelho Montecarlo, 197.000km rodados em pleníssima forma, vocês precisam ver!) e uma vez mais fiquei fundamente triste com o valor da nossa sofrida, alcoolizada, e cara gasolina. Afinal de contas, não é com um sorriso nos lábios que a gente paga R$ 5,80 a cada litro de combustível que entra no tanque (e nem os donos do posto que sempre abasteço estão felizes, o clima é de reclamação geral) e cada motorista, sobretudo os que usam o veículo como ferramenta de trabalho, tentam esticar ao máximo cada gotinha do precioso e caro líquido.

Após voltar do caixa, carteira mais leve e pensamento meio macambúzio, vi passar pela rua uma flamante picapona prata-metálica, novinha em folha, ar-condicionado em pleno funcionamento (é inverno, mas a temperatura é de primavera, quase verão) para deleite do único ocupante daquela massa de duas toneladas fluindo pela rua por meio da propulsão de um motor diesel... De súbito, pensei: "poxa, e se meu Uno também fosse a diesel, seria mais barato de abastecer".

E na volta pra casa fiquei a imaginar como seria interessante ver o fantástico motor Fiat diesel equipado no meu simpático carrinho e lembrei da adaptação relativamente comum feita nos anos 80 e que muito vi rodar na infância e adolescência: a Saveiro diesel.

Disse, num dia desses, que a legislação não permite que veículos com menos de uma tonelada de capacidade de carga e/ou tração em todas as rodas com sistema de redução sejam movidos pelo motor construído para gerar energia mediante o ciclo inventado por Rudolf Chirstian Karl Diesel; porém, um cochilo legislativo criado em 1985 permitiu que veículos com capacidade de carga superior a 545kg poderiam receber um motor movido a óleo. 

Sim, a Resolução n. 655/1985 do Conatran afrouxou os limites até então vigentes, tanto que furgões originalmente movidos à gasolina ou álcool poderiam receber unidades diesel, além de veículos que comportassem 15 passageiros e os utilitários que levassem mais de 545kg de carga, daí porque, quase que imediatamente, o pessoal da época se lembrou que a Volkswagen vendia um motor a diesel para a Kombi, perfeitamente adaptável à Saveiro.

Sucesso pode ser uma palavra forte, mas não era tão incomum ver especialmente a Saveiro (dada a facilidade de conversão a motor diesel facilitada pela existência da unidade a venda com facilidade no mercado, coisa que a Fiat não se preocupou em fazer), e o resultado não era ruim, conforme podemos ver da avaliação feita por Luiz  Bartolomais Júnior (ilustrada pelo saudoso Mituo Shiguihara), publicada na edição n. 330:



E a turma da revista Oficina Mecânica deu até as dicas para quem se animasse a instalar um novo propulsor na Saveiro, conforme o interessante guia publicado na edição n. 19, escrito por Jane Lopes e Ricardo Caruso (com imagens de Hamilton Penna Filho):





E sabem o motivo pelo qual você dificilmente se verá uma Saveiro 1989 em diante com motor a diesel devidamente legalizado? É que a Resolução n. 655/1985 do Conatran foi revogada pela Resolução 727/1989, o que deu fim à festa. Pena, pois seria interessante ver pequenas picapes movidas a diesel, mais ainda se pudesse ter um Uno diesel e fazer 20km com um litro de óleo enquanto rodaria maciamente a uns 80km/h, ouvindo uma boa música no rádio e curtindo a vida com calma e tranquilidade...