sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Ford F-1000A, novidade "alcoolizada" em três avaliações (1985)

A curiosidade infantil me fazia imaginar o motivo pelo qual algumas das picapes que passavam pela rua eram mais silenciosas do que outras. Independente da marca ou do ano, logo reparava que algumas lembravam automóveis e outras mais pareciam pesados caminhões... Com o correr dos anos percebi que o motor a diesel, sempre rumoroso e trepidante, por vezes dava espaço para um engenho movido a gasolina ou mesmo a álcool, como é o caso do utilitário da semana, a Ford F-1000A 1985.

Picape Ford movida à álcool não era novidade, pois a F-100 desde 1980 trazia consigo o interessante motor OHC – aquele empregado na linha Maverick desde 1975 e, com pequenas modificações, na linha Jeep e F-75 desde então -, o qual, na versão alcoólatra, rendia 83,1cv em 4.400 rpm e torque de 16,5 mkgf a 2.400 rpm.

Não era tanta potência assim (especialmente se a gente lembrar que a F-100 nasceu equipada com motor V-8) e talvez por isso a carga máxima da picape não ia além de 660 kg de carga, falha esta que foi resolvida pela Ford ao adaptar o Thiftpower 221 – unidade motriz largamente utilizada na Argentina na linha Falcon – ao uso do combustível vegetal, que, ao gerar 111,5cv em 3.800rpm e torque de 25,9 mkgf em 1.600 rpm tornou possível carregar um pouco mais de uma tonelada numa picape Ford movida a álcool.

Nascia, então, a F-1000A, novidade avaliada pela imprensa automotiva de então, a começar pela revista Quatro Rodas, que, em sua edição n. 301, destacou, além do consumo alto, o conforto, o desempenho e a durabilidade dos novos pneus radiais presentes na novidade:



A revista Auto Esporte, em sua edição 249 de igual, percebeu o apetite do 221 seis cilindros, mas também louvou o desempenho e a maneabilidade da picapona, que poderia ser comprada nas cores branco-wimbledon e cinza-pombo-metálica, todas com faixas laterais vistosas e calotas plásticas:




Por fim, a turma da Motor-3, na edição n. 65, gostou da estabilidade e do melhor comportamento dinâmico da F-1000A em relação à Chevrolet A-20, embora reconhecesse que o interior da picape da Ford já estava um tanto quanto desatualizado:






A novidade da Ford foi acolhida com algum entusiasmo – sobretudo em licitações e frotas públicas –, mas não é exatamente fácil encontrar uma destas rodando por ai, especialmente em razão do alto consumo e da escassez de álcool que aborreceu muitos motoristas lá em 1989, exato ano no qual a fábrica apresentou também a versão gasolina do já clássico motor 221. A F-1000A (e a equivalente movida a gasolina) duraram até o ano de 1991, justamente o ano em que a interessante picape recebeu um motor a diesel turbo comprimido, sucesso imediato de vendas. Mas isso é história pra outra prosa.

PS: Sem as informações do excelente blog Falando sobre carros – cuja visita recomendamos fortemente –, a matéria não teria tantas informações históricas e técnicas.

5 comentários:

  1. Oi boa tarde. Tudo bem? Sou brasileiro, carioca e quero apresentar o meu Blogger de Viagens e turismo. Novos amigos são bem vindos, não importa a distância. Gostaria de lhe convidar a seguir o meu Blogger. Sou o seguidor número 15.

    https://viagenspelobrasilerio.blogspot.com/?m=1

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  2. Um dos principais motivos para a Ford ter dado mais certo na Argentina que no Brasil foi o motor Thriftpower Six ter sido feito lá. Só me causa alguma estranheza não ter sido aproveitado e feito lá também o motor HSC que seguia o mesmo projeto básico mas com somente 4 cilindros, a exemplo do que fazia a GM com o motor de 6 cilindros e os 153 e 151 no Brasil ou até o 110 usado no Opel K-180 argentino.

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    1. Pois é, meu caro, são questões que a gente não consegue entender... Obrigado pela visita e os comentários, sempre enriquecedores!

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    2. Tem quem diga que eu às vezes exagero, mas eu insisto que a obsessão pela quantidade de cilindros pura e simples como um fator de prestígio hoje cobra da Ford um alto preço, e numa menor escala a GM também padece desse mal. Assim como hoje se vê muito motor de 3 cilindros, até não me causaria tanta surpresa se a modularidade de motores Chevrolet e Ford antigos de 6 cilindros que deram origem a outros mais simples com 4 cilindros tivesse sido também aproveitada no desenvolvimento de outros com 2 cilindros para automóveis compactos.

      https://cripplerooster.blogspot.com/2019/06/faria-sentido-um-uso-de-motores-de-2.html

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    3. Excelente análise, como sempre.
      E não penso ser exagero, ao contrário: a eficiência é necessária e um bom trabalho de marketing para o consumidor médio poderia ser uma boa ferramenta. Ficamos mal acostumados com os V8 enormes de baixa compressão e quase pouca solicitação (de vida quase eterna) às custas de um consumo absurdo - e se a solução é reduzir cilindros para aumentar a eficiência, por quê não?

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