Há alguns anos eu fiz uma pequena lista contando o paradeiro das últimas unidades produzidas de alguns veículos nacionais; foi uma das pesquisas que mais gostei de fazer e que me aguçou muito a curiosidade na época. Afinal, eu tenho essa doença de querer saber aonde estão os carros, de tentar localizar quantos de um determinado modelo ou configuração ainda existem e outras coisas do tipo...
Queria saber o paradeiro de muitos outros veículos (a curiosidade jamais termina, ela sempre aumenta); aos poucos, tenho esperança, saberemos aonde está, por exemplo, o último Chevette, o último Corcel, o último SP-2 e outros tantos "últimos". Mas a pesquisa deste que vos escreve segue sempre e até achei os modelos que encerraram produções, como a gente pode ver abaixo.
O último Fusca produzido (último mesmo, da série 1993-1996) está em impecável estado de conservação: ao contrário do que eu pensava, o último besouro não é o Série Ouro, mas um modelo normal, apelidado Itamar, por conta do Presidente da República que, em determinada época, sugeriu a fabricação de um carro como o Fusca e a Volks cumpriu ao pé da letra a dica presidencial.
Fonte: site Autoentusiastas |
O derradeiro Sedã Volks é o de chassi n. TP006619, que foi entregue com todas as justas homenagens e cerimônias ao primeiro proprietário, isso no já distante dia 13 de setembro de 1996. Atualmente está com o cuidadoso terceiro proprietário, em impecável estado de conservação, tão belo quanto original:
O sedã está tão perfeito quanto estava no dia da entrega na revenda Sabrico (Fotos: Autoentusiastas) |
É interessante que o interior dele é o da versão padrão do Fusca (o "Itamar"), com a única diferença que as maçanetas e roldanas de subir os vidros são na cor preta ao invés da cinza da época. |
A história deste automóvel em particular é muito fascinante e ela, por si só, renderia um livro. Nem vou contar os detalhes interessantes e únicos deste carro, não diria e nem escreveria melhor do que a fonte primária deste material. Por isso, recomendo muito que vocês leiam a primorosa reportagem sobre o besouro, publicada no igualmente primoroso site Auto Entusiastas.
Ainda falando de últimos, o Santa Matilde que encerrou a produção do modelo foi feito lá em 1997. Para quem não se lembra, o interessantíssimo cupê (e que ganhou, com o tempo, a versão conversível), foi lançado em 1978 pela empresa que lhe deu o nome (oficialmente era o Santa Matilde SM 4.1), que, até aquele ano, ocupava-se com a fabricação de vagões ferroviários.
Apesar da prosperidade e da boa acolhida no mercado (era caríssimo e não fazia feio se comparado aos carros extra luxuosos dos anos 70/80), a liberação das importações de veículos estrangeiros comprometeu - e muito - a vida dos veículos de produção limitada. A Santa Matilde sobreviveu com enorme esforço até o fim, quando o último SM foi fabricado, cuja história a gente pode conferir, na integra, no site Santa Matilde Clube.
O modelo final, que você vê abaixo, tem várias modificações internas e externas: basicamente, o SM (que, pelo que chequei no aplicativo do Sinesp, é ano/modelo 1996/1997) chassi n. 00936 sofreu uma atualização de estilo e recebeu a mecânica 3,0 do Omega CD, além de diversos equipamentos do sedanzão europeu, inclusive os freios ABS, painel digital e o computador de bordo.
Notem o volante diferente (mas com o símbolo da fábrica), o painel digital e o computador de bordo do Omega (Foto:Geosites WS) |
Os vidros são os mesmos do modelo anterior do SM; notem os retrovisores com uma proposta mais aerodinâmica e o uso de maçanetas embutidas (Foto: Lexicar). |
A traseira lembra vagamente um cupê Mercedes; de se notar, ainda, a quase ausência de logotipos. |
E o último SM ainda existe e está emplacado em Brasília/DF, onde certamente ainda faz a alegria do dono (que, ao que penso, ainda deve ser o primeiro dele). Não é um carro raro: é um modelo único! Talvez a melhor forma de encerrar a produção de um dos melhores modelos de pequena série produzidos no Brasil.
O último Mille (ou Uno, se preferir), saiu das linhas de montagem da Fiat nos últimos dias de dezembro/2013. A fábrica optou por não investir mais no projeto dele (lançado aqui em 1984 e que fez um sucesso enorme) para permitir a instalação de air-bag e ABS, equipamentos que se tornariam obrigatórios em 2014 (o mesmo que ocorreu com a Kombi, diga-se de passagem). E para comemorar, a fábrica italiana lançou a série Grazie Mille (um jogo de palavras com a expressão italiana que significa "muito obrigado"), limitada em 2.000 unidades e recheada de equipamentos.
A última série do Uno: sucesso imediato, até eu, se tivesse dinheiro na época, compraria dois: um pra usar e outro pra guardar (Foto: fotosdecarro.wordpress.com) |
Todos os derradeiros Uno tinham quatro portas, painel com conta-giros, pedaleiras esportivas, padronagem dos bancos e revestimentos diferenciada, rodas de liga leve, ar-condicionado e outros mimos, além de uma plaqueta, imitando a silhueta do carro, onde se lê o número da série na linha de produção.
O interior (Foto: fotosdecarro.wordpress.com) |
Sou altamente imparcial quando falo do Mille, pois meu primeiro carro foi exatamente um Mille Economy 2013, comprado de segunda mão e já um tanto surrado, na versão básica de duas portas e pintado na cor Branco Branchisa. Valente, honesto, estável e divertido de tocar, até hoje me lembro com enorme saudade das aventuras que tive com o meu. Eita carro bom!
Mas, voltando ao Grazie Mille, a Fiat, felizmente, guardou o último, o nº 2000, pintado na cor Verde Saquarema (havia, ainda, a opção da cor Prata Bari), este que está na foto abaixo:
Quase três décadas depois, o valente Uno Mille (ou só Mille, pelo nome oficial) saiu da linha de produção para entrar na história (Fonte: fotosdecarro.wordpress.com). |
Depois dele, nenhum mais: o 2000º Grazie Mille foi o último feito, agora só saudade (fonte: UOL Carros) |
Felizmente a Fiat teve a sensibilidade histórica de preservar o último Mille que ela produziu; o carro, que efetivamente tem o número de chassi com final de n. 6801862 (como consultei no aplicativo do Sinesp e como se pode ver da etiqueta colada no parabrisa na foto de encerramento), está muito bem guardado na fábrica mineira e, esperamos, lá vai ficar por muitos e muitos anos. Deu até saudade do meu Economy...
Enfim, ainda continuo na busca por boas histórias dos últimos produzidos. Aos poucos a gente vai juntando os pedacinhos desse enorme mosaico que é a história do automóvel nacional e, tenho certeza, vai ser uma viagem muito divertida!
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