segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Chevette SL 1988 (Parte Final)

Dia desses eu comentei com vocês das minhas últimas peripécias com o simpático SL 1988 vermelho mandarim, esse interessante Chevette que tive a oportunidade de ter em minha garagem. E por falar em garagem, a síndica do meu prédio não andava exatamente feliz com a fonte de óleo que jorrava do propulsor do sedanzinho.

Procurei, então, por uma Oficina. E achei uma, perto de casa, parecia promissora.

Solicitei uma revisão até que completa: a ignição, antes caótica, ganhou quatro velas de ignição e cinco cabos novos (não se esqueçam da ligação entre o distribuidor e a bobina!), o carburador foi desmontado e descarbonizado, freios foram regulados e sangrados, botão da alavanca do freio de mão foi solto (no desespero joguei até Car 80 e dei umas batidas pra soltar, sem sucesso), barras axiais da direção, lonas do freio traseiro (dos dois lados), regulagem de válvulas e da ignição. E a troca de todos os retentores e juntas acessíveis do motor.

Basta água e sabão para a pintura original, mesmo gasta, voltar ao seu brilho.
Mas, sempre tem um "mas"... O carburador, apesar das promessas, falha muito nas retomadas (uma hesitação, um "buraco" bem chato, instalaram velas de ignição da marca não solicitada (pedi NGK e puseram Magnetti Marelli, nada contra, mas eu pedi NGK, oras!), o afogador foi regulado de forma incorreta (ele não deixa de estrangular o motor, nem mesmo quando está completamente solto, quase tive vontade de cortar o cabo com uma alicate), não trocaram o filtro de ar (que já absorveu dois tijolos de sujeira) e o vazamento de óleo ainda insistiu em permanecer, tal como antes.

Pra encurtar o papo, voltei TRÊS vezes para a oficina até que tudo estivesse mais ou menos bom; na última vez, entregaram o carro sujo (cascas de tinta e lascas de tijolo, como se estivessem reformando a parte próxima ao carro) e ainda desregulado. E depois o vazamento voltou. Não preciso dizer que quebrei o pau (não muito educadamente, reconheço) e ainda estou discutindo preços e a qualidade da execução dos serviços.
  
As janelas traseiras, antes imóveis, passaram a bascular depois de um pouco de óleo e carinho.
Nem preciso comentar o quanto que eu fiquei desanimado; pois não me parece ser exatamente difícil regular um carburador ou mexer em um automóvel com trinta anos de uso e mais de quarenta anos de projeto... Ainda mais que em pouco tempo as válvulas (principalmente a do quarto cilindro) se desregularam, sinal de que o Chevette precisa de séria intervenção no "coração" 1.6/S dele. Fiquei tão pau da vida que pensei seriamente em vender o bicho. Até o anunciei a venda.


Carro antigo dá trabalho, incomoda pra caramba (esse é um fator que eu tenho de contar), mas ele é agradecido, sempre fiel e relativamente barato. Se eu for medir tudo com a régua das finanças, o Chevette, apesar de estar com sinais de insuficiência cardíaca (sai fumaça branca quando frio e não parece muito forte), ele é mais barato de ter do que o meu plastimóvel 2011. Até os impostos de circulação são 40% mais baratos!

E, afinal de contas, adotei um automóvel com 30 anos de uso. E nesses trinta anos, muita coisa mudou, até mesmo as oficinas. Antes era mole, hoje é um inferno achar alguém que tenha carinho pra mexer num carburador, pra começar o papo.

Só que o desânimo com o simpático sedã veio acompanhado de outras mudanças de cenário: terei de me mudar para outro lugar, sem vaga de garagem, que torna quase impossível de manter o carrinho bem cuidado e em uma garagem segura. Os preços de estacionamento mensal na minha região não são bons e sairia muito caro ter de sustentar uma garagem para o Chevette.

Além disso, fiz vários passeios e neles percebi que o motor está pior do que eu imaginava: uma retífica, ao custo mínimo de R$ 4.000,00 (quatro mil reais), além da necessidade de uma urgente revisão elétrica (que quase ninguém aqui quer fazer), investimentos em tapeçaria, revisão da transmissão e a troca das rodas pelas originais.

Se tudo for medido na regra fria das finanças, o Chevette sairia mais caro do que comprar um novo. E o fato de ter pouca gente que tem vontade de mexer num automóvel de 30 anos desanima ainda mais. Ainda mais quando eu, repensando a vida, decidi investir em uma pós-graduação e o tempo de trabalho, que chega perto de 10 horas por dia, tire o ânimo e os momentos nos quais seria possível mandar tudo às favas e arrumar, sozinho, o coração do Cheva.

Carro antigo é uma delícia, isso não tem preço.
Mas eu sou jovem, no começo da vida e algumas escolhas, às vezes bem críticas, fazem com que a gente sacrifique um sonho para realizar outros.

Por isso que eu aceitei a oferta de venda feita por um mecânico local (não o que "arrumou" o carro, é bom dizer). Ele está empolgado com o desafio e vai longe. Desejei boa sorte ao Chevette e assinei o DUT.

Foi muito interessante ser dono de um Chevette, futuramente terei outro.
Mas, com tudo isso eu aprendi uma lição: é melhor repassar um sonho para outra pessoa do que transformar a sua meta em uma conquista vã. Melhor fazer a felicidade de outro do que transformar o seu sonho em fonte de aborrecimentos constantes.

Do jeito que o mundo gira, provável que, num dia desses, outro Chevette vá para a minha garagem. E isso será objeto de futuras postagens!

2 comentários:

  1. É bem complicado ter carro antigo e depender desses mecânicos atuais, tive um SL 88. E fui obrigado a aprender a fazer manutenção nele por não encontrar ninguém qualificado a um preço justo.

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    1. Nem a preço extorsivo eu achei, meu caro. E você fez o certo, que é cuidar do seu carro e ter todo o capricho. Além de uma forma de economizar um bom dinheiro com mão de obra, a mecânica é um ótimo passatempo.

      E fica a dica para quem trabalha com reparação automotiva: carros mais antigos também precisam de manutenção, existe um mundo além dos módulos de injeção e sensores eletrônicos...

      Grato pela atenção e pelo comentário.

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