sábado, 28 de outubro de 2023

Catálogo da Semana: Mercedes-Benz OH-1520 (1988)

Sempre fui muito atento aos automotores (não só a eles, mas aqui trato deles), então tudo o que movesse por seus próprios meios despertava interesse; se fosse um veículo menos usual, com características que fugiam ao comum, certamente ficaria com as antenas ligadas nele. Foi o que me ocorreu quando vi um Marcopolo Torino da então empresa Paulotur.

Um tio paterno foi motorista desta empresa nos anos 1990 (e foi o auge da empresa); lembro-me de em mais de uma vez viajar num dos coletivos dela, alguns de porte alentado, outros de turismo. A viagem de Florianópolis até Garopaba (onde a família do meu pai morava, ainda mora) era não maior do que 72km, mas, nos meus tempos de infância, percorria-se longo trecho na desafiadora BR-101 de pista simples, subindo e descendo o Morro dos Cavalos, experiência inesquecível pela impressionante quantidade de acidentes, desmoronamentos e outros problemas. 

Nunca tive medo de estrada - não digo isso por me gabar, mas por não ter mesmo -, então desde moleque eu dava um jeito de ir o mais perto do motorista possível, no banco da frente do coletivo, para ver a estrada emoldurada sobre o amplo para-brisas e o trabalho do condutor, árduo naquelas épocas. O tempo passou, fiz o trajeto várias vezes e me faltou um ônibus daquele tempo que eu gostaria de andar: o 1701:

A pintura original mantinha os dizeres Paulo Lopes nas laterais, é o nome da cidade que inspirou o nome Paulotur (foto de Vitor Dias, via Ônibus Brasil)

Talvez pra quase todo mundo isso seria um fato irrelevante, algo desimportante e até trivial. Eu o vi muitas vezes a fazer as linhas da empresa (a mais distante era a Floripa-Garopaba). De longe ouvia o motor OM-355/5 empurrando o coletivo, o som era até melódico. Não um urro como os dos Scania de então, mas era respeitável. Os 187cv aos 2.200 rpm faziam dele um coletivo com feições urbanas com apreciável potência, necessária para transportar os 54 passageiros que ele comportava.

Sim, era um coletivo de feições urbanas (afinal de contas, era o mesmo Marcopolo Torino que via aos montes), mas o interior dele não era ruim, não: contava com poltronas do tipo rodoviário, envolvidas em courvin marrom a combinar com as cortinas da mesma cor. Eram os anos 90...

Não posso garantir que o espaço para as pernas era bom, mas o veículo era interessante (não mais tinha as cortinas marrom naquela época) e o melhor lugar era acima do motor. (foto de Diogo de Carvalho Silva, via Ônibus Brasil)


O motorista tinha um painel de instrumentos até que bem informativo: não era mais aquela pobreza dos LPO-1113, ao menos já contava com um conta-giros, ideal para fazer bom uso da máquina (e no tempo o pessoal não andava devagar) e até garantir certa economia. A direção já contava com assistência hidráulica, felizmente.

O veículo era bem cuidado e o painel de instrumentos estava bem íntegro. Notem que o volante de fino baquelite está de ponta-cabeça, mas não a estrela da Mercedes (era muito comum que o símbolo de três pontas fosse girado de cabeça pra baixo). Foto de Artur Velter Medeiros, via Ônibus Brasil

O 1701 até me escapou algumas vezes. Em mais de uma oportunidade eu o esperei para rodar, nem que fosse um trecho curto, mas o bico era ensaboado, até arisco: só de pensar em passear, ele refugava, fugia ou era escalado pra outra linha qualquer. O ideal seria andar nele fazendo a Garopaba-Florianópolis sentado sob o motor, para aproveitar o vento fluindo das janelas abertas, sem abafar o ronco do propulsor e sentindo melhor as amplitudes dos movimentos da suspensão, que não era pneumática.

Setenta e dois quilômetros de diversão! (foto de Diego Almeida Araújo, via Ônibus Brasil)

Ao contrário do que se poderia supor, o OH-1520 rodou vários anos: o chassi foi fabricado em 1991 (já como modelo 1992, a carroçaria certamente no início de 1992) e permaneceu em uso até meados de 2016, se não me engano. Lembro que ele ficou desativado na garagem uns tempos, mas a empresa não estava lá em seus melhores tempos e bastou lavar e abastecer para o brioso 1701 retornar à ativa, presença não rara na rodoviária da capital catarinense:

Geralmente ele ficava estacionado na área de armazenamento da rodoviária, esperando a nova partida (foto de Leonardo da Silva, via Ônibus Brasil)

Quando falo que a empresa estava em momentos duros, não exagero: em 20/07/2017 a empresa perdeu a concessão de todas as suas doze linhas em razão de seus múltiplos problemas e dívidas. A frota já bem envelhecida acabou virando sucata, alguns poucos ainda rodam por ai. E o 1701 foi desmanchado nesse melancólico fim, terminou seus dias em um ferro velho... E acreditem, ele estava muito bem cuidado, original e com o interior ainda como era em 1992. Com o OH-1520, foi-se a oportunidade de andar num ônibus que eu nunca consegui...

Bom, as minhas histórias são irrelevantes e o(a) amável leitor(a) bem poderia ser poupado delas. Aqui serve, apenas, de contexto para explicar a vocês as lembranças que me ocorreram quando encontrei esse catálogo do chassis Mercedes-Benz OH-1520, do ano de 1988 (mas igual ao 1701) no rico e valioso acervo da Anfavea, a quem sempre agradecemos a gentileza de digitalizá-lo:





E se você, assim como eu, é interessado por esses veículos interessantes, aguarde os próximos capítulos, sempre tem um bom tema pra gente prosear.

sábado, 21 de outubro de 2023

Propaganda da semana: Linha Charger (1973)

Não é nenhuma novidade dizer a vocês que os veículos do ano seguinte geralmente são lançados de modo antecipado; exemplo muito recorrente é o Monza 1986 que a Chevrolet lançou na metade de 1985 com muitas mudanças positivas, algo que certamente irritou vários compradores de um carro novinho e já um tanto desvalorizado...

Mas o pessoal da Chrysler, ao menos para o ano de 1973, não chegou assim tão cedo. Basta a gente ver o anúncio que abaixo apresento (cortesia da Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina e o seu ótimo trabalho de digitalização da vasta hemeroteca), publicado na edição de 08/12/1972, já véspera de 1973, a pedido do concessionário da região, a Meyer Veículos:


A linha 1973 trouxe novidades estéticas, principalmente em questão de faixas e a frente com esse par de grades individuais a esconder dois pares de faróis (note que o Charger tem o logotipo 'Dodge' acima do capô, em vez do R/T ao lado). Se pudesse, ah se pudesse, pediria um R/T equipado com ar condicionado pra andar confortável e um tanto rápido nas estradas daquele já distante ano de 1973...