Dia desses tive de ir ao bairro onde nasci (e que não é longe de meu atual lar), e naquela tarde fria, de sol pálido e quase nenhuma nuvem no céu, tive a iniciativa de revisitar algumas ruas que muito percorri, inclusive aquela onde por primeiro morei na vida. Naqueles tempos, bem, nem todos os vizinhos tinham carro (isso era coisa que custava caro; para o meu pai, o telefone era mais necessário do que um automotor,) e um deles, cujo nome já se perdeu na memória, tinha um Escort L das primeiras safras.
Alguns dos entusiastas do Escort definem as versões como MK3, MK4 e por ai vai (num padrão que veio da Europa, alias); de minha parte, porém, a primeira geração é aquela com o desenho do lançamento até a primeira grande alteração de estilo de 1987 - e era um destes, dourado, que meu vizinho tinha. Já bem apodrecido, é verdade, mas ainda muito bom de mecânica. Anos mais tarde, um conhecido nosso teve um verde, bem mais judiado, movido a álcool e que quando se lavava entrava mais água dentro do que fora. Deste lembro apenas das iniciais da chapa de três letras - JKU - e não o vejo este Escort desde 2003/2004, deve ter sido desmanchado, infelizmente.
Curioso que eu via muito mais Corcel II na rua do que os Escort de primeira geração, mas, por algum motivo que a razão não explica, as primeiras safras do Escort são as minhas preferidas, talvez pelo fato de aos meus olhos ser mais raro, mais bonito e mais interessante, inclusive o painel e a buzina que era acionada por alavanca (coisa que o Uno Mille que hoje temos também contava, aliás).
Porém, um fato que me escapou na época é que a Ford vendia o Escort nas versões standard, L, GL, Ghia e XR-3 - a mais básica e a mais luxuosa as mais difíceis de ver, a L a que mais via. E isso sem falar nos Escort de cinco portas, que somente fui descobrir quando passei a procurar sobre automóveis na internet, isso coisa de duas décadas atrás...
A versão standard, inclusive, vendeu muito pouco e tem o interessante detalhe de ter um painel de instrumentos com desenho único (e com mais instrumentos que o meu Mille 1993, diga-se de passagem), além de contar com o interessante motor CHT 1300, este um verdadeiro faquir, sobretudo se acoplado a uma transmissão de cinco marchas.
Duvida? Então leia a avaliação que a turma da Motor-3 (com texto de José Luiz Vieira e fotos de Alex Soletto) fez para a edição n. 47 (março de 1984), cuja íntegra fazemos questão de apresentar:
Você não leu errado: bem regulado e guiado com certa calma, em constantes 80km/h, o Escort básico a gasolina, equipado com câmbio de cinco velocidades, pode fazer 20km com um litro de combustível, isso sem grandes sacrifícios de performance. Ai eu volto pra minha garagem e olho pro meu Uno - que gosto pra caramba - e lembro do carburador que está a carecer de urgente limpeza e regulagem (até a marcha lenta está péssima, a despeito do banho de Car80 que providenciei). Nem com tudo certo ele chegaria nesta marca, não perto de 80 por hora.
Ai eu volto pra casa, coço os cabelos sempre bagunçados e me ponho a pensar: bem que eu queria ter um Escort desses. Perderia em curvas, claro, além de agilidade; mas o consumo é dos mais desejáveis...