domingo, 20 de setembro de 2020

E que tal um Passat a diesel?

No verão de 2002, no auge dos meus onze anos, fui à Ponta do Papagaio, paradisíaco lugar para o veraneio no município de Palhoça (Santa Catarina), vizinho ao meu local de nascimento. Eram tempos de BR-101 de pista simples, e para chegar lá era preciso vencer o trecho que margeava o Morro dos Cavalos, local de acidentes terrificantes, mas nada disso assustava os turistas que iam àquele pequeno paraíso para gozar as delícias das férias de verão. E bastante habituado à estrada, também não me assustava com as dificuldades (hoje superadas) do caminho para a praia.

E em um dos verões daquela temporada, observava diversos carros estacionados na orla da praia, alguns deles da vizinha Argentina, muitos deles movidos a diesel. Achava aquilo maravilhoso, pois, aos meus olhos de garoto, somente servia aos caminhões, ônibus e máquinas pesadas... Mas naquele dia vi um cansado Fiat Spazio com o motor do ciclo inventado por Rudolf Christian Karl Diesel e pra mim era o veículo mais econômico que poderia sonhar em ter, pois, ao que contou o motorista do valente Fiat, o carro fazia tranquilamente mais de dezessete quilômetros com um litro de óleo!

Mas o sonho de garoto esbarrava (e ainda esbarra!) em uma série de questões muito adultas, maior parte delas com raízes na economia, nas políticas de Estado e de governo, todas diferentes do que normalmente se trata neste espaço tão singelo. Basta dizer que é ilegal ter um veículo movido a diesel que não atenda determinadas especificidades, como a capacidade de carga acima de uma tonelada (contado o peso dos ocupante) ou, ainda, que não tenha sistema de tração nas quatro rodas e transmissão com redução, regras previstas na Portaria n. 23, de 06/06/1994, do extinto Departamento Nacional de Combustíveis - DNC, então pertencente ao Ministério de Minas e Energia.

E não custa lembrar: o uso de óleo diesel em veículos que não atendiam tais características já era proibido pela Portaria nº 346, de 19/11/1976, do então Ministério da Indústria e do Comércio, coisas que não imaginava aos onze anos, mas que já existiam mesmo antes de eu nascer. Outro fato que desconhecia na época: apesar de ser impossível de comprar, era perfeitamente possível fabricar veículos a diesel e vende-los ao exterior, como a Fiat e a Volkswagen muito fizeram nos anos 1980.

De todo modo, sonhar não custava e o pessoal da Motor-3 era bom nisso, tanto que, ao saber que a Volkswagen tinha em sua frota de testes um belo Passat LDE com quatro portas, tratou logo de pedi-lo emprestado para saber o que todos nós estávamos perdendo:

A edição 31 da Motor-3 e os seus interessantes destaques





Como podem ver, o José Luiz Vieira não encontrou dificuldades em guiar o Passat (só saber os pequenos segredos da partida a frio e ter um pouco mais de paciência em relação ao desempenho) e eu fico a pensar que o LDE seria um excelente Passat Taxi, inclusive - e especialmente - se estivesse equipado com o excelente condicionador de ar da linha, pois economia, durabilidade e conforto não faltariam. Entretanto, os motivos pelos quais não tivemos esse excelente automóvel em nosso mercado são questões que um garoto de onze anos não conseguia compreender, nem mesmo quando se tornou um adulto de quase trinta...

4 comentários:

  1. A última vez que eu vi um Passat LDE foi em 2014 em Rivera, cidade uruguaia que faz fronteira com Santana do Livramento, mas lembro de ter visto muitos carros de turistas argentinos, uruguaios, chilenos e paraguaios com motores Diesel durante verões em Florianópolis. E sou extremamente favorável ao uso de motores Diesel em automóveis pelo menos desde '98 exatamente por influência do convívio com os hermanos. A propósito: um tio meu teve um Suzuki Vitara adaptado com esse mesmo motor, e apesar de ter ficado com um desempenho mais comparável ao de um caminhão Scania 113H carregado fazia 18km/l tanto na cidade quanto na estrada.

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    1. Interessante o consumo do Vitara e fico a pensar em um carro mais aerodinâmico (como o Gol de segunda geração): certamente faria mais quilometragem na estrada. Como ando sempre sem pressa, 20 quilômetros com um litro de óleo diesel seria um sonho pra mim!

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    2. Além da aerodinâmica, seria o caso de levar em consideração a configuração de transmissão mais simples num Gol, e o peso menor.

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    3. Exatamente, sem a tração integral a energia seria melhor aproveitada, em benefício do consumo. Seria adorável ter um Gol, mesmo antigo, com esse motor. Com calma e paciência, poderia ir pra qualquer lugar com um consumo muito baixo de óleo diesel...

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