Não lembro com muita exatidão, mas tenho a impressão geral de que ocorreu em 2004. Era uma dessas noites de inverno, céu sem estrelas e de escuridão ampla, fracamente combatida pela iluminação dos postes do meu bairro, todos com lâmpadas de vapor de sódio e amareladas. E foi sob esse efeito que vi parar na frente de casa um Monza Classic SE 1991, construído no ano em que nasci, quatro portas, preto por dentro e azul drava por fora. Imaculadamente polido e muito original.
O chato é que as janelas estavam com películas daquelas bem fortes; mas, naquela escuridão vencida pelas luzes amarelecidas, até que o conjunto era belo, embora pouco prático para guiar. Mas há uma explicação: era (e ainda é) moda entre o pessoal mais jovem o uso de películas inacreditavelmente opacas e o carro pertencia a um amigo de meu irmão, daí o motivo dele ter parado na porta de minha casa. E a razão pela qual ostentava as ditas películas, que arrancaria de bom grado.
Quando se é jovem a gente não se preocupa em disfarçar as sensações e eu mesmo fiquei comovido com aquele Monza, tanto que esse amigo do meu irmão logo percebeu e me deixou entrar no carro e ficar a vontade em conhecer o sedã. O detalhe do painel digital - hoje tão evoluído como um Atari 1978 - encheu meus olhos e me deixou bastante impressionado. Não que eu fosse um jovem impressionável, mas, para 2004 (e sobretudo para 1991), o Monza com acabamento topo de linha era confortável, macio e mais tecnológico do que outros veículos conhecidos. Um tremendo automotor.
Esse amigo do meu irmão logo se mudou pra outro lugar e não mais o vi; o Monza foi com ele e também não mais tive a oportunidade de entrar em um Monza Classic SE daquela safra, mas a impressão geral foi - e é- tão duradoura que me voltou ao folhear os meus guardados e ler esta avaliação do Bob Sharp para a Oficina Mecânica, na qual ele testava a mais recente novidade da linha Monza, o modelo 1991, com novo desenho pra frente e traseira. A avaliação tem fotos muito boas de Mário Villaescusa e cuja íntegra vale muito a pena ser lida e apreciada:
Sharp, como podemos ver no resumo final exposto no quadro acima, ficou descontente com o desempenho (mercê que estava do motor com alimentação mediante carburador, já não exatamente moderna), a necessidade de aprimorar a ergonomia em relação aos assentos e cintos de segurança, além do ruído do vento provocado pelas laterais, que não receberam mudanças na reforma de estilo do veículo.
Logo depois o motor com injeção eletrônica deu um certo fôlego (sobretudo o sistema multiponto), mas as limitações aerodinâmicas e de conforto ficavam bem evidentes com o Omega, até porque a versão GLS, pouco resistente na luta com o ar, andava mais do que o Monza, apesar de ambos usarem o mesmo motor. Sim, sinal da idade do projeto, não há dúvida. Todavia, o Monza ainda continua a ser um carro muito bom. E se pudesse, teria um Classic SE, de qualquer cor, quatro portas para encarar boas viagens com bastante tranquilidade e em velocidades bem razoáveis...
Meu avô materno chegou a ter um Monza "tubarão", mas com duas portas, e até onde eu me lembre foi o primeiro carro com ar condicionado que ele teve. O ano eu realmente esqueci se era '93 ou '94.
ResponderExcluirQuanto às noites e madrugadas de inverno florianopolitano por aquela época de 2004 a 2006, eu lembro bem. Acordar ainda com o céu encoberto e ir caminhando até o terminal da Trindade, e mesmo sem chuva o orvalho deixava tudo encharcado.
O Monza tubarão, mesmo o cupê, era interessantísmo e ainda o é até hoje. O ar condicionado dele, aliás, era muito bom e lembro de ter andado em um SL, taxi e quatro portas, com o ar geladinho naquela época, era um luxo!
ExcluirEntre 2005 e 2007 fiz o meu ensino médio no IEE, morava em São José e acordava cedo para as aulas, essa lembrança do orvalho é muito viva (não raro embaçava até as janelas do ônibus); continuei a acordar cedo de 2008 em diante para a faculdade, e o sereno, como diz o ilhéu, era constante nessa época de inverno.
Obrigado pela visita!
2007 eu morei no centro, então já podia sair de casa sem tanta pressa. Às vezes ainda pegava o nascer do sol, mas nada igual ao que acontecia quando morei na Trindade.
ExcluirTenho visto uma quantidade razoável de Monza dessa época em Porto Alegre ultimamente. Até vi um GLS com 4 portas perto do Parcão que me chamou muito a atenção por estar aparentemente original por completo.
ResponderExcluirVi recentemente 2 Monzas tubarão a diesel em Aceguá, no lado uruguaio da fronteira (a cidade do lado gaúcho tem o mesmo nome, vale destacar), e talvez o que mais tenha me chamado a atenção foi serem de duas portas, tendo em vista os países vizinhos já terem sido mais receptivos a carros com 4 portas na mesma época que aqui se insistia nos de duas portas. E vi um SL 1.8 também de duas portas, ano '91, quase 100% original (faltando só alguns logotipos na tampa traseira) no centro de Bagé.
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