sábado, 20 de março de 2021

Ford Del Rey: lançamento em três avaliações (1981)

As coisas não estavam lá muito prósperas no Brasil de 1981: o ano anterior foi terrível em vendas, a Chrysler do Brasil foi vítima dos constantes maus resultados - além disto, a economia não andava nada bem, inclusive o preço dos combustíveis não era exatamente dos melhores. Veio o álcool, claro, mas tudo ainda era muito caro e desvantajoso, a maior parte das pessoas não tinha dinheiro para comprar - e manter - um automóvel, que dirá adquirir um modelo zero-quilômetro.

Por isso, a Ford do Brasil, ao criar um novo produto para o seu portfólio, tratou de adequar o projeto à realidade atual: luxo com economia. Projetos audaciosos não eram muito viáveis e talvez por isso a fabricante usou o máximo que lhe era possível para criar um novo veículo. Grosso modo, o Del Rey é filho daqueles tempos, nos quais o consumo era fator de peso - e o custo final do produto não poderia ser muito alto, daí porque a solução de aproveitar a mecânica do Corcel - amplo sucesso daqueles tempos - foi a medida mais lógica, apesar de hoje - com os nossos olhos de 2021 - não parecer ter sido o melhor a ser feito.

O Del Rey merecia um motor melhor e maior (coisa que só veio em 1990, com a Autolatina) e um espaço interno mais amplo; porém, o Delra era muito moderno e compatível com o que havia de moderno no exterior. Não foi o suficiente para substituir o Landau (aliás, o sedã V-8 até hoje não tem substituto no mercado nacional), mas o médio Del Rey é um desses carros com muitas virtudes, à exemplo do conforto, acessórios e construção bastante sólida.

E como não poderia deixar de ser, as revistas automotivas da época testaram a novidade, à exemplo do que fez Cláudio Carsughi para a revista Quatro Rodas (edição n. 251):





Carsughi não ficou lá muito empolgado com o desempenho, mas gostou do que viu - em especial no que toca ao acabamento e à qualidade de construção - e até vaticinou sucesso ao carro, "desde que o seu preço seja competitivo". As versões mais caras eram bem caras e as comparações com o Diplomata 2500 e Alfa Romeo 2300 foram inevitáveis; apesar disto, o Del Rey não se envergonharia com isso: basta lembrar que nem mesmo o Landau tinha vidros com acionamento elétrico (apesar do desempenho francamente inferior).






A revista Auto Esporte também avaliou a novidade - sem atribuir o redator, infelizmente - e as impressões foram até favoráveis, apesar de terem considerado que o Del Rey, no fundo, era um "Corcel de smoking" em razão da semelhança com o modelo mais barato da linha Ford (inclusive em estilo). Mas compreenderam o Del Rey como um fruto daqueles tempos duros e formam de certa forma indulgentes com a inevitável necessidade de se apelar ao Corcel para criar um modelo mais sofisticado.

Por fim, José Luiz Vieira e Paulo Celso Facin exploraram a novidade do momento para contar aos leitores da Motor-3: ambos exaltaram a qualidade acabamento, o nível de acessórios e o consumo, mas lamentaram o espaço interno, que estaria a merecer uns centímetros (ou polegadas, melhor ainda) a mais para melhorar o conforto dos passageiros do banco traseiro:










Os leitores deste espaço podem anotar que a crítica foi bastante uniforme - e todos os avaliadores consideraram que o Del Rey era uma excelente alternativa ao cenário de 1981, apesar do preço mais alto do que o desejável (tempos em que só rico comprava e, por isto, o mercado dos luxuosos era garantido...). 

O tempo mostrou o acerto das previsões: em uma década, a linha Del Rey fez fãs apesar de o estilo básico não ter mudado muito. Apesar de não se destacar em desempenho ou em espaço interno, o sedã se destacava pelo equilíbrio de todas as suas características. Especialmente o conforto e a correção do acabamento, virtudes estas cada vez mais raras no mercado atual...

2 comentários:

  1. O Del Rey de certo modo tbm preencheu a lacuna do Maverick 4 cilindros que ao meu ver foi retirado de linha prematuramente pela Ford...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sim, o Del Rey foi pensado como fruto de uma época: o motor menor e maior luxo, num pacote compacto e com eficiência energética (leia-se consumo) inferior.

      Mas o Maverick poderia ter continuado por mais um tempo, o Motor 2300 era excelente e muito moderno; pena que a Ford não se empolgou muito e o matou em 1979, antes mesmo de o Del Rey ser lançado.

      Grato pela visita e o comentário!

      Excluir

Este espaço está sempre disponível para a sua contribuição. Fique a vontade e participe, será um prazer ler - e responder - seu comentário!