sexta-feira, 17 de julho de 2020

A resistência de um Opala Comodoro SL/E 1988

Os(as) automobilistas de plantão já sabem que a revista Quatro Rodas compra anonimamente um automóvel e roda com ele por muitos quilômetros, isso desde 1973 quando começaram com uma Volkswagen Variant, teste ampliado dos 30.000Km iniciais para 50.000km e depois 60.000km (com desmontagens ao final das provas desde 1986). A ideia era de submeter um veículo a um uso mais severo (e rápido) para testá-lo em conjunto com a rede de assistência técnica, tudo para resolver a velha pergunta: "vale a pena comprar esse carro"?

Pra ser franco, não leio mais a revista, mas eu a coleciono desde 2000 e o resultado está em quase quatro centenas de edições, algumas delas com os mais variados desmontes. Futuramente, se o scanner e o tempo permitirem, vou trazer a vocês todos os testes de longa duração da revista (ao menos até 1996, período que abrange a minha coleção); por enquanto, é dia de falar de uma dessas avaliações, a única feita com um Opala.

Em 21/06/1988 a Editora Abril comprou um Opala Comodoro SL/E prata lunar com motor 2,5l movido a álcool na concessionária Itororó por exatos Cz$ 2.834.760,00 (dois milhões e oitocentos e trinta e quatro mil e setecentos e sessenta cruzados) e logo o colocou pra rodar. Durante os 50.000 km percorridos, nada muito sério - só os muito aborrecidos problemas de acabamento e uma falha na carburação atribuída à bobina de ignição -, mas o desmonte revelou defeitos graves que mereceriam atenção mais adiante, conforme podemos ler na reportagem publicada na edição n. 353 da revista (dezembro de 1989):

Notem o tanque de combustível aberto exposto próximo ao banco traseiro, naquela época a corrosão assustava os motoristas de carro a álcool (etanol, se preferir).

 

O mais grave foi retratado nessa página: os pistões apresentavam marcas de desgaste irregular nas cabeças, provável defeito de usinagem nos cilindros ou superaquecimento os marcou (acredito na segunda hipótese, pois a junta do cabeçote estava com marcas de vazamento - e corrosão - a indicar que o quatro cilindros poderia ferver em uma solicitação mais pesada). As bronzinas também revelavam marcas, talvez causadas por falhas de usinagem no bloco ou no próprio virabrequim. São falhas incomuns na história desse propulsor: azar define.

Automóveis modernos também têm problemas de acabamento. A carburação comportou-se bem, o que era fato pra se comemorar.

Lembro dessa Kodak S300, usei uma destas em 2000, com um filme Kodak de 36 poses. Bem moderna, nem precisava avançar o carretel para captar a próxima pose, a máquina fazia isso sozinha!

Na publicidade do banco, Gilberto Fernandes, saudoso ator mais conhecido como Gibe.

Ai você me pergunta: valeu a pena ter comprado o Opala? Creio que sim, porque o grave defeito no motor foi um baita de um azar, porque não era exatamente comum ver um GM 151 com falhas assim tão precoces, pois 50.000 km é marca facilmente tolerada por uma unidade motriz robusta e de projeto antigo, de baixa solicitação mecânica. Digo azar porque o engenho talvez enguiçasse antes dos 100.000 km rodados, épocas em que a garantia já tinha acabado e o infeliz dono do bólido teria de se virar e pagar sozinho os reparos (e naqueles tempos não tínhamos o Código de Defesa do Consumidor, lei promulgada dois anos após e que facilitaria muito as coisas para o proprietário).

De todo modo, tirando o problema deste específico exemplar (não me lembro de queixas anteriores ou posteriores sobre a durabilidade do quatro cilindros...), ainda penso que se tratou de uma boa compra. Tudo bem que o Opala, no final da década de 1980, já sentia o forte peso dos anos (novidades muito mais moderninhas, como o Kadett, arrebatavam muitos corações juvenis), mas ainda era confiável e com preço justo. Com sorte, talvez o Opala da reportagem ainda rode por ai...

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