terça-feira, 13 de abril de 2021

Chassi antigo, roupa nova: Marcopolo Paradiso Volvo B10M (1992/1995)

Dentre tantas informações interessantes e valiosas que podemos ler no site Lexicar, há o verbete sobre a fabricante paulistana de carroçarias MOV. Antes uma firma dedicada à fabricação de veículos blindados para o transporte de valores, a crise financeira que grassava pelo Brasil de 1990 motivou a diretoria a buscar novos mercados, agora o de carroçarias para ônibus.

A ideia de ingressar neste seguimento não foi iniciativa pioneira da MOV: Cobrasma, Santa Matilde e Mafersa - todas empresas do ramo ferroviário - também se lançaram à fabricação de carroçarias para ônibus, mas nenhuma delas alcançou aquilo que se pode chamar de sucesso retumbante, nem mesmo a que hoje focalizamos.

O primeiro produto lançado em 1991 pela MOV foi um micro-ônibus (posteriormente batizado Passeo, no ano seguinte) próprio para o encarroçamento em plataformas Mercedes-Benz e Volkswagen; depois, em 1992, a fabricante aproveitou a Expobus para apresentar ao público o segundo modelo do seu portfólio, o modelo rodoviário Presence.

Conforme lembra o site Lexicar, a novidade 

[foi montada] sobre chassi Volvo B10M de três eixos, com 12,80 m de comprimento, 3,50 m de altura e estrutura em aço, o veículo agregava todos itens de conforto e acabamento usualmente vistos nos rodoviários de luxo nacionais: encosto das poltronas com regulagem contínua, iluminação fluorescente, ar condicionado, controles individuais de iluminação e ventilação, botão de chamada da comissária, banheiro com extração pneumática dos detritos e vidros fixos. A “rodomoça” ganhou cabine própria, localizada ao lado do toalete, com geladeira e forno de micro-ondas. Na frente trazia para-brisas inteiriços e faróis do Ford Versailles; as lanternas traseiras eram do Chevrolet Monza. O bagageiro tinha 11,50 m³ e portas pantográficas.


Apesar de pouco modesto, o nome Presence era adequado ao modelo: suas formas, apesar de não serem exatamente fluidas, revelavam um para-brisas inteiriço de boa proporção (quase do tamanho do Caio Squalo, até então o recordista nacional de maior vidro dianteiro) e janelas pequenas, talvez a enfatizar a solidez da construção e robustez para encarar os desafios das estradas brasileiras.

A novidade foi destaque da edição da revista Transporte Moderno n. 15, em imagem publicada no site Ônibus Brasil por Tarcísio Rodrigues da Silva

Fato interessante é que a primeira unidade - justamente aquela ilustrada acima - foi imediatamente destinada à empresa Turismo Santa Rita de São Paulo/SP, inclusive já com o prefixo 411. Após receber as chapas BXB-0022/SP, o Passeo foi alocado dentre as muitas rotas da proprietária, certamente orgulhosa de seu exclusivo e novo modelo.

Sim, pois apenas e tão somente um único MOV Presence foi fabricado antes da falência da encarroçadora no ano de 1994, e talvez essa dificuldade em reposição de peças da carroçaria obrigou a empresa (a essa altura já não tão orgulhosa e radiante com a aquisição) a fazer uma adaptação na dianteira: ao invés do vistoso para-brisas inteiriço, promoveu-se a aplicação de vidros bipartidos mais convencionais, tal como podemos notar na seguinte imagem:

Notem a alteração no para-brisas: o inteiriço deu lugar a um modelo bipartido com desenho convencional, com borda inferior reta (foto: José Augusto de Souza Oliveira, publicada no site Ônibus Brasil)

Esta é a única foto da traseira do Presence da qual se tem notícia: note os vidros laterais fixos, de tamanho relativamente pequeno quando são comparados à lateral da carroçaria (foto: José Augusto de Souza Oliveira, publicada no site Ônibus Brasil)

Essa mudança na dianteira sugere a dificuldade da empresa em encontrar peças de reposição além dos faróis do Versailles e lanternas do Monza e, talvez por isso, o Presence seguiu a mesma sina de sua fabricante: em meados do ano de 1995, o carro 411 da Turismo Santa Rita foi desmontado e o chassi Volvo B10M com dois anos de uso foi remetido a Caxias do Sul/RS para receber uma nova roupa, agora fabricada pela Marcopolo, modelo Paradiso HD:

Interessante notar que o Paradiso dispõe de porta central, ao invés do Passeo (foto de Clébio Júnior, via Ônibus Brasil)

A maior - e mais evidente - diferença estética entre o Paradiso HD e os demais da linha Paradiso é o desenho do para-brisas: conquanto dividido verticalmente ao meio, o vidro alcança a borda do teto; nos demais há um terceiro vidro fixo sobre o para-brisas com tamanho mais convencional (foto de Felipe Sisley, via Ônibus Brasil)

Agora com o prefixo 511, o chassi Volvo passou a carregar a nova roupa pela Turismo Santa Rita até o ano de 2013, quando foi vendido para uma outra empresa - e em recente consulta ao aplicativo Sinesp, o carro está matriculado na cidade de Ananindeua/PA. Quem andou nesse confortável Paradiso talvez não imagina que aquele chassi um dia vestiu uma carroçaria exclusiva, mas que, infelizmente, teve a mesma sorte da empresa que o fabricou... E assim se perdeu o único MOV Presence.

Pequena ficha técnica:

Proprietária original: Turismo Santa Rita (São Paulo/SP)
Carroçaria original: MOV Passeo (1992)
Segunda carroçaria: Marcopolo Paradiso HD (1995)
Chassi: Volvo B10M (1992/1993)
Motor: Volvo THD 101K
Potência: 310 cv a 2200 rpm
Torque: 126,4 kgfm a 1400 rpm
Transmissão: totalmente sincronizada, com seis velocidades à frente e à ré

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