Mesmo quem não é lá tão ligado nos caminhões já deve ter percebido o sucesso da Mercedes-Benz em nosso mercado nacional; apesar de em tempos idos essa hegemonia ter sido muito maior do que a de hoje, não é nem um pouco raro ver um caminhões da marca a rodar por ai, muitos deles com dezenas de anos de uso, servindo de ferramenta de trabalho para muitos profissionais e sustento pra muitas famílias.
Os menores da fábrica - por ela própria chamados de Mercedinhos desde a época do lançamento -, venderam bastante e aqui perto de casa posso citar mais de um deles ainda em pleno serviço, para o deslocamento de mudanças. Aliás, uso para estes utilitários é que não falta: de micro-ônibus escolar, plataforma para carro-forte até caçamba, motor home e compactador de lixo, bem, já vi incontáveis aplicações. Talvez a mais frequente que me lembro é a de uso para entregas de materiais de construção, como, aliás, já imaginava a propaganda da fábrica à época do lançamento (1972):
Propaganda veiculada em alguma edição da revista Manchete de 1972; caso você a tenha divulgado por primeiro na internet, diga-me por favor que darei os créditos, ok? |
Mas há uma versão bastante incomum - rara mesmo, na precisa acepção do termo -, que nem sequer se tem notícia de ainda rodar algum original: o L-610. E o que de tão raro há nessa versão? O motor: é que a Mercedes-Benz, na metade da década de 1980, resolveu investir no mercado de utilitários movidos a álcool e trouxe ao mercado o seu modelo mais leve com propulsor exclusivamente alimentado pelo etanol.
Sim, um engenho que trabalha no ciclo Otto (não, não no ciclo Diesel), alimentado por carburador e que gerava exatos 98cv de potência, propulsor este que até pouco tempo atrás nem sequer sabia de sua existência e possivelmente não deve ter sobrado um pra contar a história... Sobrou, felizmente, o catálogo deste interessante utilitário, divulgado pela Anfavea, a quem sempre agradecemos pela gentil iniciativa de compartilhar tanto material, e cuja íntegra temos o prazer de divulgar:
Possivelmente o Mercedinho alcoolizado era destinado às aplicações canavieiras (e a gente sabe que os propulsores movidos a álcool não tem um baixo consumo), até porque não tenho dados precisos a respeito do consumo do raro L-610 no ciclo urbano, nas entregas. Opções, é claro, são sempre muito necessárias e bem-vindas, e esta possibilidade de carregar cargas com um motor movido pelo combustível vegetal ampliava, mais ainda, o leque amplo de possibilidades da marca, mas o sucesso não veio para esta pequena versão.
E se você tem um destes, sobretudo se estiver em estado original, fique ciente de que se trata de um dos caminhões mais raros que já vi da Mercedes-Benz!
Acho interessante a idéia desse motor do ciclo Otto, embora me parecesse mais lógico para usar o gás natural na época que era reservado para frotas (principalmente de órgãos governamentais), táxis e veículos pesados. Quanto às inúmeras aplicações para as versões normais do Mercedinho, quando deixei Florianópolis e retornei para Porto Alegre ainda se via alguns carros-fortes baseados no 608, até com aquele pequeno capô dianteiro original.
ResponderExcluirLembro de ter lido em algum lugar - acho que numa edição da Motor-3 - que a VW chegou a equipar um dos seus modelos de entrada (um 6-80 da vida) com o V-8 318 para queimar metano, isso em parceria para uso em algum órgão governamental. Pena que a Mercedes só apostou no álcool para os caminhões, mas ela chegou a lançar chassis para ônibus com motores movidos a GNV - em breve falarei deles aqui no blog.
ExcluirE do 608, até bem pouco tempo atrás vi um destes, com chassi bem curto, utilizado pela Comcap. Naquela época ele levava um grande recipiente com água e cal para a pintura das guias das calçadas, ainda estava bem cuidado. Bem cuidado é caminhão pra vida toda!
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O mais louco é que algumas versões do Mercedes-Benz Econic europeu movidas a gás natural usavam motores feitos no Brasil mesmo.
ExcluirInfelizmente - mas muito infelizmente - muitas boas versões eram feitas aqui só pra exportação. Sempre lembro do Fiat diesel e me irrito muito, queria ter um desses...
ExcluirQuando eu era pequeno em Manaus (morei lá de 1 aos 6 anos, embora eu seja gaúcho de nascimento), talvez pela proximidade da Colômbia e da Venezuela além de muitas caminhonetes terem chegado de Miami seguindo a especificação americana só com os motores a gasolina mesmo, eu só lembrava de motor a diesel em caminhões e outros utilitários, além dos barcos e tratores. E quando cheguei em Florianópolis, me causava alguma surpresa a quantidade de carros a diesel na mão dos argentinos.
ExcluirSempre morei por aqui, então desde cedo me acostumei a ver carros a diesel, mas, infelizmente, nenhum poderia circular legalmente por aqui. Não que isso impedisse algumas pessoas de adaptar motores diesel em picapes, a exemplo de um sujeito no bairro onde morei que andou mais de dez anos com uma Fiorino com motor diesel comprado no Paraguai...
ExcluirGambiarras até com motor de trator ou daqueles Thermo King usados nas câmaras frias de caminhão refrigerado até teve bastante, fora esses casos de motores trazidos completos da Argentina e do Paraguai, além de alguns convertidos usando o mesmo bloco original do motor a gasolina. Tem muito motor antigo que as versões a diesel usavam rigorosamente o mesmo bloco das versões a gasolina.
ExcluirO desespero, por assim dizer, pelo uso de motor diesel era o ensejo propício para as mais insólitas adaptações, fora aquela típica manobra de dar um passeio de carro ao Paraguai e voltar com um motor diesel em vez de gasolina (soube, recentemente, de um sujeito que fez isso algumas vezes com Chevy 500 na década de 1990), fora o uso despreocupado do diesel em conjunto com a gasolina "pra melhorar o consumo"...
ExcluirE quanto ao compartilhamento de blocos, bem, o exemplo que me ocorre é o da Volkswagen, parece uma boa medida de economia em escala de produção, infelizmente pouco aproveitada dada a ilegalidade em converter o propulsor ao ciclo diesel, ainda reinante...
Grato pela visita e os comentários, sempre enriquecedores.
Além da Volkswagen, muitos motores até comuns tiveram ou ainda tem versões a diesel, como o Fiasa desde a época do Fiat 147, os Peugeot/Citroën da série EW com relação aos DW, e até a Mercedes-Benz fazia muito isso. Até o motor M136 de válvulas laterais deu origem ao OM636, naturalmente com válvulas no cabeçote como todo motor a diesel automotivo que eu conheço. É muito mais comum do que parece, tanto que no Uruguai se vendia kit de conversão específico de acordo com o tipo de motor usando só peças originais ou o mais perto possível de uma especificação original.
ExcluirPreciso de uma foto da plaqueta do motor do bloco perdi aminha se poder ser atendido obrigado
ResponderExcluirInfelizmente não tenho essa informação, sugiro que você procure no Mercado Livre as reproduções que eles fazem e poderão fazer uma com os números do seu motor. Boa sorte!
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