terça-feira, 20 de setembro de 2022

Catálogo da semana: Scania B-111 (1978)

Já trouxe aqui, em ocasião anterior, o ônibus da minha infância, o 1093 que urrava pelas ruas do meu bairro e levava os meus vizinhos e conterrâneos para o centro da capital catarinense; porém, bateu aqui a curiosidade em saber qual foi o primeiro ônibus com chassi Scania da região - e após alguma pesquisa, conversa com amigos que têm bom conhecimento e boa memória, cheguei até os carros 69 e 70 da Emflotur, ainda atuante na região continental de Florianópolis, hoje incorporada ao consórcio de empresas outras que venceram a última licitação.

Encomendados em 1977, o 69 e o 70 eram dois interessantes Scania B-111 encarroçados pela Marcopolo com o modelo Veneza II, bastante moderno e estiloso para a época; o urro de ambos deveria ser escutado há muitos metros de distância - à exemplo do S-112CL do qual já falamos -, além disto, o balanço dianteiro bastante diminuto fazia com que a porta dianteira (por onde se saia, na época) fosse instalada após o eixo, configuração usualmente denominada de cabinado pelos entusiastas e que muito me agrada.

Imagem do acervo do Clube do Ônibus Monteiro e publicada por Vladimir José Monteiro Costa no site Ônibus Brasil.

O carro 69 (de chapas AV-0244/Florianópolis-SC) e o 70 (com placas AV-0203/Florianópolis-SC) vieram juntos no começo de setembro de 1978 e certamente chamaram bastante atenção, não só pelo dístico SCANIA em enormes letras na frente da grade do radiador, mas pelo porte e o urro clássico do motor (falo muito disso, não ao acaso); ambos contavam com interior executado em material plástico vermelho (ah, os anos 1970...) e a pintura bege e azul era muito bela e facilmente detectável até mesmo pelos passageiros mais distraídos. 

Duvida? A chegada dessa dupla de peso, por assim dizer, mereceu até anúncio de jornal, pois se tratava de um acontecimento bastante relevante na pacata Florianópolis, como este publicado na edição de 01/10/1977 do extinto O Estado, com foto de nosso acervo (e garimpada nas edições físicas do jornal em tempos de férias da faculdade, há quase uma década atrás):


Mas esses Scania não rodaram muito tempo: por algum motivo, possivelmente financeiro, os Veneza foram retirados do serviço urbano, tiveram as carroçarias Veneza II desmontadas e as plataformas foram aproveitadas para o encarroçamento de dois novos ônibus rodoviários para o uso na divisão de turismo da empresa: um entusiasta comentou no site Ônibus Brasil que a dupla de urbanos se transformou no Marcopolo III de prefixo 580 e no Nielson Diplomata 590; estes há muito vendidos e que não achei nem foto deles pra contar história... 

Ao menos temos as fotos acima e a cópia de um catálogo semelhante àquele que alguém da Scania deve ter apresentado para o pessoal da empresa que comprou a dupla, cuja íntegra nós somente podemos mostrar neste espaço graças à gentileza da Anfavea de ter digitalizado uma incrível quantidade de material legal e que sempre devemos agradecer:








Hoje, com os olhos modernos, os níveis de poluição sonora e ambiental de um B-111 são inaceitáveis; a potência não é das maiores (motores diesel modernos com dois cilindros a menos rendem mais e bebem menos) e o nível geral de conforto melhorou bastante. Todavia, para os entusiastas como eu - e não são tão poucos assim, acreditem - there is no replacement for displacement. Não há substituto para o deslocamento cúbico do motor, sobretudo um doze litros diesel...

4 comentários:

  1. Apesar da idéia geral em torno de chassis com motor dianteiro como gambiarra, esse me chama atenção tanto pelas longarinas com um perfil mais baixo em comparação aos caminhões quanto por já ter oferecido a opção por suspensão a ar ao menos no eixo traseiro.

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    1. Apesar de não ser exatamente um chassi moderno ou de vocação muito ampla para o uso urbano, a Scania até que fez um bom trabalho de adaptação - uma distância enorme para os LPO-1113 e derivados que não tinham lá muita diferença para um chassi de caminhão, hehe.

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    2. Apesar que a brutalidade desse Scania seria mais apta ao uso rodoviário mesmo.

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    3. Naqueles tempos, era muito comum ver as empresas a usar o O-352M da Mercedes em variados chassis; imagino, por exemplo, como era difícil fazer a linha Florianópolis - Curitiba a bordo de um ônibus com menos de 130cv líquidos na perigosa pista simples da BR-101, por isso até soou exagero usar um Scania nas ruas da capital, pena que demorou mais um tempo para que os chassis voltassem a rodar aqui, como o 1093 da Estrela, esse de 1988.

      Grato pela visita!

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