segunda-feira, 29 de abril de 2019

Propaganda da Semana: Yamaha RD-350 (1973)

Normalmente eu não trato aqui de motocicletas, pois, apesar de achar as máquinas de duas rodas um bocado interessantes, não sei domá-las e nem tenho vontade de me tornar motociclista, por uma série de razões, à exemplo da alta taxa de letalidade no trânsito da Capital Catarinense. E o argumento mais forte: eu sou completamente inábil com veículos de menos de quatro rodas, até me ressentia, na infância, de andar de bicicleta, tantos foram os tombos violentos e circenses que levei...

Apesar de tudo, não deixo de admirar as máquinas bípedes, como esta interessantíssima Yamaha RD 350, com dois cilindros que trabalham no ciclo de dois tempos, que entregam 39 saudáveis cavalos de potência. Pode parecer pouco, mas a RD 350 andava barbaridades e era deliciosa de pilotar, concorrente direta das também icônicas CB-750 da Honda, que empregava motores com ciclo de quatro tempos.

Não sei bem o motivo, mas sempre tive maior simpatia para com as Yamaha do que com as Honda, talvez pelo motor de dois tempos, pelo desenho ou mesmo que não tenha nenhuma razão especial, só o puro e simples gosto de alguém que nem sabe pilotar.


O blog memoriasosvaldohernandez tem um acervo incrível, como esta imagem que enfeita a postagem
Bom, mas o motivo de ter trazido a clássica RD 350 para este espaço se deve a uma das muitas histórias que o meu primo Carlos me contou dias atrás. Ele, funileiro desde os anos 80, cresceu em meio às mudanças dos automóveis e motos: em matéria de carro, ele já fez de tudo um pouco, desde atualizar um Renault 5 de um argentino que passava férias em Floripa até fazer interessante traquinagens com um Opala 250-S cupê com chapas ANA (ele, infelizmente, não lembra dos números, só das letras da placa cinza).

Numa dessas ocasiões da vida, ele trabalhava em uma oficina, cujo dono comprou, pra reforma, uma RD 350 preta, das primeiras gerações. A motocicleta tinha levado um tombo feito e foi adquirida por uma ninharia, pois exigiu uma série de reparos pra voltar à ativa. Meu primo, acredito, trabalhou na pintura dela, tenho certeza de que a moto ficou bonita, mas ainda não estava pronta: faltavam algumas peças do freio dianteiro, todas encomendadas na revenda Yamaha local, era o que faltava pra máquina ficar prontinha.

Mas ai, numa bela tarde de sol, apareceu um sujeito na oficina com um Gol branco e caiu de amores pela RD preta: ele ficou completamente comovido com a Yamaha e logo ofereceu o carro na troca, fez mil e duas propostas. O dono da Yamaha, no fundo, queria curtir um pouco a motocicleta antes de vender, mas foi tanta a insistência do sujeito que ele acabou cedendo. 

O rapaz, então, resolveu dar uma volta com a 350 pra testar o motor (a moto num todo, na verdade), pois ele fecharia negócio se tivesse a certeza de que a flamante moto preta estava bem reparada. E ele deixou o Gol na oficina e partiu com a moto, sem capacete (era comum na época, acreditem). Era só um test drive, coisa rápida... O proprietário ainda teve tempo de berrar "ela tá sem freio na frente", mas o empolgado motociclista parecia confiante e com cara de que sabia tocar a Yamaha.

E as horas passaram rapidamente, o Gol permanecia na oficina e nada do sujeito aparecer. Alguém até mencionou em telefonar pra Polícia, porque deveria ser um golpe, ninguém deixaria o próprio carro e sumiria com uma moto... Mas nem foi preciso chamar a PM: logo apareceu uma viatura e dois policiais desembarcaram com uma história pra contar.

O interessado na compra, o motociclista desembestado, resolveu acelerar a RD-350 numa das ruas de Florianópolis e deu um gás na manete. Só que o motor, se você o levasse acima das seis mil rotações por minuto, dava um salto considerável de potência, e aparentemente o sujeito do Gol fez isso. Ele desceu uma ladeira com vontade, mas, ao chegar perto de uma das ruas que margeiam o mar, não tinha como parar: a moto não tinha freio na frente.

Ai vocês imaginam o drama: o sujeito não conseguiu domar a motocicleta apenas com o freio traseiro; foi rabeando em linha reta até varar a pista e cair no mar com RD 350 e tudo o mais! Ele não morreu, salvou-se com diversas fraturas e a moral arranhada. E já era noite quando o proprietário foi ver o que sobrou da Yamaha (não foi muita coisa), que engoliu água salgada aos montes e ficou bem retorcida.

O sujeito do Gol tanto quis que ficou com a moto, ele entregou o carro como pagamento. Não sabemos o que aconteceu com a moto, mas, naquele dia, o apelido de viúva negra fez muito sentido para todos os que trabalhavam na oficina...

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