Semana passada falamos sobre o Voyage Super e do quão interessante à época - e ainda hoje - ele foi; e ao terminar o texto o primeiro carro que me surgiu na memória foi um que jamais tivemos, não do jeito em que nos foi mostrado: o Santana Tecno.
Concebido para ser um veículo conceito para ser exibido orgulhosamente pela Volkswagen em salões do automóvel - aqueles carros tecnológicos que as montadoras fazem pra testar a receptividade do público, mostrar seu máximo potencial e deixar os entusiastas com mais um item na lista de desejos quase que irrealizáveis -, o Tecno era muito mais refinado do que o Santana padrão de produção. E olhe que o sedã da marca, lançado naquele já distante ano de 1984, não poderia ser considerado um veículo ultrapassado...
Acontece que o Santana Tecno estava muito próximo daquilo que a Europa considerava moderno (e por aqui era algo ultramoderno...), como o propulsor 1,8 com quatro válvulas para cada um dos quatro cilindros, injeção eletrônica de combustível, tração nas quatro rodas permanente, painel eletrônico e cheio de informações, interior de couro e bancos Recaro com múltiplas regulagens de época, ar-condicionado, som estereofônico, televisor em cores, videocassete, telefone... Hoje você da Geração Z pode até nem saber bem o que é um videocassete, mas garanto que tudo isso era muito, muito moderno!
Imaginem, então, o orgulho da fábrica ao exibir essa maravilhosa versão do Santana no XIII Salão do Automóvel, seguramente deve ter sido uma tremenda fonte de torcicolos, sorrisos bobos e sonhos infindos para quem curtia automóvel (e mesmo para quem não entendia nada do assunto), destaque este feito no estande da marca, em imagem publicada na edição n. 54 da nossa querida Motor-3:
Notem que a VWB se preocupou em erguer o Tecno para exibir, por meio de espelhos, o interessante sistema de tração integral em todas as rodas, algo que jamais teríamos, a não ser em sonhos e neste protótipo dos mais interessantes. Gostamos do Fusca, até já tivemos um Sedã 1300-L 1977 que deixou saudades, mas é muito curioso o contraste entre a tecnologia já veterana do Besouro em comparação às possibilidades que um Santana Tecno poderia oferecer ao público, caso fosse vendido aqui.
E o orgulho não era só o de mostrar ao vivo o protótipo, mas também em produzir um catálogo bem completo sobre a novidade, para que o entusiasta pudesse levar pra casa e sonhar muito com a ficha técnica da novidade, brochura esta bastante escassa e que temos o prazer de apresentar a sua íntegra, graças à louvável inciativa da Anfavea, a quem sempre agradeceremos penhorados:
Alguém deve ter se perguntado se esse dream car poderia andar por seus próprios meios. E não ache isso estranho, pois, não raro, as montadoras providenciam modelos estáticos para exibir um desenho mais moderno ou testar a habitabilidade do interior, sem maiores preocupações com o movimento. Mas o Tecno andava, e muito bem, como o saudoso José Luiz Vieira nos contou para a edição n. 55 (janeiro de 1985) da revista Motor-3, cuja reportagem também temos o prazer de mostrar:
Não sei exatamente o motivo pelo qual alguém se preocupou em instalar uma calculadora científica no console traseiro do Tecno; fora isso (e não digo isso apenas por ter uma incurável alergia aos cálculos, jamais curada), esse é o único item dispensável nesse interessante modelo. Pois, de resto, teria fácil um desses na garagem para curtir em dias de sol e chuva, com aquele sorriso besta no rosto de quem curte bastante um carro assim tão especial.
Ai você me pergunta, com justa razão: aonde foi parar esse Tecno? Muito possivelmente - e muito, muito infelizmente - deve ter sido desmontado pela fábrica após o seu uso. Uma pena, pois um carro desses fez história naquele salão do automóvel, naquele já distante dezembro de 1984...
Poderia disponibilizar as fotos sem marca d'água?
ResponderExcluirEm postagem anterior expliquei o uso da marca d´água, medida que não me agrada, mas que infelizmente se tornou necessária. Grato pela visita!
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