domingo, 27 de novembro de 2022

Catálogo da semana: Linha Chevette 1983

Como já é praxe em nossa indústria nacional, os modelos do ano seguinte são lançados no atual; exemplo disso foi a primeira grande e impactante reestilização da linha Chevette para o ano de 1983 que veio ao mercado no segundo semestre de 1982. Há quarenta anos, portanto, no mesmo ano em que a fábrica trouxe o Monza - moderno de fio a pavio -, nascia a primeira grande alteração de estilo dos compactos Chevette Sedã, Chevette Hatch e a Marajó. E a mudança veio em bora hora, pois o Uno, lançado em 1984, envelheceu rapidamente os seus concorrentes...

A respeito da atualização de estilo, pessoalmente até me agradou bastante, especialmente por ter apresentado uma necessária lufada de renovação para uma linha com desenho básico de praticamente uma década, isso se a gente esquecer da terrível inclusão dos quebra-ventos, algo que o mercado exigia. Exceção feita à traseira do Hatch, que perdeu a suavidade que tanto me agrada das versões 1980/1982, o Sedã e a Marajó ficaram bons. E venderam muito.

Já falamos aqui com bastante detalhes sobre a linha 1983, mas o que faltou antes foi o belíssimo catálogo que a Chevrolet orgulhosamente produziu para os interessados em se inteirar melhor sobre as novidades interessantes para o ano de 1983, cuja íntegra foi disponibilizada pela Anfavea, a quem sempre muito agradecemos a gentileza de divulgar tantos materiais históricos:













Naquele ano de 1983, a Chevrolet vendeu exatas 85.984 unidades do Chevette, número muito expressivo e que indica claramente a boa aceitação das novidades. Eu mesmo, se estivesse lá naquele ano de 1983, encomendaria no concessionário Hopecke um Chevette SL quatro portas dourado metálico com interior bege e daria um jeito de incluir o ar-condicionado e um bom toca-fitas no pacote de opções, pra andar tranquilo e ainda economizar algum combustível. 

sábado, 12 de novembro de 2022

Catálogo da Semana: Ford Belina L (1979)

Corria o ano de 2019 e eu imaginava, muito ingenuamente, que seria uma boa ideia ter um carro antigo para fazer par ao meu então Fiesta Sedã já com oito anos de uso; então, comecei a vasculhar os anúncios com o intuito de encontrar algo minimamente decente que estivesse dentro do meu apertado orçamento. 

Não era uma tarefa fácil, apesar de que naqueles tempos não se vivia uma "inflação antigomobilista" tão aguda quanto hoje: era possível encontrar alguns carros bem interessantes por preços razoáveis, embora alguns, sobretudo as Kombi produzidas até a reestilização de 1976, já contassem com preços que alcançavam a troposfera.

Naqueles tempos eu costumava viajar muito a Joinville, cidade distante a exatos 176km de onde moro. Lá vivia a minha namorada (quase noiva) e por isto as minhas viagens pela BR-101 eram frequentes, não costumava medir sacrifícios para vê-la. Mas, enfim, isto é um blog sobre automóveis e não um compêndio de histórias pessoais minhas; do que nos interessa, lembro que eu acompanhava os classificados daquela cidade e numa dessas eu achei uma Belina 1979 com um preço bem razoável. 

Quando digo razoável, menciono quatro mil reais - os quatro mil reais de 2019, sem inflação - e era um preço bastante atraente para o carro: não era impecável, mas ainda mantinha boa parte da pintura prata régia metálica original de fábrica (só um tanto arranhada), sem podres. Acabamentos internos originais (mesmo os bancos ainda mantinham o tecido de 1979, apesar de um tanto encardidos), faltava apenas um friso externo, os pneus estavam muito ressecados e velhos e o porta-malas estava muito arranhado. No capô morava um motor 1600 movido a gasolina, bateria nova e algumas pequenas peças trocadas, como velas e seus respectivos cabos. Tudo estava muito limpo. Até demais.

Pedi para o vendedor - a Belina estava numa loja de usados - e ele prontamente aceitou a proposta para dar uma volta nela. O combinado seria que a gente daria um pequeno passeio no entorno da loja, ele levaria até uma rua mais calma - e sem saída - e na volta eu traria a Belina. Depois de tirar uns dois carros do caminho (a Belina estava num canto bastante inacessível), nela embarquei e desde logo pude sentir que o molejo do banco era bastante macio e original. Os bancos da Ford daquela época são únicos, é uma sensação diferente dos atuais, parecem menos firmes, mas confortáveis.

O vendedor embarcou, atamos os cintos pélvicos (originais, encardidos, mas funcionando) e ele logo deu a partida: num estalo o CHT acordou pra vida e a não ser leves falhas na carburação em baixa, tudo em ordem. Engrenada a primeira das quatro marchas (e com a alavanca original), saímos. Percebi que a suspensão acusava um certo cansaço, mas ainda estávamos navegando maciamente com a Belina, aquela barquinha prateada ronronando alegremente. Liguei a ventilação forçada e ela funcionou (não sem espirrar em nós uns dois ou três quilos de poeira), e quando eu ia abrir o quebra vento o motor morreu. 

A partida foi acionada várias vezes, sem sucesso. Já estávamos quase no final da rua e percebemos - o vendedor e eu - que a Belina não ia funcionar de jeito algum: faltava gasolina e o marcador não indicou a secura no tanque... Com o maior dos sorrisos amarelos, o vendedor me pediu ajuda pra empurrar a desfalecida perua e pude perceber o quão pesada ela é (e foi um exercício de mais de 600 metros, na medida para diminuir a minha barriga, sempre saliente). Quando o dono da loja viu a dupla de esbaforidos empurrando a Belina, ele próprio veio ajudar e deu ordem para os dois outros funcionários se encarregassem do transporte para que o cliente não suasse mais (não fosse isso impossível).

Fingi estar bravo (estava era rindo por dentro do insólito) e o dono foi muito franco: disse que o marcador estava quebrado (isso era fácil de perceber) e contou que a Belina veio numa troca e não foi lá um ótimo negócio, pois o motor logo enguiçou e teve de passar por uma reforma. É que uma bronzina teria "virado" e se fez um conserto não muito extenso, apenas suficiente para ela voltar a rodar (mexeu até no virabrequim e trocou as camisas e pistões). Mas ainda tinha falhas na ignição e outros detalhes que o mecânico que eles contrataram não fez.

Aí eu fiz um cálculo rápido: além de certamente ter de revisar o motor a sério (e era provável que ele teria de ser novamente desmontado para saber realmente mensurar o trabalho de reforma e checar se o bloco realmente ainda estaria bom, além do virabrequim e bielas), trocar os cinco pneus, os amortecedores traseiros e dar um carinho na pintura, a conta sairia muito além do que eu poderia arcar... Declinei da proposta, agradeci e fui embora. Mas nunca esqueci daquela Belina tão pesada de empurrar...

Três anos depois, já não vou mais em Joinville (c'est la vie) e já tenho meu antigo como carro de uso diário e frequente. Mas a Anfavea - a quem sempre muito agradecemos - teve a enorme gentileza de divulgar seu rico acervo de prospectos e outros materiais, e dentre eles o catálogo que a Ford fez para vender o modelo L da Belina, e tratou de estampar a foto de uma igual àquela por mim empurrada:



Claro, tomei uma decisão lógica em não comprar aquela simpática e desfalecida Belina prateada. Não me arrependo; porém, nessas horas a gente inevitavelmente pensa como a vida seria se a gente tivesse tomado outro caminho - e talvez eu seria o único cara do bairro (talvez do Município) a ainda ter, até hoje, uma Belina para dar seus passeios e para enfrentar a sua rotina. Quem sabe um dia dá certo de ter uma destas...

sábado, 5 de novembro de 2022

Teste da semana: Chevette Hatch (1979)

Nós já falamos em oportunidades anteriores sobre o lançamento da versão hatch do Chevette; aqui o pessoal costuma chamá-lo de codorna, graças ao desenho da traseira guardar certa semelhança com aquela simpática ave galiforme pertencente ao gênero Coturnix. Não lembro de ver muitos deles na infância, a não ser um inesquecível S/R cujo dono vendia iogurte e sorvete no já distante verão de 1995 e outro bege, das primeiras safras, bastante inteiro e que o proprietário usava para pescar em rios próximos. 

A diferença mais óbvia entre a versão hatch é a traseira truncada e o fato de a tampa de trás se abrir junto do vidro (do que resulta no termo "três portas", não muito adequado porque usualmente não se entra pelo carro pelo bagageiro), mas para o novo desenho até o tanque de combustível teve de se mudar para baixo do assoalho, além de outras modificações pontuais e bem importantes.

Não se trata de um carro muito espaçoso (o Uno nada de braçada nesse quesito), mas era valente, ágil e conservava as virtudes (e defeitos) gerais da linha sedã/cupê, como podemos ler da primorosa avaliação que o Paulo Celso Facin - o PCF da nossa querida Motor-3 - feita para edição n. 182 da revista Auto Esporte (edição de dezembro de 1979), com imagens de Saulo Mazzoni:




Reconheço que a digitalização não ficou muito boa (a lombada da revista estava muito presa à borda esquerda da página e não queria estragar a encadernação), mas os amáveis leitores certamente perdoarão esta limitação.



Pessoalmente, a versão sedã é mais adequada ao uso que geralmente faço do automóvel (pois preciso de porta-malas mais amplo); porém, sempre achei muito interessante o desenho dos hatch de primeira geração (1980-1982) e se pudesse, certamente teria um. S/R, de preferência.