segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

História do Chevette (1986-1987)

Hoje eu resolvi juntar dois anos em uma postagem só. Não por medida de economia de post, mas por necessidade: a linha Chevette 1986 não trouxe nenhuma novidade, a não ser novas peças publicitárias. Nenhuma modificação mecânica ou estética marcou a linha 1986. Nada de nada de relevante, e não foi má vontade por minha parte: procurei por tudo, mas não achei nada além das novas propagandas.

1986 foi um ano magro. Mas 1987 foi melhor (Foto: GM, via Propagandasdecarros.com)


Porém,  isso pode ser em parte justificado se contextualizarmos a situação: em 1985 o Brasil, após uma volta ao governo democrático, experimentava uma grande crise financeira. Inflação galopante, salários minguados, congelamento de preços, ondas de desemprego e miséria e outras mazelas terríveis criaram um cenário altamente desfavorável ao setor automobilístico. Novidade mesmo para 1986 só a Elba, a versão perua do Uno. A Chevrolet, conhecida por sua cautela no mercado, não viu muita vantagem em lançar algo novo.

Mas 1986  foi um ano de despedidas, bem discretas, é verdade: foi o último ano de produção do Chevette Hatch. Era o carro mais barato do Brasil em sua versão básica, mas nem isso segurou a suas vendas, que já estavam, há tempos, em declínio. Ainda que fosse muito interessante, o desenho não caiu bem no gosto do mercado. Hoje eles são raros, principalmente os dos últimos anos de fabricação. 

Apesar dos pesares, e das despedidas, a em 1986 Chevrolet vendeu 67.182 unidades da linha Chevette, um excelente número para aqueles tempos de vacas muito magras.

E em 1987, agora sim, temos algumas novidades bem interessantes - e um contexto não menos interessante. Assista ao comercial abaixo, e você terá um aperitivo do que veio de novo:



Não, o Chevette não era submersível (consta que o Chevette usado nas filmagens foi lançado n'água por um dublê por duas vezes, precisando da ajuda de mergulhadores para engatar o cabo de aço que o levava de volta à areia. O sedã mergulhador teve vida muito breve - virou sucata após as filmagens...). Mas tinha novidades no estilo:
a) Frente: o Chevette ganhou uma nova grade, com desenho mais aerodinâmico, formada por quatro elementos transversais, mas mantendo a gravatinha da marca no centro, um novo para-choque, também mais aerodinâmico, de formato mais arredondado, com um friso cromado na parte superior (e que acompanhava toda a lateral do carro); e um spoiler foi instalado na porção inferior da frente. Acima dele, novas entradas de ar, em formato retangular. A Chevy 500 manteve o mesmo para-choques do modelo anterior, mas ganhou uma nova grade, com motivos quadriculados;

A Chevy 500 1987 manteve alguns elementos do modelo anterior (foto: Roberto Negraes/Motor-3)
b) Lateral: a fábrica providenciou novos retrovisores, maiores que os anteriores, e integrados às portas. O friso lateral foi redesenhado, perdendo os detalhes "canelados". Novas calotas, que cobrem toda a roda, foram providenciadas, e as maçanetas e tambores das fechaduras foram pintados de preto;

Notem o novo friso cromado, que acompanha toda a lateral (foto: João Carlos Moura Andrade/Motor-3)
Detalhe da nova calota feita de plástico injetado (foto: João Carlos Moura Andrade/Motor-3)
c) Traseira: novas lanternas foram providenciadas para o Chevette Sedan/Cupê: a distribuição das luzes continua a mesma, mas o desenho é envolvente. E na versão top de linha, a fábrica providenciou uma faixa na cor preta. Os logotipos ganharam novo grafismo. Na Marajó, as lanternas não sofreram alterações;

 A Marajó não trouxe muitas novidades na traseira, apesar do novo para-choque (Foto: Quatro-Rodas)
d) Interior: as versões mais caras receberam um novo quadro de instrumentos. De formas retangulares, ele trazia, no canto esquerdo, um grande velocímetro, com hodômetro parcial; na outra ponta, o marcador de temperatura do líquido de arrefecimento do motor, abaixo dele o marcador de combustível. E entre estes mostradores, um relógio digital, um econômetro também digital - e algumas luzes testemunhas abaixo. Por falar nesse econômetro, ele era formado por duas luzinhas: uma verde, que indicava uma direção econômica - e outra vermelha, que denunciava os abusos do pé direito. 

Notem o novo porta-fita-cassete atrás da alavanca de câmbio (foto: João Carlos Moura Andrade/Motor-3)
Além disso tudo, como se pode ver acima, novos bancos, iguais aos do Monza, com apoio de cabeça regulável, foram providenciados. E a versão quatro-portas finalmente recebeu uma trava interna, que evita a abertura involuntária da porta traseira, conhecida por trava para crianças. Falando em travas, foi em 1987 que a fábrica disponibilizou o sistema de travamento na própria maçaneta da porta, eliminando o vulnerável pino.
Dois ângulos do interior do Novo Chevette SE para 1987. (foto: João Carlos Moura Andrade/Motor-3)
Mas a maior novidade da linha era mesmo a versão SE, que embarcava todas as novidades elencadas acima. Essa nova versão promoveu uma reformulação da antiga linha:  para 1987, as versões eram a básica, SL e a SE. A SL, antes top de linha, foi remanejada para o lugar da L, que foi extinta nessa oportunidade.

 Um novo Chevette, cria dos tempos de congelamento dos preços. (Foto: GM, via Propagandasdecarros.com)
Essa dança das cadeiras aconteceu, em grande parte, por conta do congelamento de preços. Como falei acima, na época o Estado decidiu intervir na economia, congelando os preços para evitar inflação. Obviamente não adiantou nada, só conseguiu um terrível problema de abastecimento. Era comum, ainda que fosse crime contra a economia popular, dar sumiço em mercadorias, para esperar um preço melhor...

As fábricas só poderiam aumentar o preço de seus automóveis se eles trouxessem alguma novidade. E o CIP - Conselho Interministerial de Preços - regulava tudo isso. E algumas montadoras criaram novas versões para convencer o CIP a conceder um "pequeno aumento". Foi nessa época, por exemplo, que a VW remanejou o nome dos modelos de seus produtos (como o Santana, que antes era CS/CG/CD e se tornou C/CL/GL/GLS).

Apesar de tantas mudanças as vendas foram magras: estacionaram na casa das 45.727 unidades. Mas 1988 seria um ano melhor, também com outras novidades, mas isto é outra história... Por agora, vamos ler o teste da Quatro Rodas a respeito do Chevette SE, de setembro de 1986, maior novidade daqueles tempos!
 
 
 
 
 

Postagem atualizada em 27/06/2018.

6 comentários:

  1. Olá, bom dia! Na lataria teve alguma mudança? Pois tenho um SE com a porta direita trocada, acredito não ser do mesmo ano e versão, pois não encaixa perfeita. Os frisos tanto infeiror quanto superior da porta, não se encontram e o pior, é que não tem regulagem. Já troquei os pinos das dobradiças e nada. Podes me ajudar nessa dúvida!?

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    1. Meu caro Samuel,

      Ao que pude pesquisar o Chevette teve dois modelos de porta: uma até 1982 e outra de 1983 em diante. A maior diferença entre elas está na quina da porta: a folha de porta mais recente tem a armação para receber o espelho interno (note que tem uma chapa já estampada com o furo pra isso), coisa que o Chevette até 1982 não tinha. E eu não sei te dizer ao certo se as duas portas coincidem nas medidas, o que acho provável.

      Como a sua porta já está instalada, pode ser que, eventualmente, tenha um problema nas dobradiças (pino de porta de Chevette é uma coisa que sempre dá trabalho)ou mesmo uma coluna soldada fora do prumo.

      Meu primo Carlos, consultor técnico aqui do espaço (que tem mais de 25 anos de experiência em automóveis), sugere que você procure uma boa oficina de latoaria (ou funilaria) para checar o correto assentamento da porta. E depois nos conte como foi!

      Abraço e boa sorte, grato pela visita.

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  2. Olá, consegui encontrar a porta original, mas estava muito cortada (instalação de som); porém, encontrei outra mais nova e, ahá! Lacrou bem, mas por causa de um furo (passagem de cabos), vou continuar à procuta de uma outra da versão. Quero deixá-lo original com detalhes.

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    1. Opa, que boa notícia!
      Infelizmente era muito comum na época fazer furos nas portas para instalar autofalantes e passar o cabeamento necessário, mas, com sorte e paciência, você vai achar uma porta perfeita. Não sei se alguém faz a reprodução da forração, mas quem sabe no Mercado Livre encontre algo, nem que seja um corte do tecido para reformar uma forração mais estragada.

      Grato pela visita e nos avise das novidades do seu SE!

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  3. Alguém sabe me dizer com exatidão quais rodas vinham no SL 87/88?

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    1. Caro Giovani,

      As rodas que vinham de fábrica no Chevette e na Marajó SL modelo 1988 são as que aparecem no anúncio da linha 1986 que postei aqui.

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