segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Propaganda da Semana: Galaxie 500 (1972)

Volta e meia eu venho aqui pra falar do Galaxie, do Landau ou até mesmo do LTD. Também pudera, além de gostar bastante do primeiro automóvel produzido pela Ford em nossas terras, o sedã até hoje é lembrado como referência de luxo, conforto e de bom acabamento.

Ainda não tive o prazer de passear (ou seria flutuar?) a bordo de um destes maravilhosos veículos (aceito, de bom grado, convites); na infância eu cheguei a entrar num LTD 1978 que estava numa oficina mecânica para ser transformado, mais adiante, em outdoor. É que enfiaram o LTD amarelo carrera com teto de vinil preto na parede de uma danceteria (Galaxy Clube, era o nome) e, por conhecer os responsáveis pela empreitada, mais do que depressa tratei de ver o bicho antes dele ser emparedado.

Lembro que ele era automático, foi salvo de um ferro velho e não tinha mais motor nem câmbio; basicamente o interior ainda original (mas sujo e surrado), com o volante de quatro raios) ainda com a alavanca de acionamento da transmissão automática. Lembro até de ter anotado o número da plaqueta do bicho (sim, eu era bem observador mesmo na infância) mas perdi esse papel e até hoje me maldigo por não ser cuidadoso... O que ficou foi a lembrança do interior extremamente espaçoso e arejado, muito mais amplo do que o Chevette do meu avô ou Passat LSE do meu pai, características que a Ford, desde o lançamento, tratou de ressaltar, como a gente vê neste anúncio, de 1972:

O tempo passa, o tempo voa e o Galaxie ainda continua amplo! (fonte: memoriasoswaldohernandez. blogspot)
Uma dúzia de pessoas poderia viajar nos Galaxie, LTD e Landau sem maiores crises existenciais; quatro pessoas, então, sentir-se-iam plenamente confortáveis. Duas pessoas até se sentiriam meio solitárias, uma pessoa num sedanzão desses é até desperdício... Mesmo com a terrível alta dos preços do petróleo, consequência dos diversos conflitos e impasses mundiais ocorridos nas décadas de 1970 e 1980, ainda valia a pena ter um destes na garagem: um Galaxie com seis pessoas gastava menos combustível do que três ou quatro fuscas, sem prejuízo ao conforto. Ao contrário, era bem mais interessante.

Ainda não andei num Landau, como já disse a vocês, mas, posso garantir, mesmo sem ter experimentado, que uma viagem a bordo de um tranquilo sedã deve ser uma experiência altamente repousante. Pena que o LTD 1978 "emparedado", o único que até hoje tive o prazer de entrar, não teve sorte: após o encerramento (breve) da danceteria, o Ford foi para um ferro velho e, possivelmente, virou doador de peças para outros irmãos rodarem macios pelas estradas do nosso Brasil.

Um comentário:

  1. Numa revendedora que existia no quarteirão da minha casa (local que mudou de mãos e virou uma oficina pequena), tinha uma caravan comodoro que eu ficava sonhando em comprar. Eu já havia entrado nela várias vezes, mas a questão do espaço nesses carros americanos sempre foi uma coisa a desejar. Entrar naquela caravan e observar que o volante ficava perto demais do meu tórax era incomodo. Seria melhor cortar a barra de encaixe e puxar ele uns 3 ou 4 cm pro painel. Os forros da porta e o carpete do piso eram bons, mais macios do que no corsa da minha mãe. Só que... o forro de teto me deu nojo de ter um carro com tal pedaço de pano pendurado na cabeça. Sei que os diplomata 91 e 92 já vieram com o interior pré-moldado naquele papelão macio, mas... se dependesse de mim, estilista dentro do meu departamento, os carros já sairiam com um interior mais recheado a muito tempo, digamos assim. "Mas o Opala é um Rekord, um projeto 200% alemão", você pode argumentar. Sim, e faz sentido dizer que a Opel sofreu uma tentativa de "estadensizada" quando estavas nas mãos da Chevrolet e isso é um problema para a menor das partes, caso não haja liberdade de se projetar o que quiser.

    O fato é que as forrações de porta, piso e teto eram muito mais finas e frágeis do que hoje. A mentalidade americana era a de te entregar apenas uma lata com um motor relativamente grande e um câmbio rústico. Boa sorte comprando opcionais de fábrica ou no aftermarket. Apesar dos Cadillac serem bem luxuosos, o acabamento final sempre lembrava alguma outra coisa de Impala, Buick ou Oldsmobile. Era tudo plug-and-play mesmo. Tirando as marcas pequenas, todos os grandes fabricantes estadenses passaram por uma brutal padronização de produtos, que foi mais acentuada após a Crise do Petróleo e a estagflação dos anos 1970 e 1980. Não é a toa que o mais barato dos Eldorado poderia perder para o mais caro dos Monte Carlo, a depender do cliente e do mercado. E foi justamente isso que aconteceu durante a Malaise Era.

    Nunca vou esquecer do dia em que voltei de uma dessas festas de aniversário de uma prima, na qual voltei com minha tia no banco de trás de um Civic dos anos 2000. Aquela impressão de interior recheado e realmente confortável voltou na minha mente quando passei a me afirmar no Japanese Domestic Market. Um Nissan Cedric de 1985 era um suprassumo que dava pau em QUALQUER Lincoln, Cadillac ou Imperial. Bônus: gastando menos combustível e dando menos trabalho de manutenção. Dá pra entender porque o pensamento americanista é mais frágil nesse sentido. Eles odeiam quando alguém faz melhor, porque, o interior dos carros asiáticos por muito tempo sempre foi meio chato e sem inspiração, mas... a qualidade na linha de montagem é uma goleada absurda em Detroit. Aliás, até mesmo na Europa. Sem exagero. Os europeus adoram o interior de seus automóveis como obras de arte, mas acabam interpretados como caros demais para o grande público. Mais um gol de placa para chineses, coreanos e japoneses.

    Talvez alguns dos poucos interiores estadenses realmente confortáveis tenham sido daqueles Charger (66-67) e Barracuda (64-69) fastback, quando seu intuito era rebater o banco traseiro e ter um vidro panorâmico pra impressionar tua namorada. Os Riviera do tipo boat (71-73) e yatch (74-76) eram escritórios ambulantes para executivos que adoravam barcos. Os Thunderbird (67-71) e Marquis (68-72) eram carruagens modernas para chegar e sair com estilo em qualquer evento.

    Me afirmei no asian domestic market (hoje não é só o Japão que domina a qualidade dos interiores) e a escolha foi certa. Não planejo ter filhos como os baby boomers - o mundo hoje exige pessoas fortes e necessariamente solitárias, filhos únicos com amigos para chamar de irmãos. Com um interior bem recheado de compartimentos e dispositivos... não quero voltar para a America.

    America is dead my friend, long live Asia. Brazilians are here for them. Arigato, shishi e komawo.

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