domingo, 24 de outubro de 2021

Teste da semana: Ford Rural 4x2 (1975)

Não é necessário escrever muito sobre o Jeep: afinal, todos conhecem a história (ou têm boas noções) do veículo projetado para ser uma máquina em tempos de guerra e se tornou uma excelente ferramenta em tempos de paz. Jeep - ou jipe, de uma forma mais aportuguesada - virou sinônimo de utilitário com tração nas quatro rodas, caixa de redução, construção muito robusta e com a capacidade de vencer obstáculos no fora-de-estrada, ainda que o conforto seja deixado em um plano secundário (talvez terciário).

Gosto dos jipões (tenho grande curiosidade em guiar um Toyota Bandeirante em uma trilha), mas há um utilitário tem um lugar especial na minha memória afetiva: a Ford Rural. Nunca andei em uma, mas cresci ouvindo minha mãe (e meu avô materno) contarem dos muitos passeios que a família fez a bordo de uma (cortesia do patrão do meu progenitor, que emprestava a Rural azul e branca para uso no final de semana, inclusive sem ligar pra gasolina, que era baratíssima). Veículo amplo e bastante robusto para o caminho entre as ruas mais precárias da Florianópolis das décadas de 1960 e 1970, a Rural foi o veículo de lazer por muitos anos e por muitos caminhos.

Claro, a Rural, mesmo naqueles tempos, não poderia ser considerada moderna. Mas ninguém dava a mínima para isso, pois a robustez proverbial e a construção sólida eram suficientes para os rudes caminhos de terra, além da versatilidade e era isso que bastava. Aliás, a Rural durante a semana trabalhava para uma madeireira (a tração integral ajudava muito nas picadas feitas para se alcançar as toras a serem extraídas; a capacidade para seis lugares era ideal para levar os trabalhadores em lugares pouco acessíveis) e nos finais de semana, após limpa e lustrada, servia calmamente como veículo urbano para um casal e três filhos menores. Cadeirinha era impensável, cinto apenas o meu avô usava (e era o que segurava as calças dele), tempos em que a preocupação com a segurança era muito, muito e muito menor do que hoje...

Mas antes que você pense que a Rural (que, por sinal, acho muito bonita, mesmo hoje) era um veículo totalmente anacrônico, ai se engana: a Ford utilizou um excelente trunfo para atualizar o modelo para a linha 1976, que foi o excelente motor 2300 - quase o mesmo empregado pelo Maverick (pequenas modificações mais próprias para o uso em um utilitário eram necessárias à linha Jeep/Rural o tornam diferente) -, substituto do clássico BF-261 de seis cilindros em linha. E você achava que o downsizing é coisa atual? Não é...

Se você ficou curioso(a) para saber dessa atualização, deixo aqui uma avaliação feita pela revista Auto Esporte (edição de dezembro de 1975), por meio da qual podemos ter uma boa noção do impacto desse novo propulsor de quatro cilindros na clássica Rural:




Diferentemente de hoje, a Rural não servia para ostentar luxo e desempenho em um pacote de mais de tonelada e meia de peso líquido, porquanto se tratava de um veículo essencialmente utilitário, mas que poderia ser empregado como veículo de passeio, respeitados os limites e com muita dose de bom senso do condutor.

No entanto, uma portentosa caminhoneta de hoje, cheia de chips caríssimos e escassos no mercado mundial, talvez não ofereça uma longa vida de ótimos serviços prestados com baixo índice de aborrecimentos quanto aqueles desempenhados por uma Rural. Tampouco, penso eu, a modernosa SUV de hoje traria tantas lembranças quanto aquela inesquecível Rural do patrão do meu avô...

6 comentários:

  1. Na prática, as versões 4X2 tanto da Rural quanto do Jeep CJ-5 eram o que mais se aproximava ao conceito de um veículo "universal" como Henry Ford propunha com o Ford Modelo T.

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    1. Excelente observação!
      A Rural (assim como o Jeep e o F-75) tem uma mecânica muito simples, robustez proverbial, custo de produção até baixo pra época (projeto amortizado há anos, aliás) e com vocação para os mais rudes trabalhos sem impedir o uso na cidade. Tirando a triste propensão à corrosão da carroçaria e a falta de conforto, um utilitário excelente e diria universal para quem necessitasse de um veículo para diversos usos.

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    2. E o tamanho também acaba sendo menos exagerado que o de alguns carros generalistas de hoje. Quanto à corrosão de carroceria, hoje eu se escolhesse uma Rural ou um Jeep para uso diário consideraria uma carroceria em fibra de vidro, na impossibilidade de importar uma daquelas carrocerias feitas em aço inox nas Filipinas, onde apesar da cultura do Jeep ter se consolidado mais em torno dos "flatfenders" também eram oferecidas peças para modelos como o CJ-5 e o CJ-7 por fabricantes de carrocerias para reposição e que eram até exportadas para os Estados Unidos.

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    3. Não conhecia essa possibilidade de ter as carroçarias de Filipinas no CJ-5 e CJ-7, é uma opção muito válida para resolver o proverbial problema de corrosão destes utilitários.

      Pela praticidade, talvez empregasse uma carroçaria de fibra de vidro (pela facilidade de trabalhar com este material ao invés do inox), além da vantagem de um peso um pouco menor. Perfeição seria aposentar o valente BF-261 (ou o interessante 2300) para instalar um bom motor diesel, uma direção hidráulica honesta e um ar-condicionado potente... e ai eu já estou sonhando acordado.

      Grato pela visita e por seus comentários, sempre muito enriquecedores!

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  2. Poste o teste do modelo 4x4 que foi testado antes do 4x2.

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    1. Não disponho, infelizmente, da edição na qual foi testada a Rural 4x4; se eventualmente eu a conseguir, publicarei aqui.

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