sábado, 26 de março de 2022

Um Karmann-Ghia que voa... (1966)

Dia desses comentamos aqui das novidades que a Volkswagen preparou para o modelo 1970 do interessante Karmann-Ghia: além das modificações estéticas (a mais marcante delas foi a adoção de um terrível quebra vento), a fábrica reforçou a saúde do bicho ao adotar o motor 1600.

Sim, aquele conhecidíssimo propulsor de disposição boxer, arrefecido a ar e alimentado por um carburador gerava a potência de 60cv a 4.600 giros por minuto e o torque é de 12 kgfm a 2.600 rotações por minuto; tais números - hoje muito modestos - eram responsáveis pela melhora substancial na performance do belo modelo, que desde então conseguia atingir a velocidade máxima de 140 km/h. Não era algo capaz de assustar, mas se tratava de um bom alento se a gente for imaginar que o modelo de 1962 era equipado com o propulsor 1200 de minguados 36cv...

O Karmann-Ghia era - ainda é e sempre será - um belíssimo carro; no entanto, sempre teve a imagem de um carro um tanto soneca e isso, de certa forma, deixou muita gente inconformada. Ora, é natural pensar que o comprador em potencial de um veículo de vocação esportiva espera um comportamento dinâmico mais convincente e isso dava uma certa desanimada para quem gostava de performances mais altas. Problema que a Envemo logo tratou de sanar.

Antes que você me pergunte, confirmo: sim, a Envemo (Engenharia de Veículos e Motores Ltda.) - aquela firma conhecida por se dedicar comercialmente ao aperfeiçoamento de produtos da Chevrolet (além de ter concebido uma réplica magnífica do Porsche 356 no começo dos anos 1980) - começou as suas atividades em 1966 com a preparação de motores Volkswagen e a consultoria de Chico Landi, e desde então fazia maravilhas: eles conseguiam extrair mais de 100cv de um pequeno boxer!

Mas não foi esse o caminho da Envemo para tornar o Karmann-Ghia ainda mais interessante e esperto, pois a empresa teve a ideia inteligente de aplicar um motor do Chevrolet Convair no Volks. Sim, aquele Chevrolet que foi alvo de extensa propaganda por causa de seu comportamento dinâmico pouco previsível (explorado em livro por um advogado, Ralph Nader), mas mecanicamente interessante por ser um veículo de motor traseiro arrefecido a ar em um mercado acostumadíssimo aos motores dianteiros arrefecidos por solução líquida. 

Talvez daí nasceu o interesse da Envemo com a fabricante americana, mas, seja como for, o resultado do KG-Convair é dos mais interessantes, como o pessoal da Auto Esporte verificou in loco na edição n. 23 (setembro de 1966):





Não tenho notícia se algum Karman-Ghia-Convair sobreviveu. Se alguém souber de um e quiser fazer a fineza de convidar este que vos fala para dar um passeio - ou num arroubo de generosidade, para permitir que eu o guie numas voltas -, sinta-se muito à vontade! Afinal de contas, deve ser um possante dos mais interessantes. E que não dorme em serviço!

3 comentários:

  1. Adaptações de motores Chevrolet na linha tradicional da Volkswagen estão longe de ser algo impensável, mesmo com motores mais austeros e facilmente encontráveis. Chega a me surpreender que a princípio nunca tenha aparecido um Karmann-Ghia com o motor 153 do Opala 4 cilindros, que na África do Sul havia quem afastasse na Kombi.

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    1. Lembro de ter lido em alguma versão da revista Oficina Mecânica sobre a adaptação improvável de um V-8 302 da Ford em um Karmann-Ghia (quase uma cadeira elétrica com quatro rodas) e fiquei muito impressionado. E realmente, apesar de ter visto motores Chevrolet (especialmente os da linha Opala) adaptados em diverso veículos (de Jeep até Alfa Romeo 164), nunca vi em Volks. Taí uma ideia que o pessoal que gosta de mudanças poderia adotar.

      Grato pela vista e os comentários, sempre valiosos!

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    2. Lembro da matéria sobre aquele Karmann-Ghia com o V8 da Ford, mas aquele lá praticamente foi todo reconstruído, nem o chassi original tinha sido usado mais. O motor foi montado à frente, mas nas adaptações da África do Sul com o Chevrolet 153 na Kombi ainda se mantinha o motor atrás.

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