sábado, 8 de outubro de 2022

Catálogo da Semana: Caravan Ambulância (1990)

Em outra postagem não muito distante, falamos aqui do modelo Diplomata da Caravan, lançamento para o ano de 1986 com a indisfarçável missão de diminuir as vendas da concorrente Volkswagen Quantum. Mas a perua Opala que hoje falaremos não tinha concorrentes: a Caravan Ambulância.

Apesar de ter procurado bastante, não achei o ano exato de lançamento desta versão - embora me recorde de ter lido em um jornal de 1977 que a Polícia Rodoviária Federal - PRF recebeu algumas Caravan com maca para socorro de um eventual ferido -; porém, o mais antigo exemplar que encontrei foi do ano de 1978. Se alguém tem essa informação, peço a gentileza de indicar nos comentários.

De todo modo, a Caravan Ambulância era uma opção para remoções não muito complexas: mercê de sua baixa altura, o(a) profissional da saúde que estivesse a cuidar do paciente não poderia trabalhar em pé (mas sentado em um banco com maca a sua esquerda), do que pode resultar uma certa dificuldade em dispensar algum medicamento junto do soro. Também não poderia contar com muitos recursos: não teria espaço interno suficiente para equipamentos mais sofisticados; quando muito, um cilindro de oxigênio e o que mais coubesse no interior da perua.

Mas para remoções simples, ou mesmo transporte de pacientes sem graves complicações, a Caravas poderia dar muito bem conta do recado; muitas foram usadas nas muitas prefeituras pelo Brasil a fora, além do uso como carro de apoio estratégico em empresas para alguma situação de urgência E de tais usos você pode imaginar que as ambulâncias teriam uma vida bastante dura e intensa, ou mal rodariam a serviço de instituições privadas. As que sobreviveram hoje faziam parte do segundo grupo, como é de se supor...

Na infância - e nasci em 1991 -, vi muito poucas Caravan em tal função; na época via mais Veraneio, algumas da década de 1970, estas mais vocacionadas ao serviço (mais espaçosas internamente) e muitas já foram aposentadas naquela época por furgões mais amplos (a Besta, movida a diesel, era a preferida na metade daquela década em diante), depois vieram outros modelos e por ai vai... Mas apesar de não serem lá tão comuns, algumas eu via, como as de 1990, cujo catálogo a Anfavea fez a gentileza de divulgar para nós, em uma iniciativa que sempre agradecemos:



Interessante notar que a versão ambulância, bastante básica e com acabamento muito simplificado (e isso é coerente pela proposta de uso, é claro), poderia contar com motores de quatro ou seis cilindros, álcool ou gasolina. Você, por exemplo, poderia ter uma quatro cilindros mansa ou uma seis cilindros com mais reserva de potência, tudo depende do uso que se pretendia dar à versão ambulância.

E mais interessante foi descobrir que em pleno ano de 2022 - trinta anos depois da Caravan Ambulância ter saído de linha (a última Caravan, aliás, foi uma ambulância) - o Estado de Santa Catarina ainda tinha uma em sua frota. Ao menos oficialmente.

Fabricada em 1990 e vendida pela extinta concessionária Santa Fé (de Floripa/SC), a ambulância vendida no mês de setembro/2022 estava encostada no município de Witmarsum, cidade de não mais de quatro mil habitantes aqui de Santa Catarina, e ainda ostentava as placas CE-0394, de Florianópolis/SC. Sim, placa com padrão de duas letras, substituído a partir de 1994 até 1999 (o que indica que esta ambulância deve estar parada desde o começo do Século XXI). 

Não sei a exata razão, mas, infelizmente a Caravan foi licitada como sucata sem direito à documentação  - a despeito de seu estado razoável de conservação - e arrematada por pouco mais de R$ 5.000,00 por uma empresa, certamente para aproveitamento de peças:

Considerando que as placas de duas letras foram substituídas até o ano de 1999, a Caravan não deve rodar desde o final do século passado (foto extraída do site do leiloeiro oficial)

Note que a maca original está sob a capota da Caravan - fotos do leiloeiro oficial.

Atentem ao logotipo da Concessionária que a vendeu (fotos reproduzidas do site do leiloeiro oficial)

Certamente esta CE-0394 foi a última Caravan ambulância que rodou pelo Estado de Santa Catarina a ser vendida - e a não ser que os próximos editais de venda reservem surpresas (e aqui em SC não é tão raro ver carros pré-1990 a venda, como ano passado vi uma Chevy 500 de 1988 oficial à venda) - não mais veremos uma dessas disponível. Nem como sucata.

Fico a pensar que esta derradeira perua deveria ter sido preservada (sobretudo por ainda ostentar as placas CE - de Carro Estadual); mas, ao menos sobraram as fotos e o catálogo da Anfavea pra gente lembrar de um tempo que não volta mais.

14 comentários:

  1. Lembro de ter visto uma Caravan ambulância da PM em 2005 ainda em efetiva operação, durante um evento num batalhão de cavalaria em São José. Veraneio ambulância eu vi mais do Exército mesmo, uma em 2009 no hospital do Exército na Prainha já fora de uso e outra ainda em efetiva operação em 2010 em Pelotas foram as últimas. Caravan até 2011 ainda aparecia em Porto Alegre uma da prefeitura de Butiá, possivelmente substituída por uma Saveiro. Ipanema pelo menos até 2014 de vez em quando apareciam algumas em Porto Alegre, a maioria com aquele teto elevado mas bem de vez em quando alguma com teto baixo original.

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    1. Aqui em Santa Catarina, se a gente vê uma Ipanema de quatro portas e branca, a chance de ser um antigo carro oficial é maior de 90%, hehe. Vi muitas em diversos setores da administração (polícia, bombeiros, repartições diversas, ambulância), marcou muito a minha infância por sempre as ver nas ruas em seus variados usos. Até porque não era um carro que era muito procurado pelos particulares...

      Grato pela visita!

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    2. Embora eu também tenha visto Ipanema de duas portas sendo usada como ambulância, eram mais comuns com 4 portas em usos de serviço público. E até é curioso eu nunca ter visto numa Ipanema com 4 portas o câmbio automático, só nas de duas.

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    3. Bem observado, eu também não conheço Ipanema com quatro portas e transmissão automática: já vi até Kadett GSi conversível com essa configuração (carro que pertenceu à frota da GMB e por isso foi montado de tal forma mais 'experimental'), mas Ipanema só as de duas portas (há até uma aqui na região de um senhor que a tem há mais de dez anos).

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    4. Naquela época, ainda era mais estigmatizado como "coisa de aleijado", e a bem da verdade o meu apreço pelo câmbio automático se deve mais aos meus problemas de joelho que qualquer outra coisa. Mas no caso das duas portas, o mais curioso é que muito usuário de cadeira de rodas conseguia fazer a transferência com mais facilidade entre a cadeira e o banco do motorista em carros de duas portas.

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    5. Hoje a transmissão automática é bem aceita pelo mercado (e é incrível a quantidade de bobagens que os compradores acreditavam, a começar por aquele mito besta de insegurança dos carros com quatro portas) e teria fácil um veículo automático, sobretudo pelo conforto. E o manejo da cadeira de rodas pelo usuário, bem, isso depende do espaço interno do veículo; lembro que a Fiat, à época do lançamento do Palio, apresentou o modelo com a porta traseira esquerda de correr, mais fácil para guardar a cadeira e embarcar no carro, isso era do projeto Autonomy, se não me engano.

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    6. Além do vão de abertura mais curto das portas dianteiras no modelo com 4 portas, também é uma dificuldade os bancos da frente deixarem de ter aquele mecanismo para rebater o encosto visando abrir espaço para os passageiros do banco traseiro embarcarem, e que no fim das contas facilita passar uma cadeira de rodas dobrada. Lembro de ter visto um Honda Civic sedan de 6a geração com bancos dianteiros do coupé exatamente por esse motivo, e era de um cadeirante.

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  2. Cheguei a ver uma caravan da CBTU, perto do pátio de manutenção do metrô no bairro onde vivo. Mas ela já estava debaixo de uma árvore do portão da garagem e apodrecendo faz muito tempo. No entanto eu acho um descaso a forma como a política trata do serviço público, porque é o nosso dinheiro que vai pro ralo. Enquanto que os carros dos tribunais de justiça e outros serviços judiciais são modelos de 2015 pra frente, o resto da frota envelhece "rápido" e logo é desovado nos inúmeros leilões por aí. Se você acha que o pátio de apreensões das polícias é lotado (além de ser uma merda completa), é porque você não viu o descaso que fazem com as ambulâncias e viaturas da polícia que mal passam 5 anos e já vão pra mão dos sucateiros.

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    1. Apesar das condições de uso das viaturas de polícia serem um tanto severas, e às vezes a manutenção ser feita da forma mais precária, realmente chega a ser absurdo veículos com uma integridade estrutural boa serem desperdiçados a troco de pinga. Apesar que em Porto Alegre ainda tem viatura "velha" em efetiva operação. Quanto às viaturas "de representação" de algumas repartições públicas como tribunais, é uma inversão de valores e prioridades, devia haver uma maior austeridade nesse âmbito. Com certeza a verba que falta para municípios do interior terem ambulâncias melhor equipadas poderia ser facilmente resguardada caso a frota de alguns órgãos públicos fosse pautada pela austeridade e pela decência mesmo.

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    2. Sempre quem perde nessa conta somos nós, os milhões de cidadãos pobres - 210 milhões de pobres. É uma inversão de valores que só beneficia os indivíduos que vivem a se aproveitar do sistema.
      Curiosamente, em Burkina Faso, quando houve um golpe militar e Thomas Sankara - um político e militante de esquerda - assumiu o poder, ele fez questão de que os carros do governo fossem substituídos por hatches compactos. A frota dos caros e gastões Mercedes foram trocados por pequenos Renault 5, uma medida que visava diminuir o "gasto" do governo. Somente quando os políticos andarem com motores de 1.0 litro e sem ar condicionado é que teremos um povo mais honesto.

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    3. Aqui em Santa Catarina, ao menos de uns oito ou dez anos pra cá, as renovações de frota são mais ágeis e é possível ver os carros nas ruas em boas condições. Os carros têm saído mais inteiros (percebo isso porque o galpão que armazena os veículos para leilão fica às margens da BR-101, num caminho que percorro com bastante frequência) e a arrecadação tem sido até boa com os leilões.

      Mas é fato que há um severo desperdício quando se usa um carro caro para apenas um serviço de representação; ora, o art. 37 da Constituição é bem enfático ao anotar que um dos princípios da administração pública é o da eficiência (e mesmo o da moralidade) e ter um sedã caro e gastador apenas para deslocamentos e amenidades não é o melhor dos mundos.

      As ambulâncias daqui rodam não mais do que cinco anos - mas algumas terminam moídas depois do tempo. Recente denúncia indicou que tem ambulância em Floripa com documentos atrasados e anotação de recall não atendida. E um paciente morreu enquanto aguardava o atendimento, isso quando uma das poucas ambulâncias estava com problemas elétricos...

      Mas o pior que já vi nessa vida foi um caso de uma Veraneio doada para um município catarinense que foi ENTERRADA (e um ônibus que foi doado e desmontado) talvez para encobrir o desvio de peças e algo assim

      https://ndmais.com.br/seguranca/policia-conclui-inquerito-que-apura-caso-de-ambulancia-enterrada-em-guaramirim/

      Depois dessa ambulância enterrada, poucas coisas me surpreendem nesse tema, hehehe

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  3. Semana passada, cheguei a ver uma Caravan ambulância ainda em efetiva operação, em Porto Alegre.

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  4. Eu tenho um exemplar em ótimo estado de conservação em fase final de restauração um carro muito bonito é relevante na indústria automotiva brasileira

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    1. Bom saber que mais uma será salva, qual o ano e a configuração dela? Sucesso ai na restauração e mande notícias!

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