segunda-feira, 4 de março de 2019

Detroit Diesel: você lembra destes motores?

Enquanto eu redigia a postagem sobre o GMC 750, lembrei-me imediatamente da primeira passagem meteórica da Detroit Diesel pelo nosso Brasil: a fábrica, que se instalou aqui em 1973, era uma subsidiária da GM (e, inclusive, contava com o amplo suporte da Chevrolet nacional) e em menos de três anos, após erguer o seu parque fabril, lançou o seu primeiro motor diesel da série 53, o 4-53 (de 4 cilindros da série 53), com potência de 145cv.

Interessante é que, ao contrário de todos os outros fabricantes, os propulsores da Detroit seguiam o ciclo de dois tempos; MWM, Perkins, Mercedes-Benz, Cummins e Scania preferiam o ciclo de quatro tempos e assim seguem até hoje. Não diria que uma escolha é pior do que a outra, mas questões ambientais (dois tempos normalmente polui um pouco mais do que o de quatro tempos) e até mesmo de condução tornam o altamente giratório motor Detroit bastante diferente dos demais.

É que para fazer o dois tempos fornecer a potência necessária, o motorista tinha de pisar mais do que estava acostumado a fazer com os propulsores de quatro tempos, sem o que o Detroit Diesel dava a impressão de ser fraco e pouco econômico.

Mas o pessoal da Detroit estava bastante empolgado e esperançoso: em 1977 vieram os motores 6V-53N (um V-6 diesel de 5,2 l de cilindrada e 213 cv de potência) e o 3-53 (três cilindros de 98cv), já disponíveis opcionalmente para equipar tratores da CBT e caminhões Chevrolet e Ford. Os anúncios abaixo, publicado pelo fantástico blog "Memórias Oswaldo Hernandez" contam aos consumidores a boa-nova:

O novo filtro de ar era necessário à instalação do propulsor Detroit Diesel de dois tempos, mas a Chevrolet tomou o cuidado de divulgar o aperfeiçoamento para mostrar que não fez o serviço de qualquer jeito...
A Ford contou as vantagens do ciclo de dois tempos aos compradores do modelo F-7000: simplicidade de manutenção e bom desempenho com o motor 4-53.
Mas o que era bom, infelizmente, não se tornou lá uma coisa boa: em abril de 1977 a fábrica se obrigou a fazer um recall para resolver os muitos problemas de desgaste do motor Detroit (que diminuía a potência e elevava o consumo de óleo lubrificante). Previsões extremamente otimistas de vendas foram frustradas, não mais do que 9.000 Ford e 28.000 Chevrolet receberam o motor diesel de dois tempos e, neste cenário nada favorável, a Detroit simplesmente encerrou as suas atividades em 1979, deixando muita gente na mão, encerrando, precocemente, a era diesel dois tempos no Brasil.

Muitos proprietários resolveram se livrar dos propulsores Detroit, não foram poucos os que providenciaram uma mecânica Mercedes-Benz (especialmente OM-352 e OM-352A) ou outro propulsor que fosse mais fácil de arrumar e de manter. Os raros sobreviventes hoje são altamente colecionáveis: ou você acha que caminhão antigo também não merece ser preservado?

PS: sem o fantástico artigo do site Lexicar, esta postagem não teria tantos dados interessantes.

2 comentários:

  1. Um teste feito na Inglaterra em 2003 com um caminhão Commer dotado de motor Diesel 2-tempos e alguns utilitários mais modernos com motores turbodiesel 4-tempos e homologados nas normas Euro-3 teve um resultado favorável ao 2-tempos em quase todos os parâmetros, até mesmo na emissão de óxidos de nitrogênio que hoje é mais problemática do que o material particulado que foi a única desvantagem do motor Rootes TS-3 ou "Commer Knocker" diante dos motores do Fiat Ducato JTD, da Sprinter 413 CDI e do Isuzu NPR (modelo que originou o GMC 7-110 que chegou a ser vendido no Brasil até 2002).

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  2. Interessante a sua informação (como, aliás, você sempre trás em seus ótimos comentários)! Tenho simpatia pelos motores 2T e talvez o futuro nos reserve algum propulsor destes com todas as necessárias adequações ambientais. Seria interessante!

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