quarta-feira, 10 de abril de 2019

Os Ford que não existiram: Linha Aero/Itamarty 1972


Já conversamos, tempos atrás, sobre a aquisição do controle acionário da Willys-Overland do Brasil (WOB para os mais chegados) pela Ford, lá no já distante ano de 1968, ocasião em que a pioneira Willys foi completamente absorvida pela compradora. 

Aparentemente foi um bom negócio, pois a fábrica do oval incorporou a produção dos utilitários (Jeep, Pick-Up e Rural), recebeu, em adiantado estágio, o projeto que se revelaria, no ano seguinte, o Ford Corcel (tremendo sucesso, aliás) e, de quebra, continuou a produção dos modelos mais luxuosos da já extinta montadora, o Aero e o Itamaraty.
 
O Gordini, carro de entrada da WOB, até ganhou uma nova versão (a IV, praticamente igual à III), mas logo desapareceu do catálogo, o que se compreende em razão da gestação do Corcel já estar bem adiantada e o simpático popular, apesar de suas vantagens, não era exatamente um sucesso de vendas.

Dos modelos sobreviventes, a mudança na maternidade da produção exigiu, num primeiro momento, a adequação de nomenclatura: seria muito chato para a Ford anunciar e vender produtos com o nome de uma outra fabricante (apesar da óbvia relação da Willys com os modelos), de modo que não demorou muito para o Aero Willys se tornar Ford Aero e a Pick-up Jeep em F-75, tudo ao gosto e modo da nova gestora.

A revisão dos projetos não parou nas mudanças de nome: diversos aperfeiçoamentos foram introduzidos, a começar por um aumento de potência já no ano de 1968 (130cv no motor 2300 e 140cv no motor 3000), o compartilhamento de peças Ford (limpadores de para brisa e calotas do Galaxie empregados no Itamaraty, por exemplo), além de uma ou outra novidade nas cores e nos revestimentos internos.

No ano de 1970 não tivemos muitas alterações relevantes; o Galaxie era o carro-chefe da Ford, com muitos predicados que faziam justiça ao posto, tanto de conforto, desempenho, segurança e status, de sorte que os Aero e Itamaraty tinham vendas discretas, por se tratarem de opções válidas pelo custo-benefício, pois já estavam longe de representar a última palavra em tecnologia.

Mas não foi por falta de tentativa da filial brasileira: a revista Auto Esporte, em 1970, flagrou diversos modelos preparados pelo Departamento de Estilo para avaliar a possibilidade de reestilização da linha, cujas fotos foram gentilmente disponibilizadas pelo interessante carrosantigosnacionais.blogpsot.com:

Três tomadas dos estudos da Ford para a reestilização da linha Aero/Itamaraty
Se bem me lembro, a história (ou seria lenda?) narra que o próprio Henry Ford II, chefe-dos-chefes da Ford (neto do fundador, aliás) viu pessoalmente os modelos e não gostou muito deles, desaprovando, por completo, a tentativa da filial brasileira de investir mais uns trocos na modernização da linha. Pessoalmente falando, ainda bem que a cirurgia estética nos já cansados modelos não foi para frente...

Sem autorização para mudanças maiores, a Ford do Brasil selou o destino do Aero e do Itamaraty: seriam produzidos até quando desse, o que podemos notar das propagandas veiculadas para a linha 1971, todas extraídas do memoriasoswaldohernandez.blogspot.com
 
O "novo" até soa como um certo exagero, mas não se pode negar que os aperfeiçoamentos feitos pela Ford ajudaram a dar um fôlego nas vendas e deixar os sedãs ainda mais desejáveis.

"Para o rico discreto": leia-se: "para o rico que não quer chamar a atenção com um Galaxie/LTD".
Não se impressione com a ideia de "discrição": o Itamaraty era destacado como uma opção de luxo com bom custo-benefício.
No final de 1971 o Aero e o Itamaraty saíram de linha, mas não foi por abandono do setor de estilo da fabricante: os estilistas até cogitaram algumas mudanças mais suaves no estilo (nada que demandasse alto custo de produção, como ocorreria no estudo da nova linha 1970), mas a direção, provavelmente focada nos projetos que desembocariam no Maverick, fechou a torneira de novidades para os sedãs que nasceram na Willys. Ao menos sobraram as fotos do que seria o Itamaraty 1972, todas apresentadas no carrosantigosnacionais.blogpsot.com, cuja visita recomendamos fortemente:

Note a grade com motivos horizontais, novo friso lateral, novos logotipos e, talvez, novas cores.
Novas calotas foram cogitadas, até que ficariam bem interessantes.
A traseira se manteria igual, inclusive as lanternas com os motivos verticais que identificavam o Itamaraty
Mais de quarenta anos depois da decisão de extinguir a linha, fico aqui pensando: será que valeria a pena, do ponto de vista financeiro, manter o Aero Ford e o Itamarty na produção da linha 1972? Certamente não. No entanto, do ponto de vista dos entusiastas, o final da carreira deles é lamentado até hoje...

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