terça-feira, 1 de abril de 2014

A história da Motor-3 Edição nº. 01 (Julho de 1980)

É bem verdade que a Motor-3 não foi a primeira revista a tratar de automóveis em nosso país. Antes dela tivemos, por exemplo, a Revista de Automóveis (lançada em Março de 1956), a Quatro-Rodas (lançada em agosto de 1960) e a Auto Esporte (novembro de 1964). E que nem se fale nas revistas atuais, certamente mais de uma dúzia circulam periodicamente pelo nosso Brasil, muitas delas dedicadas a um seguimento específico, como carros modificados, antigos e por ai vai.

Mas eu não me canso em afirmar que, se a Motor-3 não foi a primeira, certamente foi a que mais se destacou em termos de qualidade de texto e em inovação, capaz de encantar o leitor entusiasta logo na primeira leitura.

Infelizmente só vi a luz deste mundo quatro anos após última edição desta revista ir às bancas; mesmo assim, por ser fã de carteirinha dela, não poderia deixar de falar nela com mais vagar. Tanto que em outra oportunidade, ocorreu-me uma pequena ideia - a qual teve pronta recepção por parte de dois generosos amigos, assíduos frequentadores deste espaço: e que tal contarmos a história da revista Motor-3?

Decidi, então, aos poucos, contar a história desta revista. Por questões de direito de propriedade intelectual, infelizmente não posso disponibilizar as edições na íntegra, muito embora, escudado no direito de trazer aos leitores boas informações - e criar um saudável debate -, trarei as reproduções das reportagens mais interessantes, assim como a foto de cada capa, uma espécie de "acervo virtual da Motor-3", sem pretensão de ser um repositório de tudo o que já foi feito em termos de Motor-3, mas sim criar um espaço de debate e de discussão da cultura automotiva - e também do jornalismo automotivo.

Convido-os, então, para, ao menos uma vez ao mês, embarcar nessa jornada que é contar a história da Motor-3, uma edição de cada vez, ao menos uma por mês, sempre que possível. Trataremos hoje, como convém a um bom início, da primeira edição da M-3, datada de Julho de 1980.

Esta foi a primeira Motor-3 (foto: spinbrothers.blogspot)
Em verdade, a Editora 3 já tinha antes em seu catálogo a revista Status Motor, a qual foi uma espécie de embrião para o nascimento da Motor-3. Aliás, a M-3 já nasceu pronta, bem definida, com conteúdo fechado com três meses de antecedência, como se pode ler em uma resposta à uma carta na edição 03.

Com preço de Cr$ 100,00 (R$ 22,61 corrigidos pelo índice IGP-DI da FGV), vinte cruzeiros a mais do que a Quatro-Rodas daquele mês, a primeira edição tinha 98 páginas. Duas delas, aliás, eram ocupadas pelo interessante editorial assinado pelo José Luiz Vieira.

Aliás, é bom relembrar que o editorial é a seção da revista/jornal em que os diretores (ou donos da editora) expressam a sua opinião pessoal sobre determinado tema. Um editorial serve para externar os valores daquela publicação, porquanto exprime o pensamento, de modo claramente subjetivo, de quem tem a atribuição de dirigir aquele periódico.

O editorial do JLV é bem interessante e nos traz uma coisa tremendamente interessante: há uma foto em que todos os colaboradores da revista posam ao lado do seu automóvel pessoal. Não me recordo de ter visto isto antes - e isso realmente me chamou muito a atenção. JLV, por exemplo, ao que tudo indica, é o dono do flamante Landau que aparece na extrema esquerda da foto.

(foto: reprodução da Motor-3 nº 01, acervo do nosso colaborador Antônio Quingosta)
Quanto aos testes, a primeira M-3 começou bem: Passat TS Turbo, envenenado pela Enpro; Alfa Romeo 2300 Ti4; Gol L (lançamento à época); além dos rápidos testes do Fiat-Fittipaldi, Faurus ML-929 e da Honda CB-400.

Vale lembrar que a Motor-3 foi a primeira revista nacional a incorporar um decibelímetro em todas as suas avaliações (anos antes a Auto Esporte o utilizou em algumas oportunidades), além de ser a pioneira na publicação dos testes de aviões. E aqui desfazemos um mito: O nome da revista, Motor-3, se deve à editora responsável se chamar Editora-3 - e não pelo número de assuntos tratados na primeira edição (automóveis, aviões e barcos). Até porque a M-3 também lidava com motos, de modo que deveria, se assim fosse, ser chamada de Motor-4...

A matéria de capa, de autoria do JLV, sobre o Chrysler LeBaron 1927, de propriedade do saudoso colecionador Og Pozolli. Lindo carro, diria flamante, marcou a história automobilística mundial - e a da Motor-3 também, é claro.









(fotos: reproduções da Motor-3 nº 01, acervo do nosso grande colaborador Antônio Quingosta)
Adiante, Paulo Celso Facin, nos traz um excelente roteiro de férias para Grã-Bretanha. Nos primeiros tempos da M-3, PCF tratava de turismo, seção posteriormente abandonada pela revista.

Outro destaque da edição é o sensacional texto escrito pelo saudoso Fernando de Almeida (1933-2003), em que ele fala das sensações do vôo. FA, engenheiro aeronáutico formado pelo ITA, era o responsável pela parte de aviação da revista - e escreveu o primeiro teste de aeronave da América Latina. Coisas que só a Motor-3 poderia ter feito...

A M-3teve uma boa estreia. Se você ficou curioso, pode vê-la na integra ao ver no site de um amigo nosso. Xracer, generoso colecionador da Motor-3, disponibilizou as primeiras edições, na íntegra, em seu blog: http://spinbrothers.blogspot.com.br/2011/08/motor-3.html

Brevemente trataremos da segunda edição da M-3. E é muita história, afinal, foram 83 excelentes edições com muita gente boa: Giu Ferreira, Expedito Marazzi, Celso Lamas, Roberto Negraes, Adhemar Ghiraldeli Júnior... Saudade dessa turma!

4 comentários:

  1. Excelente iniciativa de contar a história das edições da nossa saudosa Motor 3, uma a uma ! Era uma época em que as outras revistas estavam acomodadas, quase não havia lançamentos de carros novos, revista nenhuma mostrava testes com carros estrangeiros, viajando para o exterior, como eles fizeram ! As reportagens teste do José Luiz Vieira eram primorosas, mostravam também os aspectos humanos, as sensações de dirigir os carros, voce se sentia praticamente ao volante do carro que eles testavam,
    As demais reportagens com motos, barcos e aviões também foram uma novidade bombástica, por serem feitas pra uma única revista e com profundidade, com os editores andando mesmo nos veículos, não apenas repassando press-releases de fábrica !
    O que eu mais gostava eram as colunas, com a opinião pessoal do editor, em vista das cinrcunstâncias terriveis da época, de recessão, de combustivel racionado, de postos fechados, de uma burocracia totalmente idiota, onde se cobrava até um deposito compulsório (um verdadeiro abuso) para quem queria viajar ao exterior, um governo militar que simplesmente não discutia muito e sim mandava e obedecia quem tinha juizo !
    Será uma série muito interessante, sem dúvida !

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  2. Agradeço o elogio, Xracer - e a inspiração foi do teu blog, com toda certeza. Aproveito a oportunidade para agradecer, em meu nome e de tantos outros admiradores, a tua gentil iniciativa de digitalizar as revistas.

    JLV escrevia muito bem, texto primoroso, poucos conseguiram escrever tão bem quanto ele - e a Motor-3 humilhava nesse sentido: todos eram bons!

    As colunas eram ótimas, começar dizendo que não ia acabar o petróleo foi um "tapa", até hoje temos petróleo a disposição, a hecatombe anunciada não veio...
    Uma das coisas mais absurdas, das tantas coisas absurdas daqueles tempos, era o limite de 80km/h, uma das ideias mais tortas que já vi. O pessoal da QR defendia, mas a Motor-3 malhava o pau, e tinha argumento e conhecimento de sobra!

    Agradeço mais uma vez a visita e o comentário - e o espaço está sempre às ordens.
    Grande abraço!

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  3. Olá, excelente iniciativa, era adolescente quando foi lançada, minha família era ligada a aviação desportiva, o vôo a vela. Estou procura de um artigo do engenheiro aeronáutico e colaborador da revista Fernando de Almeida, neste artigo ele descreve passagem em vôo ao lado do planador Caproni A 21s, e de como ficou impressionado com a velocidade do planador, afinal ele estava num piper Seneca, senão me engano.

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    1. Caro Roberto,

      Temos a sorte de ter completado a coleção de Motor-3 há um tempo atrás, então certamente a edição procurada está nos nossos guardados. Peço um pouco de paciência (recordo do artigo, não exatamente a edição), mas a pequena espera vai valer a pena.

      Vôo a vela é fascinante, na infância eu ficava a observar o aeroclube local e as aeronaves subindo e descendo (às vezes um planador silencioso e solitário), só mais tarde descobrir a sensação de voar, minha estreia foi em um E-190. Só nesse dia eu consegui entender, na plenitude, a força que a aviação exerce na gente... Faltam adjetivos.

      Agradeço o comentário e o espaço está aqui pra isso, revista parada não faz história e é um prazer recordar da Motor-3 e do inesquecível Fernando de Almeida.

      Abraço e até breve

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