segunda-feira, 30 de julho de 2018

Chevette SL 1988 (uma nova saga começa aqui)

Eu gosto muito de automóveis antigos, como vocês já perceberam. Isso é até óbvio para todos que me conhecem: eles sabem que os veículos que se movem pelos próprios meios me encantam desde a primeira infância, até mesmo antes dela.
 
Vai daí o motivo pelo qual não espantei ninguém ao dizer que comprei um Chevette SL 1988, história que passo a contar para vocês a partir de hoje, em todos os detalhes, inaugurando uma nova série neste espaço (e que pretende ser bem longa): as aventuras de ter (e de guiar) um Chevette SL '88.
 
Tudo tem um começo, e dele falo agora: o meu sedã era de um amigo nosso aqui da região, o Jonas. Encontrei-os em um anúncio na internet e após uma breve vistoria constatei que o Chevy era muito interessante.
 
O exemplar, que veio da região de Parobé/RS (certamente onde foi emplacado pela primeira vez) é um SL "básico", pois nem sequer conta com o desembaçador traseiro elétrico, mas tem ar-quente (desativado) e a quinta marcha. Configuração original de fábrica, como o número do chassi atestou numa rápida consulta e que é incomum, sobretudo por causa do motor, um 1,6/S gasolina, numa época em que era mais fácil encontrar um Chevette a álcool e com mais acessórios.
 
A pintura (vermelho mandarim, como informou o amigo Lé0), está um tanto gasta, mas aparenta ser a de fábrica. Os vidros também são os mesmos de 1988 (inclusive com o número do chassi gravado neles, coisa que o modelo 1988 normalmente não tem), como também são os frisos, logotipos e para choques. Bem originais e conservados.
 
O "não-original" fica por parte das rodas de 14 polegadas (mas com o charme da calotinha do modelo DL), do revestimento dos bancos foi trocado pelo do Mille ELX (mas o tecido está bem gasto, por isso instalaram capas protetoras), e das forrações das portas, que não são mais as bege que vieram nele (acho que pintaram de preto, porque vejo ao fundo o bege original). E o silenciador, do tipo esportivo, não era exatamente silencioso. Nem muito original.
 
Quanto à carroçaria, encontrei pouca ferrugem: dois focos no porta malas, sem gravidade. Tem um remendo no assoalho (lado do motorista) e há indícios de que a folha da porta do motorista já foi trocada. E uns pipocados na saia traseira direita. E só. Nada dramático ou assustador. Só o normal para um carro de trinta anos de uso, detalhes que o Jonas me mostrou prontamente quando fui ver o Chevette pela primeira vez.
 
E antes que alguém pergunte, eu digo: sim, ele vaza óleo pela junta da tampa que esconde as válvulas e o comando delas. É um Chevette real, da vida real, normal deixar vazar um pouco de lubrificante...
 
O sedã, mesmo estacionado entre carros mais modernos, não faz feio. Tem um desenho interessante e é delicioso de guiar.
A negociação foi tranquila, rapidamente alcançamos um denominador comum. Fechar o negócio não foi nada difícil: afinal, o Chevette estava bem cuidado e bem íntegro, com documentação rigorosamente em dia, características cada vez mais raras... Jonas cuidou bem do carro e não foi difícil me encantar pelo sedã.
 
A compra foi fechada numa sexta-feira; no sábado eu já fui pra estrada. Afinal de contas, automóveis são feitos pra rodar, e é rodando que se conhece o carro... Fiz um "tiro curto", 170 km (ida e volta) da minha casa até Nova Trento, simpática cidade catarinense que abriga o santuário da Madre Paulina (a religiosa ítalo-brasileira Amabile Lucia Visintainer, canonizada em 2002).
 
Deixarei de fazer maiores considerações sobre a cidade porque este espaço não é um guia de turismo ou de viagens e/ou experiências gastronômicas (raramente tiro fotos de lugares e tenho apetite de avestruz, sem muitas restrições ou exigências); digo apenas que gosto muito da cidade. Sempre que vou lá penso na vida e nas coisas importantes no silêncio das capelas que ladeiam a catedral principal. E em Nova Trento se come muito bem por um preço muito bom. Recomendo fortemente a visita.
 
Depois desse péssimo e conciso serviço turístico, volto ao tema principal, o interessante Chevette: uma delícia de guiar! Filhinhos, não se assustem com a ideia de um volante torto (lado esquerdo mais perto do painel do que o direito), pois a posição de guiar é muito boa. Câmbio em excelente posição, pedais razoavelmente instalados (meus pés 42 às vezes se perdem no curto caminho entre o freio e a embreagem), direção precisa e macia (honestíssima), embreagem fácil e um motor valente.
 
Não o belisquei o sedã nas curvas, até porque eu estou começando a pegar amizade com o carro. Seria falta de educação com ele chegar e querer fazer manobras estrambóticas antes de saber se o Chevette está a fim de fazê-las. Carro tem de curtir com calma, aos poucos, pra não se arrebentar a toa! E já fiz umas estripulias com meu primeiro carro (Um Mille Economy), um kart nas mãos de quem quer andar rápido, já dei vazão ao meu lado piloto há tempos...
 
Mesmo numa tocada mais conservadora, pude sentir que o bicho é equilibrado (ainda mais com os pneus aro 14), tanto que um Chepala 2,5 deve ser uma coisa de outro mundo! Mas o 1,6 original dá conta do recado, só não ter preguiça de trocar marchas e de pisar no acelerador com sabedoria e vontade.
 
Falando do tema, a alavanca do câmbio é dura quando o carro está frio, mas uma dupla-embreagem resolve o defeito crônico. Sério: basta premir o pedal, jogar em ponto-morto, pisar novamente e a marcha desejada entre fácil. Outro macete: pra quem não acha legal esperar um pouco para a primeira marcha entrar, basta chamar a segunda primeiro, a primeira entra mais fácil. E mesmo sem macetes, não é nenhuma tragédia manejar a transmissão com o carro desaquecido. Só é meio duro, muito mais do que o meu Fiesta moderno.
 
Quando quente, só erra a troca de velocidade se não prestar atenção, porque a caixa é precisa e justa. A embreagem está se soltando aos poucos (o carro ficou muito sem fazer grandes passeios), mesmo assim é progressiva. Dá pra sentir quando o torque do motor começa a fazer as engrenagens do diferencial trabalharem. Visibilidade ótima, freios precisam de revisão (pedal tá baixo), mas são coerentes.
 
Tem uma pequena marca de colisão na traseira, nada grave, só desalinhou a tampa e obrigou a troca da lanterna traseira direita. São marcas do tempo, apenas.
Claro, ele tem alguns problemas para resolver: a) má regulagem do carburador (coisa do primeiro estágio, pois o segundo está bem, obrigado), que manda o consumo para patamares de Opala; b) uma válvula do quarto cilindro está fazendo barulho (desreguladíssima); c) pedal do freio está baixo (talvez o servo-freio precise de aposentadoria) e; e) a junta da boia do tanque deixa pingar combustível. São defeitos, eu sei, mas são coisas tão pequenas em relação ao carro que nem me abalei com tudo isso.
 
Sim, meus amigos e minhas amigas: carro antigo é curtição, é pra se sujar de Car 80 e de desengripante, um carro perfeito custa muito caro e não dá a diversão presenteada por um que precisa de alguns reparos. Não, não é loucura: eu acho divertido procurar pequenas peças, sujar as mãos ao regular as válvulas, comemorar quando achar uma peça de menos de dez reais e que ninguém tem pra vender e visitar ferros-velhos atrás de detalhes que só você enxerga.
 
Meu Chevette, além de um veículo, é uma higiene mental, um psiquiatra de quatro rodas, uma curtição. Se você não tolera se sujar ou aguentar ruídos altos ou um pouco de desconforto, melhor nem pensar em ter o seu carro antigo...
 
Enfim, hoje é o primeiro de muitos capítulos desta história, aos poucos vou contando a vocês como é ter um Chevette SL. Posso adiantar que, apesar de alguns desafios, é uma experiência bem legal.

8 comentários:

  1. Nossa,que legal! Parabéns pelo blog maravilhoso e pela bela aquisição. Tenho ótimas lembranças do Chevette, carro preferido da minha mãe na minha adolescência. O último que ela teve era de cor dourada! Grande abraço amigo e sucesso no teu blog!

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    1. Muito obrigado, Marília! Fico feliz que tenha gostado do espaço e eu também tenho ótimas lembranças do Chevette, o do meu avô era um cinza, cresci no banco de trás daquele carro!

      Mais uma vez obrigado e um grande abraço!

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  2. Fico muito lisonjeado por ser citado na matéria, que sem duvidas está espetacular. Demostrou todo carinho que possui pelo carro e por esse exemplar em questão. Aos poucos ele vai ficando cada vez mais bonito e tenho certeza que está em boas mãos. Demorei pra dar meu parecer aqui pois me faltava tempo, mas sempre que posso sou uma passada pelo blog para acompanhar os posts novos e antigos.

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    1. Eu que agradeço por ter cuidado tão bem do Chevette e por ter me passado a responsabilidade de cuidar dele. Aos poucos eu vou atualizando com novidades e quando quiser dar uma volta nele, estás mais do que convidado!
      Grande abraço!

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  3. Oooo meu caro Douglas!!
    Cara, fiquei contente demais de ler essa postagem e ver que vc finalmente entrou nesse mundo Chevetteirístico!
    Seu fascínio pelo modelo já era perceptível há um bom tempo!
    Cara, parabéns pela aquisição!
    Assim que possível, mande mais IBAGENS do carrinho pra eu te ajudar a trazer ele de volta a vida!!
    E só algumas constatações ok.
    A cor dele é Vermelho Mandarin do catálogo de cores de 88.
    Nessas poucas fotos que vc postou, deu pra ver que o carro é muito íntegro e com poucas coisas necessitando intervenção urgente, o mais gritante mesmo é trocar essas rodas e botar uma gravatinha na grade.
    Se vc quiser me add no Facebook, podemos conversar bastante a respeito e talvez eu possa ajudá-lo a ajudar esse SL 88(Tb tenho um SL... o meu é 90).
    Grande abraço.
    Att. Leonardo Gerhard

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    1. Opa, que bom rever você por aqui, Leonardo! Pode deixar que eu vou te add no Facebook (Douglas Antunes) e te encher a paciência com detalhes do Chevette, porque você sabe MUITO sobre esse maravilhoso veículo.

      Você me tirou uma grande dúvida, e eu a explico: meu primo, uns quatro meses atrás, achou um Monza Classic SE 1988 muito inteiro, mas com a pintura (ainda original) bastante gasta. Ele agora está passando o fundo pra pintar e, pela cor, eu pensei que Monzão era vermelho mandarim e o meu era o vermelho cereja, mas acredito que possa ser o contrário... Vou tirar a duvida quando ele realmente for pintar. Mas a maior coincidência é que ele abre o Chevette e dá a partida com a chave do Monza, o contrário não acontece. Vai ver porque na época o Monza era o top e o Chevette o mais básico, hahaha

      E parabéns pelo seu SL 90, carro excelente!
      Grande abraço!

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  4. Boa tarde meu amigo. Agora que vi a sua postagem. Parabéns (um tanto atrasado) pela aquisição do Chevette. Já tive 3, um SL Hatch 1981; um SL 1989 à álcool e um DL 1993 à gasolina, esse último com ar condicionado. Você não vai se arrepender, o Chevette é um carro muito bom, econômico, fácil manutenção, bom de dirigir, enfim você não vai se arrepender. Vou fazer um desenho dele e lhe enviar. Se tiver alguma sugestão para rodas ou algum detalhe estético me fale que eu acrescento. Abraço!

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    1. Olá, meu amigo, fico muito agradecido!
      Você já é sócio deste espaço, ficaria honrado em receber mais um desenho seu (você desenha bem pra caramba!), ainda mais do Chevette, outra paixão da infância que ainda persiste na fase adulta.

      DL 1993 é coisa rara, a gasolina e com ar-condicionado é coisa única. Teve sorte de achar um destes! Faço das suas palavras as minhas: é econômico (mais do que o Fiesta 2011 que me transporta por ai), manutenção tranquila (ruim é achar quem queira regular carburador) e uma delícia de guiar. Subir ladeira com ele é até bom para o estresse: o Fiesta Sedan 1,0 que tenho é uma anemia que dá gosto; o Chevette parece um Stock car perto dele, hahaha

      Estou em dívida com o amigo quanto às Motor-3, mas prometo que vou saldar o débito em breve.

      Grande abraço e muito obrigado pela visita!

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