sábado, 16 de julho de 2011

Os últimos

Nesta semana, durante um chuvoso passeio noturno, avistei um Vectra verde no show room de um concessionário Chevrolet. Apesar da pouca iluminação, e da miopia precoce, notei os logotipos com o dizer “collection” na lateral do veículo.

O tal do Vectra Collection é uma série especial de 2.000 unidades criada pela GM pra comemorar o encerramento da produção do sedã. Pode-se escolher qualquer cor, desde que seja verde-lótus. Cá prá nós: um preto ficaria bem melhor. Mesmo assim, é um belo carro.
  



Quatro tomadas do mais novo candidato a carro raro (fotos: Divulgação/GM)
O site da montadora avisa que o carro foi equipado “com air bags frontais para motorista e passageiro, rodas de alumínio aro 17, transmissão automática inteligente de quatro velocidades, sensor de chuva, freios ABS com EBD (em bom português: freios equipados com sistema antitravamento das rodas integrado com um sistema eletrônico de distribuição de frenagem...), brake light, acabamento em couro, premium sound e antena shark”.  

"Transmissão automática inteligente": será que ela passou por um teste de verificação do QI?
Os bancos têm o logotipo da série. (fotos: GM)
Além disso tudo, o carro vem com um caprichado manual do proprietário, numerado e com capa de couro. Preço: algo perto de 66 mil reais, fora um possível ágio, por tratar-se de um espécime raro em extinção.  Vá lá, o Opala Collectors trazia até um VHS e uma carta assinada pelo presidente da montadora, mas o Vectra tem seus lá alguns atrativos. Afinal, é a ultima versão produzida, os últimos suspiros do quase extinto sedã.

A visão daquele Vectra verde deixou-me um pouco pensativo. Não sei se a melancólica noite chuvosa de terça-feira contribuiu para tanto, mas fiquei pensando: qual seria o paradeiro das últimas unidades de modelos nacionais produzidas? Fiz umas pesquisas e o resultado é o que eu apresento:

Monza: Este interessante GL de chapas CEK-8909 (chassi final  n. 25838), foi último a ser fabricado. De acordo com o site “monzaclub.com”, o exemplar foi cedido ao extinto Museu da ULBRA- e estava com aproximadamente 340 km registrados em seu imaculado hodômetro. Depois do lamentável fim do fantástico museu (ele foi desmantelado por dívidas contraídas com a União), o veículo, de acordo com pesquisa no interessante aplicativo do Sinesp Cidadão, está emplacado na cidade de São Paulo/SP.

O GLS saiu de linha um pouco antes do encerramento da produção; a ideia da fábrica era empobrecer o modelo para facilitar a migração dos consumidores para o Vectra, novidade retumbante de 1996.

Se não me engano, esse Monza recebeu a cor Cinza Holbein Metálico.


Note que este GL, em especial, tem o  painel do modelo GLS, provavelmente uma "sobra da linha de produção".
O último Monza (fotos: monzaclube.com)
Opala: Até pouco tempo atrás eu imaginava que o último Opala era o de chapas CTH-1992 (chassi de n. 07904), que também fez parte do Museu da Ulbra e que, posteriormente, foi devolvido à Chevrolet e posteriormente arrematado. É certo que ele foi o último a sair da fabrica, mas não foi o último efetivamente fabricado.

Porém, Alexandre Badolato, colecionador de automóveis (especialista na linha Dodge, um dos maiores entusiastas e entendedores sobre a fábrica neste Brasil), achou o verdadeiro último Opala e fez a gentileza de nos compartilhar as informações sobre este maravilhoso ICB-4410 (chassi final 08055):
 


Omega: O último fabricado foi este, com acabamento da versão CD e motor 4.1. Assim como o Opala e o Kadett, o Omega recebeu uma chapa especial bastante sugestiva: FIM-1998 (chassi com final 03524). O carro, assim como muitos outros do acervo da GM, estava no Museu da ULBRA e atualmente está emplacado em São Paulo/SP.

A última unidade de um dos melhores automóveis nacionais (foto: fórum Opaleiros do Paraná)
Kadett: Do site do Armazém W70, loja que, na época, vendeu o carro, obtive estas informações:
"Este exemplar foi a última unidade a deixar a linha de montagem da General Motors do Brasil e foi destinada ao Museu GM conforme consta em sua nota fiscal emitida para a própria GM em 14/10/1998. Este veículo ficou exposto junto com o acervo da GM no conhecido Museu da Ulbra, localizado no estado do Rio Grande do Sul. Apesar de ter rodado apenas nas dependências internas da Ulbra o veículo recebeu placas especiais para caracterizar o fim da produção do modelo: END-1998. Trata-se de um modelo GLS com apenas 697,9 Km(...)."
 
Atualmente está emplacado em Lins/SP.


Belíssimo Kadett, talvez o menos rodado do Brasil. (fotos: Armazém W 70)
Alfa Romeo 2300: Havia uma história de que o último 2300 foi montado em 1992 especialmente para Oscar Niemayer. O genial arquiteto teria pedido um Alfa 2300 Ti  zero naquela data, e a FIAT teria montado um zerinho pra ele, não obstante a produção ter se encerrado há mais de quatro anos... Consta que um monobloco virgem foi localizado- e recebeu diversas peças novas de concessionários. A montagem da carroçaria teria sido feita no departamento de protótipos da montadora mineira.

Roberto Nasser, jornalista automotivo, investigou estas informações. A história do Alfa ’92 até tinha razão de ser, mas não foi o que realmente aconteceu. Ocorre que Niemayer ganhou em 1992/93 uma das últimas unidades fabricadas- e não ganhou um Alfa efetivamente novo, 0km. Nasser investigou o caso mais profundamente, e descobriu que o chassis do Alfa de Niemayer era de final 3985, que não foi efetivamente o último produzido.

O site webmotors localizou em 2007 o último 2300 fabricado. Seu chassis tem final 4024, fabricado em 1987 por encomenda do empresário Pedro Grendene. Atualmente o Alfa está no Rio Grande do Sul, impecável e com cerca de 120 mil quilômetros rodados. 




Felizmente o Alfa está muito bem conservado (fotos: site webmotors)
Willys Itamaraty Executivo: O carro é um dos mais raros produzidos no país. Dos 22 fabricados, sabe-se o paradeiro de 19. Segundo o site : ruralwillys.tripod.com/aerowillys, o último a sair da fábrica foi o de nº 14.
Se um Itamaraty é raro de se ver, um Itamaraty Executivo é mais raro ainda... O que dizer, então, do último Executivo produzido pela Willys? (foto: ruralwillys.tripod.com)
Pode parecer estranho o chassis 14 ser o último a ser fabricado, mas ocorre que os autos saiam da fábrica sem que se respeitasse a ordem numérica. Segundo relatos, o Executivo Standard número 14 teria sido o último fabricado antes da venda da Willys e que teria ficado "escondido" na fábrica por alguns anos até ser finalmente vendido a um particular. O último exemplar está nas mãos de um colecionador. E como se vê pela foto, está impecável.

Dodge Dart: O último automóvel da linha Dart foi este cupê 1981, monobloco nº 93.008. Vale lembrar que este carro saiu da mão da Volkswagen Caminhões. A Chrsyler Brasil já havia sido vendida pra montadora alemã.

O colecionador Alexandre Badolato, por volta de 2006, encontrou o carro num estado triste, praticamente semidestruído.

O carro antes de ser submetido ao processo de restauração (foto: Fórum Museu Dodge)
Acontece que o 93.008 participava de shows de exibição automobilística, por isso estava tão judiado. Felizmente, um primoroso processo de restauração devolveu ao último Dart toda sua originalidade. Parece que o cupê saiu da fábrica ontem!



Encontrar Dodge 1981 não é tarefa das mais fáceis. Ver um Dodge preto 1981 (LX-9, na plaqueta de identificação) é tremendamente raro. Como já abordei em outras postagens, em 1981 os Dodges não tinham mercado, venderam muito pouco naquele derradeiro ano. Por isso, este Dart tem um valor histórico muito relevante.
Belíssimo trabalho do Alexandre Badolato na preservação deste Dart! (fotos: Museu Dodge e Fórum Museu Dodge)
Achar informações sobre as últimas unidades produzidas não é tarefa fácil. As fábricas nacionais parecem não se importar muito com sua história- e é difícil mesmo encontrar a última unidade produzida. Se você souber do paradeiro de mais algum dos últimos, entre em contato!

sábado, 2 de julho de 2011

Foto da Semana

Faço questão de publicar esta lindíssima foto deste Impala 1962, extremamente novo. Posso parecer um pouco reacionário ao afirmar, mas não faz mal: não se faz carro como antigamente!

As linhas fluidas deste sedan são muito elegantes- e o carro é muito confortável. É um daqueles autos que têm o "conforto dinâmico". São confortáveis não só por causa do banco ou da forração das portas, mas também por conta do conjunto suspensão/carroceria.

Parece que saiu da fábrica ontem... (Impala exposto no 19º Encontro Sul-Brasileiro de Veículos Antigos)
Esta unidade está equipada com um seis-cilindros, o motor mais básico da linha. Mas não faz mal: Impala é Impala, não importa o motor!

Meyer Veículos

Assim como os escritores e jornalistas, os blogueiros vivem de seus leitores- e  pedido de um leitor é uma ordem! Aproveitando as férias acadêmicas, resolvi passar pela Biblioteca Pública  em busca de informações do concessionário Chrysler da região, Meyer Veículos.

Pilhas e mais pilhas de jornais O Estado (que não existe mais...) foram consultadas. Uma tarde inteira e um par de luvas descartáveis (pra evitar danos ao papel já fragilizado pelo tempo) gastos nesta epopéia. E o resultado é o que segue:

Não consegui descobrir a data precisa em que a Meyer Veículos abriu suas portas- tampouco quando fechou. O escasso tempo não me permitiu uma busca  mais apurada, porém acredito que a revenda abriu suas portas entre 1968/69. Confirmarei a informação posteriormente, mas ao consultar jornais de 1970 em outra oportunidade, verifiquei anúncios da Meyer.

A Meyer Veículos Ltda., fundada pelo Sr. Márcio Meyer, respondia pela venda dos Chrysler na região da Grande Florianópolis. Curiosamente a Meyer não ficava na porção insular de Florianópolis. A revenda foi instalada na parte continental da capital catarinense, na Avenida Fulvio Aducci, 597. Hoje, não há nenhum sinal de que um dia foram vendidos Dodges por lá... Antes, era só discar o (0482) 44-1165, 44-1169, 44-1267 ou 44-2992 e pedir informaçõs sobre seu Dodge zerinho...
  
Vai um carro usado aí? (Jornal O Estado,1976)

A Meyer era bastante versátil em suas vendas, não ficando adstrita aos Mopars nacionais. Produtos náuticos também eram negociados pela revenda. Pode parecer até estranho pensar num "Nautical Shop" numa revenda Chrysler (e é estranho mesmo!), porém devemos ter em mente que Florianópolis é um município litorâneo, inclusive com a sua porção insular.

Lanchas e Dodges eram vendidos pela Meyer (Jornal O Estado, 02/12/1976)

Em 1979, a Meyer criou o Consórcio Dodge- Polara. Como se vê, muitos felizes proprietários foram contemplados com seu Dodginho, como se vê na matéria abaixo:
Jornal O Estado, 1979.
Abaixo, outros anúncios da revenda:
Jornal O Estado, 12/1978.

Jornal O Estado, 12/1976.
Juntamente com a Meyer, as demais revendas em Florianópolis eram a Distribuidora de Produtos Nacionais Ltda - Dipronal e Florisa (Ford); Amauri Veículos e Koesa (VW); Phipasa (Fiat); Hoepcke Veículos (Chevrolet); J Vieira e Silva (Toyota); Gelcar (Gurgel); DVA (Mercedes-Benz); Rodomar (Caminhões Fiat). Destas, só a DVA e a Phipasa ainda existem...

PS: Se alguém tiver informações sobre a revenda, por favor entre em contato comigo (douglasantunespacheco@gmail.com).