sábado, 31 de julho de 2021

Uma nova era

Comecei este espaço lá em 2010, como forma de passar o tempo, sem pretensões. E fiquei surpreso que mesmo uma década após o início dessa caminhada vocês ainda têm interesse nos materiais e nas informações que apresento aqui ao menos uma vez por semana.

Nessa década, fiz bons amigos e aprendi muito mais do que eventualmente repassei. Tudo valeu a pena, sobretudo porque mesmo de forma muito tímida, contribui um pouco para a preservação da história dos automotores. Desde sempre ocupei grande parte das minhas horas de lazer e investi meus trocos em materiais sobre automóveis: junto material sobre o tema desde o ano 2000, quanto ganhei a primeira revista Quatro Rodas - e é hora de compartilhar mais do que tenho aqui guardado.

Revistas guardadas só servem para ocupar espaço, atrair mofo e virar almoço de traças, cupins e outros insetos; o conhecimento quando compartilhado ganha vida e se renova! E por isso, com certo atraso, resolvi então partir para um conteúdo "multi plataforma", digamos assim: agora estamos no Instagram!

Nosso novo espaço será o @cronicasautomotoras - e lá, a partir das próximas postagens, passarei a compartilhar todas as postagens, além, é claro, de imagens extras ao longo da semana. A ideia é difundir, em mais um canal, o conteúdo que planejo e busco com muito carinho e cuidado para todos vocês. O blog não vai se acabar, jamais! Apenas vou me valer dessa nova plataforma pra gente conhecer mais amigos e amigas e difundir o bom e saudável debate sério sobre o infindo universo automotor.

Em breve, se tudo correr bem, farei um podcast do cronicas: leituras de testes, histórias, prosas e outros papos automotivos pra gente se divertir (ou fazer você dormir, caso tenha insônia). Mas isso é pra outro momento; por enquanto, se puder, dá uma passada lá na nossa nova página e faça a gentileza de nos seguir. Será um prazer tê-los por lá também.

Muito obrigado a todos(as) que me distinguem com a companhia e continuem sintonizados, estamos aqui para oferecer sempre conteúdo de qualidade e trocar ideias com todos os que gostam de automotores!

PS: A partir da próxima postagem, passaremos a usar uma pequena e discreta "marca d´água" nos materiais digitalizados diretamente de nosso acervo. Tivemos o desprazer de perceber que algumas páginas, possivelmente por distração, usam fartamente o nosso material sem nos dar os créditos e, de agora em diante, deixaremos a nossa marca para evitar estes pequenos dissabores. Esperamos que os amigos(as) compreendam a medida, pois não se trata de vaidade - somos e sempre seremos a favor da máxima divulgação do conhecimento de forma livre e ampla -, mas, infelizmente, não nos é confortável ver alguém monetizar conteúdo vindo daqui sem prévia autorização ou consulta, em franco desrespeito ao nosso trabalho de mais de vinte anos de pesquisas.

quinta-feira, 29 de julho de 2021

Vamos lavar o carango? (1971)

A hemeroteca digital da Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina - BPSC tem surpresas muito interessantes escondidas nas muitas publicações veiculadas no território catarinense ao longo dos séculos, à exemplo das matérias e propagandas veiculadas no extinto jornal O Estado, à exemplo da que hoje selecionei:

Pequeno "recorte" da edição n. 16.703 d'O Estado, publicada em 22/08/1971

O Dodge Dart do retrato experimentava na ocasião os benefícios da primeira ducha "eletrônica" das terras catarinenses, instalada no Jóia Posto e que, à época, custava apenas Cr$ 8,00. De eletrônico, por certo, havia o conhecimento sobre os motores elétricos responsáveis por girar os múltiplos esfregões responsáveis pela faxina a jato; de barato, também, não tinha lá tanta coisa: uma lavada, em valores corrigidos pelo índice IGP-DI (da Fundação Getúlio Vargas - FGV), custaria atuais R$ 58,66. Não lá uma pechincha, mas a caranga ficava um brinco. Rapidamente.

Antes que você me pergunte, respondo: o Posto Joia ainda existe no mesmo endereço - mas, certamente, o pioneiro mecanismo responsável pela lavada já deve ter entrado pra história há muitos anos...

domingo, 18 de julho de 2021

Teste da semana: Chevrolet Monza SL/E (1988)

Há uns anos atrás - quatro ou cinco, não lembro bem - tive a oportunidade de guiar um Santana GLS 1990 com o inesquecível motor de 2,0 litros de cilindrada: apesar de o estado geral de carroceria e equipamentos não ser dos melhores, tive a melhor das impressões sobre a essência do carro: bom motor, freios bons e transmissão muito bem escalonada. 

Tempos depois, andei em um Monza SL 1986 - com motor 1,8 litro, movido a gasolina - e apesar de a potência não ser tão vigorosa quanto a de um Santana 2,0, o conjunto era mais macio e silencioso, justamente o que precisava para rodar quilômetros a fio em minhas viagens da época, enquanto ouvia algo suave no disc laser

Qual dos dois preferi: bem, diria que se tratou de um empate, mas se pudesse ter a oportunidade de guiar um Monza SL/E 2,0 - como Paulo Celso Facin fez para a Auto Esporte (edição n. 275), ah, certamente a vitória seria da Chevrolet, tal como podemos ler do preciso e interessante relato:







O Santana continuará a ser um carro incrível e altamente recomendável para os que gostam de uma tocada mais esportiva; contudo, se você prefere uma vida mais suave (sem grande prejuízo do desempenho, em caso de pressa), vá de Monza e seja feliz. 

domingo, 11 de julho de 2021

Teste da semana: Volkswagen Voyage (1983)

 Novidade da Volkswagen para o ano de 1981, o interessante Voyage - criado na medida para concorrer com o Chevette - trouxe um desenho muito correto, desempenho coerente com o projeto (diferente do Gol), mas não as quatro portas.

Eram tempos de um mercado nacional que não costumava aceitar com entusiasmo as versões com o dobro de entradas (gosto incompreensível do ponto de vista técnico, mas muito arraigado), muito carro nasceu e morreu sem receber portas extras, daí a demora da Volkswagen em apresentar o Voyage quatro portas, novidade para o ano de 1983 e testada pelo saudoso José Luiz Vieira, com análise de estilo do também saudoso Celso Lamas (e com a presença do grande Paulo Celso Facin na foto de ação):




Nada feito pelo ser humano é perfeito - então, é compreensível que a avaliação da turma da Motor-3 (publicada na edição n. 33, de março de 1983) aponte defeitos, à exemplo do espaço do banco traseiro e o acesso não muito amplo proporcionados pelas portas traseiras. Mas, se no geral o conjunto agradava, o público nacional não acolheu com dobrado interesse: afora a venda de Voyages quatro portas importados da Argentina na metade dos anos 90, a fábrica logo descontinuou essa opção e só voltaria a fazer Voyage nesta configuração quando do modelo novo. Pena, pois sempre fui fã dos quatro portas...

terça-feira, 6 de julho de 2021

Chassi antigo, roupa nova: Marcopolo Paradiso Scania K-113 CL (1996/2004)

Não é novidade dizer que a Viação Cometa S.A. (de São Paulo/SP) foi a maior cliente no Brasil da Scania e a principal freguesa da Ciferal - e quando a fornecedora de carroçarias encontrou a falência nos primeiros anos da década de 1980, a empresa resolveu montar os seus próprios ônibus e, para tanto, criou, em 1982, a Companhia Manufatureira Auxiliar - CMA.

Com o objetivo de renovar a própria frota (sem vender veículos para terceiros, orientação idêntica àquela adotada pela Itapemirim naquela época), a CMA se valeu do projeto do Ciferal Dinossauro e fez as adaptações pertinentes para as suas expectativas e necessidades, rebatizando-o o resultado do aperfeiçoamento com o feliz nome de Flecha Azul, cuja produção, dividida em várias gerações (Flecha Azul I até o VIII, com diferenças estéticas e internas), durou até 2000, quando foi substituído pelo modelo CMA - Cometa, de estilo diverso (e controverso) e com o terceiro eixo traseiro. Todos, sem exceção, com plataformas Scania.

Dentre tantos Flecha Azul fabricados, hoje falaremos do carro n. 7058 da Viação Cometa, um Flecha Azul V, fabricado em 1996 pela CMA e encarroçado sob um chassi Scania K-112 CL, equipado com bancos de couro vermelhos e rodas de alumínio, carro exatamente igual ao 7059, cujas fotos seguem abaixo:

Adjetivos sobram para a visão de um CMA Flecha Azul V saindo da rodoferroviária de Curitiba/PR, hoje doce lembrança para os entusiastas (foto de Diogo Vieceli, via Ônibus Brasil)


Outro ângulo do 7059, com ênfase nas rodas de alumínio e nas poltronas de couro escarlate: naquela época era perfeitamente admissível viajar de ônibus sem ar-condicionado (foto de Carlos Eduardo Lopes, via Ônibus Brasil)

Se você for mais atento, perceberá que o veículo em questão é o 7058 e não o acima retratado, 7059. E há um motivo para a ausência de imagens (e até para o fato de o veículo ter ensejado a postagem): é que em algum momento no final da década de 90, o 7058 se envolveu em algum sinistro (fala-se em acidente, majoritariamente) e a recuperação do massudo Flecha Azul V tornou-se financeiramente inviável para a empresa, e o que dele sobrou ficou encostado em algum canto de alguma das garagens da Cometa.

Mas o que pode ser inútil para uns, pode ser especialmente vantajoso para outros: a empresa Nossa Senhora da Penha (de Curitiba/PR), à época pertencente ao grupo Itapemirim, aproveitou a plataforma do carro sem uso da Cometa para nela instalar uma carroçaria nova e um terceiro eixo de apoio. Com o know-how amplo da empresa de Cachoeiro de Itapemirim, foi fácil transformar o K-113 CL em um veículo trucado, mas com a característica interessante de os eixos traseiros estarem espaçados como geralmente ocorre nos Mercedes-Benz, os quais não ficam tão próximos como nos Scania K-113TL, originalmente com três eixos de fábrica:

Note a placa EVC-7058, de Empresa Viação Cometa, prefixo 7058 (imagem de Mateus C. Barbosa, via
Ônibus Brasil)

Notem a alteração promovida no chassi com a inclusão do terceiro eixo de apoio a frente do eixo de tração (esse mais perto da traseira, que tem um formato muito característico de 'pino de boliche'). Foto de Douglas Paternezi, via Ônibus Brasil

Um passageiro que embarcasse no 35027 da Penha dificilmente saberia que a plataforma antes suportava o Flecha Azul o 7058 da Cometa, até porque o chassis 1996 não era tão antigo assim e a carroçaria nova em folha (com todas as comodidades e o ar refrigerado) reforçavam a ideia de que se tratava de um veículo realmente novo. Só o painel revelava um pouco da origem não exatamente recente da plataforma, pois a nova proprietária aproveitou o volante e alguns dos instrumentos que originalmente compunham o vasto painel do Flecha Azul, fato que não constitui propriamente um demérito, absolutamente, é questão de opção, apenas:

Apesar de o velocímetro conjugado com o tacógrafo ser originalmente empregado nos modelos Mercedes-Benz, o quadro de instrumentos à esquerda é o da linha 112/113 da Scania; o instrumento circular à direita parece ser um manômetro feito especialmente para a CMA (imagem de Leonardo Luigi Maffei, via Ônibus Brasil)

Antes pertencente ao Flecha Azul V 7058, a plataforma passou a fazer parte da carroçaria Paradiso 1200 HD produzida pela Marcopolo em 2004 que foi recebida pela Penha com o prefixo 35027, conjunto este que rodou entre os anos de 2004 até 2013 pela empresa curitibana, época na qual foi vendido para uma firma do ramo de turismo - setor em que provavelmente até hoje roda e encanta os entusiastas com o urro inconfundível de um Scania 113, fruto de uma era que não existe mais...


Pequena ficha técnica:

Primeira proprietária (1996-2003): Viação Cometa S/A (São Paulo/SP)
Carroçaria original: CMA Flecha Azul V
Chassis: Scania K-113 CL
Motor: Scania DSC 11 23
Potência: 362cv a 1900 rpm
Torque: 165 kgfm a 1000 rpm

Segunda proprietária (2003-2013): Empresa de Ônibus Nossa Senhora da Penha (Curitiba/PR)
Segunda carroçaria: Marcopolo Paradiso 1200 HD (2004)
Chassi: Scania K-113 CL com terceiro eixo adaptado
Motor: Scania DSC 11 23
Potência: 362cv a 1900 rpm
Torque: 165 kgfm a 1000 rpm

sábado, 3 de julho de 2021

Qual carro comprar: Guia Analítico Auto Esporte (1976)

Esperava-se muito do Salão do Automóvel que ocorreu em 1976, mas, naquele ano bissexto, a novidade mesmo foi o Fiat 147. Dupla novidade, aliás, pois a fábrica e o modelo estrearam em nosso mercado e, apesar dos percalços e das dificuldades, a montadora, situada em Minas Gerais, construiu uma história de êxito não usual: naquele 1976, seria difícil imaginar que a montadora italiana um dia suplantaria a enorme Volkswagen do título de maior vendedora de veículos no Brasil.

Mas além do pequeno 147, as demais montadoras também tinham lá as suas novidades, como podemos ler deste interessante guia analítico produzido pela revista Auto Esporte e publicado na edição de novembro de 1976, cuja íntegra abaixo reproduzimos:
















Naquele já distante ano de 1976, você poderia comprar um automóvel da Chrsyler, da Fábrica Nacional de Motores - FNM, Ford, Fiat, Chevrolet, Volkswagen, Lafer e Gurgel e ser feliz com a caranga nova. Poderia ser um simples Volkswagen 1300 ou um caro Lafer LL, era opção para todos os gostos e bolsos. E o curioso é que dentre as fabricantes, apenas a Chevrolet, a Fiat e a Volkswagen permanecem na ativa em nosso pais. Muita coisa mudou desde aquele ano....