sábado, 16 de outubro de 2021

Que tal um Monza sem pedal da embreagem? (1984)

Gosto muito de dirigir. Não muito de enfrentar o trânsito de minha cidade (que sofre de aterosclerose incurável) e muito menos de manobrar (passei na primeira tentativa no teste de volante na época da primeira habilitação, digo sem me gabar, mas tenho histórias de balizas não muito bem sucedidas). Mas são facetas inescapáveis de quem guia um automóvel numa cidade repleta de veículos e escassa de vagas, são sucessivas trocas de marcha feitas a cada volta em meu Uno Eletronic 1993, que tem uma terceira marcha manhosa e uma primeira arranhante.

Claro, apesar de o meu Fiat não ganhar concurso de precisão nas trocas de marcha - defeito folclórico que a Fiat eliminou de sua história, mas não do meu simpático carrinho -, sei que estou em um bólido muito privilegiado: não preciso me preocupar, por exemplo, em executar a dupla-debreagem, aquela técnica necessária para não moer engrenagens de câmbios não sincronizados (secos, como se diz na gíria). Quem andava pelas nossas estradas com um caminhão FNM, por exemplo, ficava tão perito nisso que até mesmo passava a sentir precisamente as rotações do motor e mudava as velocidades (e selecionava a velocidade do diferencial, inclusive) sem nem precisar chamar a embraiagem.

Porém, nesses dias de trânsito complicado e de estado de espírito não muito elevado fico a pensar o quão interessante seria ter um carro automático de quando em vez, pois essa história de que a transmissão que troca sozinha as marchas é ruim já virou folclore faz tempo... Hoje temos transmissões fantásticas, com ampla gama de velocidades e até mesmo contam com a possibilidade de programar eletronicamente as trocas, uma coisa que os pioneiros jamais imaginavam.

Sim, porque a incrível Enciclopédia do Automóvel (editada pela Abril na metade da década de 1970, ricamente ilustrada, habilmente traduzida do italiano e com verbetes relacionados à nossa história) nos conta que a primeira transmissão automática não é recente, pois Hermann Fottinger criou, em 1908, o primeiro acoplamento hidráulico para uso em embarcações, invento este aperfeiçoado pela Leyland, em 1926, para uso em seus ônibus. Em 1930, a Daimler trouxe a Fluid Flyweel, transmissão semi-automática para uso em veículos; no mesmo ano apareceu a Hydramatic - a mais prática e automática pra valer de todas -, e o resto é história...

História à parte, fico a pensar como seria ter um carro médio, um Monza por exemplo, equipado com a transmissão hidramática e até mesmo um ar-condicionado, isso num dia de tráfego intenso durante o verão. Certamente seria um repouso para a alma do motorista já exasperada pela fila interminável nas pontes que levam e trazem os circunstantes para a Ilha de Santa Catarina. Puxa, seria interessante e confortável, mas não vamos só imaginar, pois hoje é dia de ler a interessante avaliação feita para a edição n. 237 da revista Auto Esporte, na qual podemos ter uma ideia muito precisa de como é guiar um Monza sem o pedal da esquerda:





A vida, no fundo, é uma medalha com dois lados: um agradável e outro não tão positivo. O anverso do Monza automático é o óbvio conforto proporcionado pela transmissão; o reverso é a perda de desempenho (não tão enorme), o acréscimo no consumo e o fato de só dispor de três velocidades (suficiente para um motor com alto torque e baixa rotação, não tão legal para o interessante propulsor do Monza). Mas enquanto estou num engarrafamento daqueles, fico a pensar que seria muito bom ter um Monza desses para guiar durante essas horas do dia...

10 comentários:

  1. Eu tenho um problema grave nos joelhos, então já era muito mais favorável ao câmbio automático mesmo antes de chegar à idade para tirar carteira de motorista, e de uns anos para cá não faço a menor questão de dirigir carros com câmbio manual. Já cheguei até a dirigir uma minivan Pontiac Trans Sport com o motor 3.1 de injeção monoponto (na verdade eram 2 injetores, embora fossem situados imediatamente acima da borboleta da admissão) e esse mesmo câmbio do Monza automático, embora o meu primeiro contato com um automático também numa Pontiac Trans Sport tenha sido com o motor 3.8 de injeção multiponto e um câmbio já com 4 marchas e controle eletrônico. E com relação ao uso urbano, especialmente em cidades como Florianópolis onde o espaço realmente é um tanto escasso, vale lembrar o caso daqueles carros japoneses da classe kei, que mesmo com motores de até 660cc costumam ser oferecidos com câmbio automático, inclusive um de 3 marchas ainda usado em algumas caminhonetes Suzuki que é basicamente uma versão mais antiga do câmbio atualmente usado no Jimny Sierra com 4 marchas.

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  2. Curiosamente, ainda não dirigi um carro automático, só andei em alguns como passageiro, por isso fico a imaginar a sensação de conforto e bem-estar em guiar um Trans Sport (e que é um carro muito interessante, pena que não vi um pessoalmente).

    E o trânsito de Floripa é dos piores, a ideia de um pequeno carro para essas voltas mais citadinas é ideal, até para conseguir estacionar com mais tranquilidade (não raro vejo gente com uma S10 cabina dupla passeando pelo centro de Floripa, não tenho essa habilidade nem essa paciência pra manobrar quase seis metros de lataria numa vaga). Um desses "kei car" seria excelente para esses espaços tão escassos!

    Obrigado pela visita e os comentários, sempre muito enriquecedores!

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    1. Na época que a Rua Álvaro de Carvalho descia em direção à Francisco Tolentino, eu cheguei a ver uma Pontiac Trans Sport roxa na esquina com a Felipe Schmidt em 2004. Depois ainda vi essa mesma Trans Sport no Morro da Cruz.

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  3. Douglas, você com certeza (parodiando o carro a álcool) ainda vai ter o seu carro com transmissão automática ! É uma comodidade e conforto, sem duvida ! Quando morei nos EUA tive um Corolla 2017 com cambio CVT e ao contrario do que muitos dizem era excelente em desempenho e economia, sempre andando em baixa rotação aproveitando a faixa de torque máximo. Fazia uma simulação de 7 marchas, caso se pisasse mais no pedal e um modo Sport em que as respostas ao acelerador ficavam mais rápidas e muito divertido. No para e anda do transito urbano era muito menos estressante, pode ter certeza ! Quanto a esse Monza 1984 a transmissão automática era bem fraquinha, só 3 marchas que elevavam a rotação na estrada por demais (e o consumo junto) e pesando também no desempenho. O beneficio era aquilo que citei, a tranquilidade. Ainda bem que essas transmissões evoluíram sobremaneira nos últimos anos !

    Sugiro que publique também alguma matéria que saiu na Enciclopédia do Automóvel, que te chamou a atenção.

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    1. Até a minha avó materna, antes radicalmente contra o câmbio automático, cedeu a essa conveniência. No tocante ao CVT, é interessante que alguns carros conhecidos no Brasil desde a década de '80 tiveram essa opção na Europa.

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    2. Puxa, Xracer, um Corolla com câmbio CVT (e suspensão com calibragem pro mercado americano) deve ser uma delícia de guiar, sobretudo no tráfego pesado. E como você bem disse, chega perto das 60 mph com facilidade (e certamente passa fácil desse limite, hehe). É um "ovo de Colombo" dos bons, porque permite um consumo modesto, desepenho convincente e total conforto na hora de tocar.

      Aqui, infelizmente, as três marchas não são a melhor coisa do mundo para o Monza, Santana, Versailles e companhia (lembro, aliás, de um Santana GLSi branco peróla lindo, automático, que ficou anos numa loja aguardando comprador, dava dó).

      E gostei muito da ideia de resgatar algo da Enciclopédia, tem muito artigo interessante nela e brevemente farei uma série sobre os carros interessantes e curiosos.

      Grato pela visita e a ideia!

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    3. Bem lembrado, meu caro cRiPpLe_rOoStEr, o Uno Selecta é o que vem na minha lembrança, seria ótimo ter uma transmissão destas no meu Uno, porque a terceira marcha gosta de arranhar, a ré é meio tímida (por vezes não aparece quando chamo) e a primeira sempre arranha, até parado.

      Grato pela visita!

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    4. O mais louco é que o Fiat Uno Selecta chegou a aparecer até na Venezuela.

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  4. Recentemente vi um Monza 89 de duas portas com câmbio automático, me chamou muito a atenção.

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    1. Nesse último ano não vi nada parecido, não raro os proprietários dos automáticos faziam a adaptação para a caixa de acionamento mecânico, uma pena pela perda do conforto no caótico trânsito da cidade...

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