segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Vamos equipar seu carro? (1980)

Recentemente, enquanto conversava com meu primo, lembramos de como os automóveis (e as coisas, de um modo geral) eram caras e difíceis de se comprar. Meu avô, apesar de ter sido motorista a vida toda, teve seu primeiro carro apenas na década de 1990, um Voyage 1983 reformado e remodelado para o modelo 1993 (e tão bem remodelado e novo que eu pensei que era zero-quilômetro!). Meu tio teve de suar muito e muito para comprar um Chevette Hatch e meu pai trabalhou pacas para comprar uma Brasília velha, roubada em 1992 e somente reposta em 2001, substituída por uma Elba CSL que dia desses comentei aqui.
 
Coincidentemente, eu tropecei neste anúncio, o que enfeita esta postagem, na verdade um convite para incrementar seu possante. Note que itens como ar-condicionado, vidros elétricos e alarme antifurto não eram comuns (o Landau, luxuoso que só, morreu em 1983 sem ter os dois últimos acessórios citados) e ai o dono tinha de se virar com um alentado carnê (ou o inflacionado dinheiro sobre o colchão) para equipar, aos poucos, o possante. As coisas eram caras!



Um toca-fitas TKR faz sucesso até hoje. Era objeto de consumo de muita gente que procurava um bom som para equipar o seu carango, mas não era lá muito barato: atualizado, pelo índice IGP-DI (da Fundação Getúlio Vargas) e por meio da calculadora do cidadão disponível no site do Banco Central, o interessante aparelho de Cr$ 6.222,00 (seis mil e duzentos e vinte e dois cruzeiros) representa atuais R$ 1.930,42 (mil e novecentos e trinta reais e quarenta e dois centavos). Isso ajuda a explicar o reduzido número de TKR que via na infância...
 
Se você não pretendesse ouvir fitas cassetes, uma boa opção seria um rádio OM-FM da Motorádio, a exemplo do famoso modelo ARS-M31 que aparece no anúncio (apesar de não identificado), equipamento original da Chrysler e da Chevrolet nos anos 1970 que custaria a você a bagatela de Cr$ 4.666,00 (quatro mil e seiscentos e sessenta e seis cruzeiros), equivalente a atuais R$ 1.447,66 (mil e quatrocentos e quarenta e sete reais e sessenta e seis centavos). Com essa quantia, você, hoje, compraria vários rádios importados da China...
 
Quem compra rádio precisa de alto-falantes, certo? E se fosse o caso de usar os do anúncio, você pagaria Cr$ 555,00 (quinhentos e cinquenta e cinco cruzeiros) pela unidade de 50w - atuais R$ 172,19 (cento e setenta e dois reais e dezenove centavos) - e Cr$ 488,00 (quatrocentos e oitenta e oito cruzeiros) pela unidade com 10w a menos, algo como R$ 151,41 (cento e cinquenta e um reais e quarenta e um centavos). Há anos que não compro um alto-falante, mas me pareceu que é um tanto quanto salgado se comparado a hoje, né?
 
Caso o seu problema fosse buzina, o tonitruante modelo Unus 3, com três cornetas que emitem notas diferentes daria conta do recado, mas custaria a você Cr$ 3.777,00 (três mil e setecentos e setenta e sete cruzeiros), atuais R$ 1.171,84 (mil e cento e setenta e um reais e oitenta e quatro centavos). Custava caro atormentar os vizinhos e demais circunstantes no trânsito, ainda bem!
 
Mais barato era limpar as migalhas que seus passageiros deixam no seu veículo equipado: um aspirador de pó Nice, com motor Mitsubishi de potência não declarada, a ser alimentado pelo acendedor de cigarros do painel (sim, crianças, esse negócio de tomada 12V é recente), custava a você exatos Cr$ 433,00 (quatrocentos e trinta e três cruzeiros), algo como R$ 134,34 (cento e trinta e quatro reais e trinta e quatro centavos). Os espelhos panorâmicos para vigiar o trânsito e as crianças custavam, respectivamente, Cr$ 79,00 (setenta e nove cruzeiros, atuais R$ 24,51) e Cr$ 99,00 (noventa e nove cruzeiros, algo como R$ 30,72).

Deixo a vocês as conclusões desse rápido estudo. De minha parte, fica a impressão de que era caro ter e equipar um carro no passado, tanto que meu avô demorou um ano ou dois para instalar um rádio no Chevette DL 1992 que ele teve, um Bosch modelo LD-243...