sábado, 13 de fevereiro de 2021

Lada Laika: o Fiat russo que apareceu por aqui (teste Oficina Mecânica ed. 53, 1991)

Estou bem perto de completar meu trigésimo aniversário consecutivo, algo que me deixa feliz e ao mesmo tempo um pouco nostálgico. Vi o mundo pela primeira vez lá nos idos do já distante ano de 1991 e os automóveis daquela época são um bocado diferentes, até porque, desde então, muita coisa interessante passou a rodar por aqui.

Os mais atentos à história sabem que o Brasil permaneceu fechado às importações regulares de automóveis entre os anos de 1976 até 1990, época em que a liberação trouxe aquela euforia (e certo desespero) no mercado. Ganhou o consumidor, que pode ter acesso às novidades (desde que fossem adequadas às nossas realidades de piso, logística de distribuição de peças de reposição, mão de obra qualificada e combustível) e viu paulatinamente a melhoria dos veículo aqui produzidos (e muitas pequenas fabricantes não aguentaram a terrível concorrência).

Junto dos Mercedes-Benz e BMW (os mais óbvios importados daqueles tempos) apareceram outras marcas, uma especial um tanto curiosa: a Lada. Oriunda da então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS - se você não conhece, vá ler mais sobre geopolítica e história, é importante, viu?), a fabricante, que em sua terra se chamava VAZ (sigla russa que significa algo como "Fábrica de Automóveis do Rio Volga), pensou que se daria bem por aqui e logo nomeou um importador oficial para trazer ao Brasil uma linha de veículos.

Um deles - o que mais vi na época - era o Laika (a simpática cachorrinha sem raça definida que foi o primeiro ser vivo a sair da órbita terrestre), derivado diretamente do Fiat 124, projeto italiano entregue à VAZ em um interessante acordo comercial feito na década de 1960. Não era um carro essencialmente russo, talvez por isso nos lembrava tanto os carros europeus a que estávamos acostumados, mas logo veio a fama de um produto russo e robusto, acompanhada de um precinho bem camarada, até mesmo inferior àquele praticado pela Fiat nacional para vender o Mille. 

A novidade russa (ou seria "italo-soviética"?) foi avaliada por Cláudio Carsughi para a edição n. 64 da revista Oficina Mecânica e do preciso relato podemos ter uma boa ideia da primeira impressão deixada pelo sedã de quatro portas:





Além do Laika sedan, devemos recodar que a Lada trouxe a versão perua (que vendeu muito pouco), o modelo Samara e o Niva, este último um jipe valente e bem vocacionado ao fora de estrada. Pena que os veículos, apesar de robustos, sofreram com sérios problemas de corrosão, inadequação ao combustível local (esqueceram - ou não quiseram fazer - da necessária adaptação da carburação à nossa gasolina com álcool anidro) e a crônica falta de peças da rede autorizada. 

Basta lembrar que a Quatro Rodas testou um Samara por 60.000km e diversos problemas surgiram (até mesmo a troca por DUAS VEZES do propulsor), um desastre completo. Junte tudo isso ao inesperado aumento da alíquota de imposto sobre o valor da importação e podemos entender o motivo pelo qual os Lada sumiram daqui em 1995... Uma pena, porque robustez não faltava aos Lada. Ao menos era o que parecia lá naquele já distante ano de 1991.

5 comentários:

  1. Em alguns programas de entrevista da época, o Amaral Gurgel já se opunha ao que ele se referia como dumping da Lada. Com exceção do Niva, que até hoje se mantém como único modelo da Lada ainda disponível como 0km em alguns mercados europeus ocidentais, realmente não dá para dizer que o Laika era tão competitivo contra os modelos ocidentais sem se limitar ao preço como parâmetro de comparação.

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    1. O Laika tinha aquele certo charme de importado, mas, francamente, a qualidade de construção era muito inferior aos modelos nacionais... Há anos não vejo um Samara rodando, mas é virtualmente impossível sair de casa sem ver um Gol ou Uno daquela época.

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    2. As duas últimas vezes que eu vi um Samara foram em 28 de junho de 2013 em Rivera e em 9 de julho de 2013 em Pelotas.

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  2. É engraçado como Collor criticou os carros brasileiros (com razão) de serem carroças, mas é curioso que a abertura do mercado nacional trouxe não só os carros modernos como também os de concepção mecânica desatualizada como o Lada Laika.

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    1. Talvez o Samara fosse o mais moderno dos Lada, mas, francamente, não tinha qualidades para vencer um concorrente nacional. Mas, apesar de tudo, os Ladas eram importados e isso dava um certo "status"; porém, um BMW dava muito mais, haha

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