terça-feira, 15 de setembro de 2020

A resistência de um Chevette SL/E 1988

Em 21/03/1988 um Chevette SL/E 1.6/S movido a álcool (não, aqui a gente não fala etanol), aparentemente pintado na cor verde oásis e com alguns opcionais (rodas de liga leve, vidros verdes e alarme antifurto), foi faturado no concessionário Anhembi para a Editora Abril pelo preço de Cz$ 1.033.000,00. Após receber as chapas ST-9468 - São Paulo/SP, o simpático sedã foi entregue à equipe da revista Quatro Rodas para um longo teste.

Nós já conversamos em outra postagem sobre isso, mas não custa reforçar: a Editora Abril comprava automóveis sem maiores explicações aos fabricantes e os destinava secretamente ao teste de longa duração da revista Quatro Rodas, tradicional avaliação instituída em 1973 com uma Variant que percorreu 30.000km e aperfeiçoada com o desmonte de um Uno CS em 1986, após 50.000km de uso, rotina esta ampliada para 60.000km e até mesmo para 100.000km em algumas ocasiões muito especiais.

Outros Chevette e Marajó foram comprados para a rude avaliação, mas apenas esse adquirido em 1988 foi desmontado após o teste, cujos resultados foram publicados na edição n. 350 da revista (dezembro de 1989). Posso adiantar que o carro - apesar de todas as suas virtudes - , não foi exatamente perfeito na prova, conforme se pode ver (e ler) a seguir:


O interior do sedã foi mantido; a parte mecânica foi totalmente desmontada e revelou desgastes incompatíveis com a tradição de robustez e de bons serviços, certamente por conta de algumas desatenções da rede autorizada.



A correia de acionamento do comando de válvulas se partiu aos 16.405 km e aos 46.578km, mas o conjunto de esticador não foi trocado na última oportunidade e, por isto, poderia falhar e causar a terceira falha de correia... Vazamentos no diferencial contaminaram as lonas de freio, coisas que um concessionário poderia detectar e reparar com alguma facilidade.


Mas as correias partidas não causaram tanto estrago: pior foi encontrar a junta do cabeçote queimada, talvez fruto de vazamentos na bomba de água e da válvula termostática engripada. Uma revisão simples teria resolvido, não acham? Desleixo define.

E isso ainda não era o pior do pior. É que o motor não aguentaria muito tempo, pois a saia dos pistões apresentava riscos (talvez derivados da queima da junta do cabeçote) e o virabrequim (ou árvore de manivelas, se preferir) deixou marcas nas bronzinas de mancal e de biela. Uma retífica seria necessária em não muito tempo, pelo visto...

A transmissão, da mesma forma, revelava desgaste no conjunto platô e embreagem, além de falha no eixo dos garfos de engate das marchas. Tudo bem que o câmbio do Chevette - falo por experiência própria - é um pouco duro nos acionamentos enquanto o óleo está frio; talvez o azar defina essa falha. Como também define o capotamento que o desafortunado sedã sofreu:



O consumo de álcool foi outro problema, mas isso, de certa forma, nós já sabemos: o Chevette a álcool nunca ganhou concurso de economia (ao contrário do gasolina, que, para época, era até razoavelmente econômico). Mas fica chato saber que um Gol GTS, equipado com motor de maior cilindrada e destinado ao uso mais esportivo, consumiu menos combustível...



Nem tudo são flores nessa vida, devemos reconhecer. E esse Chevette foi bastante azarado em sua trajetória, especialmente porque não teve sorte nas revisões, porquanto os defeitos poderiam ter sido muito menores se as revisões fossem mais eficientes: uma válvula termostática engripada e uma bomba de água com retentores estragados causaram a fervura do motor, além da aborrecida quebra de duas - duas - correias de acionamento do comando de válvulas.

É comum a gente lembrar só das coisas boas do passado; todavia, as qualidades do Chevette, apesar de arranhadas com os resultados do teste, podem ter continuado firmes até hoje: espero que esse sedã de chapas ST-9468 - São Paulo/SP ainda exista, e não seria nada mal poder revê-lo em bom estado, nem que seja para redimir os resultados não muito promissores do teste da Quatro Rodas...

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