segunda-feira, 25 de novembro de 2013

História do Chevette (1983)

Não sou entendido de numerologia, definitivamente esta não é a minha área. Porém, percebo que o simpático Chevette, durante a sua trajetória de vinte anos, passou pelos maiores acontecimentos em anos com final 3: 1973 (data do lançamento), 1993 (quando a produção foi encerrada) e 1983, (ano em que sofreu a sua maior reformulação). 

Além do mais, o número três também está presente no número de carroçarias diferentes da linha (Chevette, Marajó e Chevy 500). E para colocar mais lenha na fogueira do numero três, uma hipotética separação silábica do nome "Chevette" rende três sílabas (Che-vet-te).

Claro, a coincidência só existe na minha mente febril, e essa combinação de eventos relacionados ao número três é apenas uma maneira diferente de começar um texto (ou, se preferirem, um modo para dar ensejo à alguma teoria conspiratória, vai saber?).

Já gastei três parágrafos inúteis, vamos aos fatos: em Outubro de 1982 a Chevrolet do Brasil apresentou o resultado de uma extensa revisão no desenho do Chevette. Sim, foi a maior de todas as re-estilizações, tanto que definiu o desenho básico do Chevette para os próximos dez - e últimos - anos. O vídeo de lançamento é uma interessante prévia das mudanças que passarei a relatar:



Se um distraído olhasse um Chevette 1983 ao lado de um 1982, certamente ele pensaria não ser o mesmo carro. Sim, a mudança foi extensa, bem grande mesmo, a julgar pela quantidade de itens modificados, conforme você pode observar na propaganda abaixo:

"O show do trânsito". Este foi o mote da campanha Chevette 1983 (foto: GMC, via propagandadecarros.com.br)
a) novos para-choques: os modelo 1983 são mais retos, com detalhes cromados na versão mais luxuosa. As ponteiras são de matéria plástica e têm desenho mais reto, formando um ângulo mais agudo na lateral. Os protetores de borracha foram abolidos nesse ano, até porque a porção frontal da peça recebeu uma faixa emborrachada (só para as versões mais luxuosas, aliás);

b) nova grade dianteira: voltou às origens e se tornou peça única, por assim dizer, pois cobre integralmente a área entre os dois faróis. Fabricada em material plástico, ela tem elementos horizontais que ligam os extremos da peça. E a gravatinha da Chevrolet foi instalada na porção central, pra dar aquele charme, como os Opala/Caravan pós 1980;

c) novo conjunto óptico: Os faróis são maiores, quadrados e sem molduras. A luz de direção (o pisca-alerta) agora de tamanho mais adequado, é integrada ao farol - e tem lente na cor âmbar (e que o pessoal na época trocava por piscas brancos, pra dar um charme, né);

d) novo capô (ou capuz do motor, como a GMC costumava definir em seus manuais do proprietário);

e) novo desenho das portas: aqui houve uma certa involução. É que a Chevrolet resolveu atender aos pedidos de muitos consumidores e resolveu instalar quebra-ventos no Chevette (só a versão quatro portas se salvou). Afinal, o Monza, moderníssimo modelo da GMB, também tinha esse acessório altamente requisitado, conquanto anacrônico...;

f) novos espelhos retrovisores: para driblar o inevitável incômodo que os quebra-ventos causam. Opcionalmente eles poderiam ser instalados nos dois lados (outros tempos...);
Notem o retrovisor bem destacado da lateral, um dos jeitos de fazer com que o quebra-vento não atrapalhe a visão (foto: GMC, via propagandadecarros.com.br)
g) novas lanternas: antes o agrupamento das luzes era horizontal e em 1983 passou a ser vertical. A nova lanterna, envolvente, também tem uma cor a mais do que a antiga: o âmbar, a cor da luz de direção. O catadióptrico (conhecido como olho-de-gato) permaneceu no lado interno das lanternas. A Marajó manteve a mesma lanterna, apenas ganhou uma faixa âmbar para luz de direção;

 
A Marajó  também ganhou cara nova, mas a traseira não mudou muito. Já era bem atualizada pra época (reprodução de propaganda do nosso acervo)

h) novas tampas de porta-malas para o Hatch e para o sedan. O desenho básico é mais reto, com quinas mais pronunciadas, bem ao estilo dos anos 80;

i) novos logotipos: agora o Chevette recebia o logo "1.6" e o "Chevrolet" na tampa do porta-malas;

O Chevette ganhou nova roupa para continuar na briga com o Gol -e se preparar para vinda do Escort (1983) e do Uno (1984) (foto: GMC, via propagandadecarros.com.br)
j) novo painel: com linhas mais retas, difusores de ar em tamanho maior, com comandos reposicionados, todos ao alcance das mãos (o cinzeiro é ruim de usar, pois fica proximo à alavanca do câmbio, mas não é nada grave, especialmente pra quem não fuma). Apesar das mudanças, o novo painel também tinha a opção de duas cores (preto, cinza azulado e marrom claro);

k) novo desenho do revestimento de tecido: a linha Chevette de 1983 ganhou novas padronagens de tecido, bem discretas e de costuras retas. Novas forrações de porta foram providenciadas, bem como novos descança-braço e maçaneta interna (ainda não tinha a trava de porta integrada); e,

l) novo volante: agora com dois raios em forma de "v" invertido, trazia no acionador da buzina o nome da versão SL (nas básicas aparecia a gravatinha da Chevrolet);

(foto: GMC, via propagandadecarros.com.br)
m) novo motor 1,6 a álcool: talvez a novidade mais aguardada pelos compradores, com cilindrada de 1,6l e de 79 cv de potência (medidos na norma SAE), e torque de 12,4 mkgf, certamente foi um dos itens mais comemorados pelos consumidores. Assim, a gama de motores era de quatro opções, duas de deslocamento (1,4 ou 1,6), ambas com duas opções de combustível (gasolina ou álcool);

n) novo câmbio de cinco velocidades: a Chevrolet, naqueles tempos de economia, disponibilizou a nova transmissão de cinco marchas para os seus modelos da linha. Evitando maiores custos operacionais, a GMC procurou não alterar as relações de marcha anteriores, apenas acrescentou a quinta velocidade, com relação de 0,84:1.

Mas nada melhor do que o inesquecível Celso Lamas, consultor de estilo da inesquecível Motor-3, para resumir bem as evoluções estéticas dos nossos queridos carros, conforme podemos ler desta interessante reportagem da edição n. 29 (novembro de 1982) da tão comentada revista:


 
CL era sempre muito crítico e não se acanhava em criticar ou elogiar. Também pudera, dirigiu por anos o departamento de estilo da Chrysler do Brasil antes de escrever para a Motor-3
Ufa, a lista de novidades não foi pequena... E procurei ser bem objetivo e sucinto, porque estas foram apenas as principais alterações da linha 1983. As versões se mantiveram as mesmas, apenas a versão esportiva S/R foi suprimida. E por falar no S/R, ele foi o último esportivo da linha Chevette. Vendeu pouco, mas deixou a sua marca na história da linha.
 
E por falar em vendas, 1983 rendeu 85.984 unidades vendias, uma ótima marca. Aliás, foi o último ano de produção em que as vendas superaram a casa das oitenta mil unidades. E segue o teste da revista Quatro Rodas com o lançamento do Chevette para o ano de 1983:




 
Postagem atualizada em 07/06/2020, com novas imagens e informações
 

16 comentários:

  1. Excelente reportagem!!!! Parabéns pelo texto!!!!

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  2. Comprei meu chevette a um mes, 1983 sl 1.6 alcool bege interior marrom, como o da foto

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    1. Parabéns, Yago! É um belo carro, sem dúvida. E estão ficando raros estes modelos 1983.

      Grato pela visita e pelo comentário.

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  3. Só queria achar uma mina de ouro, os estoques de peças da GM do Chevette originais, parabéns ao poster

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    1. Também estou na procura de algumas peças originais para o meu Chevette SL 1988, hehe. Mas um dia se acha algo bacana escondido em algum lugar. Grato pela visita e pelo comentário!

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  4. Tenho um chevette 1983 dourado , mais trocaram o interior dele todo , colocaram bancos de monza e o painel de outro chevette .. agr que estou colocando tudo que pertence a ele ..
    Um ótimo carro , não me deixa na mão..

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    1. É um carro fantástico, divertido e muito robusto. Fico feliz de saber que estás devolvendo o Chevette à originalidade (porque era comum acrescentar detalhes pra deixar o carro mais confortável e mais atualizado, como os bancos de Monza), a tarefa é dura, mas vale a pena.

      Grato pela visita e pelo comentário!

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  5. Inacreditavel lata velha do luciano hulk colocou um se com frisos largos e volante com logo "se" como se fosse um 1983 placa preta...eita globo mentirosa

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    1. Certamente foi por uma economia e prazo curto (se não tem a original, vai essa mesmo...), pois o pessoal que reforma sabia (ou tem condições de saber) dos parâmetros de originalidade. Mas, pelo pouco que vi da matéria, os donos do carro vão deixar tudo como era quando novo.

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  6. Comprei essa semana uma Marajó SL 1983, bege, interior marrom, 1.4 (originalmente a álcool, porém transformado para gasolina), 4 marchas. Estou apaixonado pelo carro!

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    1. Imagino que esteja gostando bastante, porque a Marajó, mesmo com motor 1,4, é um carro muito bom de dirigir (tração traseira, boa estabilidade e aerodinâmica levemente melhor do que a do Hatch e a do sedã). E a sua parece ser original - e a transformação de álcool pra gasolina foi muito comum em 1989, justamente quando o combustível vegetal começou a faltar nos postos... Até nisso a Marajó tem história.

      Parabéns pela aquisição!

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  7. Comprei o meu SL 83 faz 1 ano, cor prata azulado, interior monocromático, 1.6 a gasolina de fábrica, não tá zero, mas é bem difícil de achar um no mesmo bom estado, ainda ajeitando detalhes nele.

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    1. Você tem um ótimo Chevette, meu caro!
      Essa cor prata azulado é muito boa e o fato de ser monocromático o torna ainda mais interessante, sobretudo por ser gasolina de fábrica (naqueles tempos o propulsor a álcool já começava a ganhar a preferência quase total dos consumidores).

      O legal mesmo é ter um bom exemplar e garimpa-lo até deixar do jeito que se quer, é um trabalho por vezes cansativo, mas é altamente recompensador!

      Parabéns pelo carro e grato pela visita

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  8. Também comprei ano passado o meu SL, gasolina, 4 marchas, Bege, interior monocromático. Sou o terceiro proprietário, sempre foi da mesma cidade no interior da Bahia, carro muito original.

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    1. Excelente compra, Cláudio, os SL bege com interior bege são muito interessantes, estão ficando raros, sobretudo os originais. Parabéns e obrigado pela visita!

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