sábado, 1 de outubro de 2022

Avaliação da semana: Ford Escort (1984)

Dia desses tive de ir ao bairro onde nasci (e que não é longe de meu atual lar), e naquela tarde fria, de sol pálido e quase nenhuma nuvem no céu, tive a iniciativa de revisitar algumas ruas que muito percorri, inclusive aquela onde por primeiro morei na vida. Naqueles tempos, bem, nem todos os vizinhos tinham carro (isso era coisa que custava caro; para o meu pai, o telefone era mais necessário do que um automotor,) e um deles, cujo nome já se perdeu na memória, tinha um Escort L das primeiras safras.

Alguns dos entusiastas do Escort definem as versões como MK3, MK4 e por ai vai (num padrão que veio da Europa, alias); de minha parte, porém, a primeira geração é aquela com o desenho do lançamento até a primeira grande alteração de estilo de 1987 - e era um destes, dourado, que meu vizinho tinha. Já bem apodrecido, é verdade, mas ainda muito bom de mecânica. Anos mais tarde, um conhecido nosso teve um verde, bem mais judiado, movido a álcool e que quando se lavava entrava mais água dentro do que fora. Deste lembro apenas das iniciais da chapa de três letras - JKU - e não o vejo este Escort desde 2003/2004, deve ter sido desmanchado, infelizmente.

Curioso que eu via muito mais Corcel II na rua do que os Escort de primeira geração, mas, por algum motivo que a razão não explica, as primeiras safras do Escort são as minhas preferidas, talvez pelo fato de aos meus olhos ser mais raro, mais bonito e mais interessante, inclusive o painel e a buzina que era acionada por alavanca (coisa que o Uno Mille que hoje temos também contava, aliás).

Porém, um fato que me escapou na época é que a Ford vendia o Escort nas versões standard, L, GL, Ghia e XR-3 - a mais básica e a mais luxuosa as mais difíceis de ver, a L a que mais via. E isso sem falar nos Escort de cinco portas, que somente fui descobrir quando passei a procurar sobre automóveis na internet, isso coisa de duas décadas atrás...

A versão standard, inclusive, vendeu muito pouco e tem o interessante detalhe de ter um painel de instrumentos com desenho único (e com mais instrumentos que o meu Mille 1993, diga-se de passagem), além de contar com o interessante motor CHT 1300, este um verdadeiro faquir, sobretudo se acoplado a uma transmissão de cinco marchas. 

Duvida? Então leia a avaliação que a turma da Motor-3 (com texto de José Luiz Vieira e fotos de Alex Soletto) fez para a edição n. 47 (março de 1984), cuja íntegra fazemos questão de apresentar:





Você não leu errado: bem regulado e guiado com certa calma, em constantes 80km/h, o Escort básico a gasolina, equipado com câmbio de cinco velocidades, pode fazer 20km com um litro de combustível, isso sem grandes sacrifícios de performance. Ai eu volto pra minha garagem e olho pro meu Uno - que gosto pra caramba - e lembro do carburador que está a carecer de urgente limpeza e regulagem (até a marcha lenta está péssima, a despeito do banho de Car80 que providenciei). Nem com tudo certo ele chegaria nesta marca, não perto de 80 por hora.

Ai eu volto pra casa, coço os cabelos sempre bagunçados e me ponho a pensar: bem que eu queria ter um Escort desses. Perderia em curvas, claro, além de agilidade; mas o consumo é dos mais desejáveis...

8 comentários:

  1. Ainda se vê um ou outro Escort dessa época, a maioria até íntegro no tocante à estrutura mas já com algumas descaracterizações na parte de acabamentos.

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    1. Por aqui andou um Escort GL inteiro pra caramba, entortava pescoços; um dia foi anunciado por mais de quinze mil mangos e sumiu, uma pena. Era o mais bonito da região...

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  2. Espetacular matéria... queria muito ver uma dessas, já que andei muito quando criança e adolescente num Escort 1.3 alcool vermelho. E é praticamente impossível achar um desses hoje, com esse painel diferente dos outros e esse acabamento top que tinha. Que saudades!!!! E se eu achasse um hoje, compraria com o maior prazer.

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    1. Para o ano de 1984, o vermelho do XR-3 era o sunburst e o dos demais modelos o carinal (mais escuro), é uma cor que cai muito bem, além do azul cerâmico que aparece no carro do teste acima. Eu gosto bastante dessa linha, o 1,3 é bastante valente e de manutenção pouco complicada, fora a qualidade dos materiais de acabamento, sempre ótima.

      Fico feliz de poder despertar essas lembranças e digo o mesmo, se achasse um desses hoje (e tivesse como comprar e guardar), teria fácil.

      Grato pela visita e volte sempre, grande abraço!

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  3. Por experiência própria, como resultado da crise brasileira nos 2010s, meu tio teve um Escort GL 1988. Foram uns anos bem árduos com aquela banheirinha de motor CHT 1.6 que tinha torque de sobra. Aquela "trava" elétrica central, quando pifava com o carro em movimento, era um perigo. Na verdade, é sempre um trunfo na manga de qualquer carro pequeno sobre os grandes - ter um motor maior e curtir a relação peso/potência assustar o dono da barca maior.

    Lembro que ele esquentava muito a bobina e o carburador era bem problemático. Ir no banco traseiro e ficar enclausurado só com um vidro basculante? Pior experiência de vida. Coisas de carro velho mesmo, jogue fora o romantismo da palavra "antigo". O carro antigo sempre será um carro velho e problemático. Quando as coisas estabilizaram, ele pode comprar um Fiat Siena 2005 do qual só podemos agradecer por ser um excelente carro diário. Duvido um Dodge aguentar as pancadas que aquele "carrinho" leva. Qualquer pessoa que deseje ter um carro velho não sabe onde estará se metendo. Aproveite os novos, eles duram pra sempre e raramente dão defeito. Cavalos de batalha, como diriam os generais do século XIX.

    Meu vizinho, que já é casado e com 1 filho, é um rapaz pobre e acabou abandonando um Escort europeu perto da casa dele. Um Escort que, se conservado como novo, dobraria alguns rostos na rua. Mas... é preciso viver a realidade. O carro dele já virou patrimônio histórico do bairro e fui eu que deu esse gentil apelido. Já pingou cimento de obra na pintura, já tentaram forçar a porta para roubar algo do interior e está recheado de gambiarras, documentação atrasada...

    Enfim, não caia no romantismo da palavra "antigo". Por experiência própria.

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    1. Seu relato é um interessante contraponto e eu o endosso. Meu carro de uso é um Mille 1993/1994 que adquiri em uma circunstância de aperto financeiro; foi uma solução de emergência e que me custou algumas dores de cabeça. Apesar de muito íntegro e original, ficou muito tempo parado e como todo carro que acorda de um longo sono de descanso depois de bons anos de luta, algumas peças enguiçaram, como a bomba de gasolina, bucha do trambulador, bornes de bateria - estas que me deixaram na rua à pé.

      A do trambulador, especificamente, foi bastante traumática: sob um inclemente temporal, tive de deitar no paralelepípedo para desentalar a vareta do trambulador que ficou cravada nas frestas das pedras que calçavam a rua em pleno 31/12. Hoje eu rio disso; no dia fiquei muito furioso e não fosse a chuva, poderia ter ateado fogo no Mille...

      O carro velho tem limitações inerentes ao projeto, ao desgaste das peças e a própria vida útil; meu Mille, para o meu uso pouco severo, garagem coberta, com viagens esporádicas com até três pessoas, é bastante aceitável e a família já sabe dessa minha terrível mania de automóveis antigos, então eles toleram isso com altas doses de paciência. Se eu tivesse filhos ou se o meu deslocamento fosse maior, o brioso Mille deixaria de ser uma opção.

      Estou com o velho Mille desde 2019 e já rodei com ele mais de trinta mil quilômetros; depois de um certo investimento em manutenção (ou seria desperdício?) o carro está com alta confiabilidade. Aos 214k, o Fiasa gira alto e com excelente compressão, até porque nesta semana ele saiu da oficina após uma boa regulagem e limpeza da carburação e troca de velas, gira alegre e livre como deveria ser.

      Meu carro é uma exceção, isso é um fato, mas eu endosso o seu comentário: se você quer um carro antigo porque precisa, que seja breve e vá com cautela e atenção às inevitáveis panes; se você quer um carro velho porque gosta disso, vai ter de ter paciência. O ideal é um carro moderno, sem dúvida, mas eu tô contente com meu Mille, sinto falta de um ar-condicionado, esse realmente faz MUITA falta...

      Agradeço os seus comentários e esse interessante contraponto, válido e muito pertinente.

      Abraço!

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  4. Grande José Luiz Vieira e sua inesquecível MOTOR 3!

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    1. Aqui sempre estamos a recordar da turma da M-3 e do saudoso JLV, volte sempre e confira as outras postagens.
      Grato pela visita!

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