sexta-feira, 27 de junho de 2025

Catálogo da semana: Volkswagen Santana (1992)

Costumo dizer que o meu carro favorito é aquele que está em minha garagem, mas, sinceramente, se pudesse a garagem aqui de casa seria bastante ampla e contaria com diversos carros diferentes, de épocas distintas e de marcas variadas. Dentre eles, por certo, estaria o Santana.

Tive oportunidade de guiar um modelo GLS 2000 quatro portas, gasolina e vermelho desbotado há uns anos atrás e gostei muito do conjunto, muito acertado e com torque suficiente para fazer um passeio bem agradável. Por diversas conjunturas, sobretudo financeiras, tive sempre automóveis com cilindrada menor do que gostaria e por isso foi (é e sempre será) um prazer sentir a tranquilidade do torque de um motor maior. Saber que há uma reserva de potência para os imprevistos, é um fator de muita serenidade...

Outra vivência, essa como passageiro e mais antiga, foi a bordo de uma Quantum GL 2000 álcool, andava maravilhosamente bem na BR-101 do tempo da pista simples, com ultrapassagens seguras e uma retomada que me fazia sentir num veículo muito interessante. O condicionador de ar impedia que o verão entrasse no caprichado habitáculo e o nível de ruído, de todo modo, era bastante aceitável. Nunca esqueci aquela Quantum 1992 e se pudesse, podem ter certeza, teria uma dessas para viagens longas e tranquilas pelas estradas desse imenso Brasil.

E é justamente do ano de 1992 o catálogo que temos a oportunidade de apresentar nesta semana: voltado às versões de quatro portas (e não podemos esquecer que o Santana também poderia ser comprado como um carro com duas portas a menos, em detrimento do conforto e em benefício de um desenho um tanto mais "esportivo"), esse belo folheto - cortesia da Anfavea, a quem sempre agradecemos -  revela em detalhes os níveis de acabamento para quem desejava ter um Santana em sua garagem:












Se por acaso pudesse voltar no tempo, encomendaria no concessionário local um Santana GL quatro portas, álcool, verde com interior bege e com ar condicionado e trio elétrico. Fecharia os olhos para o relógio demasiadamente grande no painel (contagiros só para versão GLS) e abriria um sorriso para as boas virtudes daquele carro, as quais, sabemos, garantiram uma longa vida ao Santana. 

sexta-feira, 20 de junho de 2025

Reportagem da Semana: Del Rey automático (1982)

A história do Del Rey é por demais conhecida, mas não custa recordar que a Ford, em 1981, teve a iniciativa de trazer um novo modelo para suprir a falta (tanto quanto possível) do Maverick no mercado nacional, descontinuado que foi em 1979. Não sei se é possível dizer que o Del Rey, uma versão surgida do Corcel, seria um substituto adequado ao Maverick, mas, por outro lado, era compreensível que as dificuldades e angústias que se prenunciavam nos anos 1980 fizeram com que a fabricante optasse por tal alternativa.

Explico: o Maverick era um carro maior, projeto americano do final dos anos 1960, com uma proposta muito adequada para aquela época, de dimensões maiores (o sedã, de entre-eixos ainda maior) e capaz de fazer frente ao Dart, ao Opala e ao Alfa 2300 em suas variadas opções de acabamento e mecânica, sem maiores preocupações com eficiência energética. O Del Rey, apesar de limitado à plataforma do Corcel, beneficiando-se de suas virtudes e seus defeitos, era bastante adequado em termos de consumo e com um acabamento muito esmerado, a ponto de ter itens que o Landau, topo de linha, jamais teve, como os vidros elétricos.

Talvez, digo talvez, o Sierra fosse um substituto muito melhor para o Maverick, mas, para cá, nunca veio, a não ser nas mãos dos turistas argentinos que passeavam por nossas estradas litorâneas. O que tivemos era o Del Rey,  um produto mais perto de um "compacto premium" do que um "médio". E não era um carro ruim, muito longe disso. Afinal, quem queria conforto, economia, tranquilidade na vida e na tocada, teria um excelente veículo em suas mãos. Não derreteria corações nas ruas da moda, mas era um carro bastante confiável para quem queria mais sossego na vida..

Acessórios, então, não faltavam: tinha até teto solar, ar condicionado de boa potência, suspensão calibrada para passeios macios, vidros e travas comandadas eletricamente, toca-fitas Philco de boa qualidade, acabamento muito esmerado, várias cores metálicas e tudo mais.. Entretanto, quem não fazia questão de acionar a embreagem e lidar com a transmissão de cinco velocidades, sentia falta de algo a mais, a transmissão automática.

E ela veio, no final de 1982, já como novidade para o modelo de 1983, não exatamente muito moderna, mas adequada para o uso pacífico que o Del Rey inspirava, cuja avaliação o nosso saudoso JLV fez para saudosa Motor-3, edição de 12/1982, cuja íntegra temos o prazer de mostrar:







Não se tratava de um carro perfeito (nada é), mas, resolvido o problema dos pedais, era um carro muito competente e adequado para o uso do dia a dia. Pode até ser que não tenha vendido muito, tampouco teria condições de substituir o Maverick (e nem se fale do Landau), mas era um carro interessantíssimo e muito bom de andar. E o motor, quando bem cuidado, durava uma eternidade...

sexta-feira, 11 de abril de 2025

Catálogo da Semana: F-4000 (1986)

O F-4000, lançado em 1975, era fruto de um período um tanto difícil para os veículos de carga com motor a gasolina: apesar de ser vantajoso em algumas operações, como o transporte de bebidas (o preço inicial menor do caminhão a gasolina era um atrativo em uso de baixas quilometragens), o diesel ganhou muita força depois das agitações no mercado do petróleo ocorridas um ano antes. Se o óleo diesel não era uma vantagem para todos, a gasolina subitamente pareceu ser cada vez menos atrativa...

Que o diga a Mercedes-Benz, fábrica que desde sempre apostou no diesel e desde 1972 contava com boas vendas em seu modelo menor L-608 (o mercedinho, apelido que não era nenhum demérito), caminhão leve e muito ágil que provou logo cedo suas qualidades para o mercado. E o pessoal da Ford logo deve ter percebido a necessidade de oferecer algo naquele seguimento de clientes, daí por que a crise de energia pode ter contribuído para acelerar a urgência em ter um concorrente à altura, tão bom quanto possível.

Assim, em 1975, a Ford lançou o F-4000, a versão diesel do F-350 V8 de então: com o excelente motor MWM 229-4 de 98cv acoplado a uma transmissão de quatro velocidades, o peso bruto total chegava a boa marca de 6t, nada mal para época. E quando digo que foi nada mal, também me refiro às vendas: o F-4000 fez história e foi produzido até o crepúsculo da Ford Caminhões, épocas em que tinha até versão com tração integral, sem falar na F-2000, esta de vida muito breve (e que merece uma postagem aqui, podem me cobrar) e não obteve uma fração do que a irmã mais robusta teve ao longo dos anos.

Por falar em anos, o catálogo dessa semana é do modelo de 1986, ano em que ganhou nova grade e para-choque, disponibilizado pela Anfavea (cuja gentileza deve sempre ser agradecida). Notem a interessante pintura bicolor opcional, os estofamentos com desenho caprichado e as duas opções de motor: além do propulsor MWM, um engenho da casa (hoje até um tanto incomum de se ver):



O fim das atividades da Ford Caminhões não significou o fim dos cargueiros da marca: não é raro ver um F-4000 rodando nas mais diversas tarefas, desde transporte de mudanças até como motor home. Não sei se a Ford tinha essa noção há cinquenta anos atrás, mas, devo dizer, ao lançarem o F-4000 eles ajudaram a escrever a história.

sexta-feira, 4 de abril de 2025

Catálogo da Semana: Fiat Furgoneta (1985)

Quando se pensa nos utilitários Fiat, a primeira lembrança que geralmente nos ocorre é a Fiorino, variação do Fiat 147 muito bem sucedida lançada em 1978, já modelo 1979, sucesso de público incontestável até hoje. Afinal, a Fiorino em suas variações com caçamba e baú fechado (esta ainda em produção) foi uma precursora neste mercado de pequenos veículos dedicados ao trabalho.

Se há um mérito na Fiat (e sei que ela tem vários) é o de ter agilidade e ousadia em seus lançamentos: sem querer entrar na eterna polêmica dos entusiastas a respeito da incomum rapidez em que o Uno Mille foi lançado (muito pouco tempo após a alteração na legislação que previa menores tributos para motores com cilindrada diminuta), posso dizer, com tranquilidade, que a Fiorino basicamente inaugurou o seguimento de picapes derivadas de veículos leves no Brasil, algo que as concorrentes demoraram alguns anos pra igualar: a Pampa e a Saveiro só nasceram em 1982, a Chevy 500 dois anos mais.

Mas hoje não quero elogiar a Fiorino (que ainda existe, mas dos tempos pioneiros só guarda a semelhança com o nome), mas sim lembrar da primeira variação do Fiat 147: a Furgoneta. Sim, a Furgoneta, lançada em 1977, já como modelo 1978, foi o primeiro utilitário da marca no Brasil.

Imagino que não foi muito difícil projetar esta versão, que não tinha os vidros laterais e traseiro (substituídos por chapa metálica) e o banco traseiro, de forma a dar lugar à carga que um pequeno veículo como o Fiat 147 poderia carregar: não ganhava campeonato de força, mas o espaço interno era muito bom, mérito do motor e tração dianteiros e um desenho anguloso reto da carroçaria, na medida para abrigar o que fosse preciso no compartimento traseiro.

Além disso, a Furgoneta tinha um trunfo fantástico: ela já nasceu com o motor 1300 movido a álcool (e como ano/modelo 1978 só foi vendida com motor etílico), o que a tornou desde cedo elegível para frotas públicas e frotistas interessados na alternativa energética tão nacional. Particularmente em Santa Catarina, ente federativo que melhor conheço pela minha íntima convivência desde o nascimento, a Furgoneta (sim, no feminino) serviu à Polícia (os presos iam atrás, claro) e carro de apoio às empresas de capital público, especialmente a Telesc, do ramo de telefonia. 

Mas esse sucesso inicial foi obscurecido pela Fiorino, certamente uma opção melhor para levar carga, sobretudo pelo baú muito mais amplo: basta lembrar que nesses muitos anos de vivência automotiva, não vi Furgoneta em mãos civis ou militares. Uno Furgão, sim, vários até, mas Furgoneta... E para lembrar desse interessante carro que jamais tive a oportunidade de ver ao vivo, e que nem todos devem se lembrar, disponibilizo hoje o catálogo da versão lançada para o ano de 1985, material digitalizado e graciosamente divulgado pela Anfavea, em iniciativa a merecer aplauso:



E há uma razão lógica e plausível para eu nunca ter visto uma Furgoneta na lida: o Livro "Fiat 147", de Rogério de Simone e Rogério Ferraresi (Editora Alaúde, 2016, recomendo a leitura!), divulga dados de produção da Anfavea e no ano de 1985 a Fiat produziu 1.191 furgões com motor 1300 álcool e outras 65 com motor 1050 gasolina. Vai daí que ninguém ficaria surpreso ao saber que o último ano de produção foi 1987, com apenas 35 cópias com motor etílico, nenhuma a gasolina... Então, temos aqui um carro muito raro e até esquecido, mas com imenso valor histórico.

sexta-feira, 28 de março de 2025

Catálogo da Semana: Linha Chevette 1987

Depois de um longo inverno (involuntário, devo dizer), volto ao espaço para a gente continuar a prosear sobre os automotores, especialmente um sempre aparece em nossa pauta: o Chevette.

É que um dos nossos leitores está a restaurar um sedã de 1987 e precisa de referência a respeito dos tecidos dos bancos e a forração das portas e nada melhor do que a gente consultar o material da própria fábrica, no caso um catálogo muito interessante formulado pela Chevrolet para aquele ano modelo, este que foi gentilmente disponibilizado na íntegra pela Anfavea e que me apresso em mostrar pra vocês:


Nós já falamos do Chevette SE em uma outra postagem, mas é uma história que não custa reforçar: naqueles tempos de fortíssima crise financeira, o aumento dos preços dos veículos dependia de prévia autorização estatal, pedida com alguma antecedência e com fortes justificativas. Então, as fábricas (não só a Chevrolet) faziam modificações nas linhas, criavam novas versões e pequenos aperfeiçoamentos de modo a justificar um aumento.

É o caso da versão SE: mais luxuosa, com acabamento um pouco mais refinado, trouxe o luxo, calotas plásticas integrais (raras na época, hoje ainda mais) e alguns refinamentos cosméticos. Pena que o motor 1,6/S, com retrabalho para dar maior potência sem aumento sensível no consumo, ficou para o ano posterior: afinal de contas, não convinha lançar todas as novidades de uma só vez...





Notem a rara versão Hatch com o padrão mais alto de acabamento: você não via um desses com muita frequência, o mesmo se pode dizer da transmissão automática e do ar condicionado (não integrado ao painel) opcionais. E há uma explicação: um Chevette SE com todas as opções do catálogo custava até mais (ou quase a mesma coisa) do que um Monza SL/E básico, carro maior e com mais status. Vai daí que a gente vê muitos Monza com quase nenhum opcional e poucos Chevette com todas as opções...






A versão SL já nos é mais comum: era o mais básico, mas não fazia feio (apesar de o encosto de cabeça ser opcional - notem o raríssimo SL de interior marrom sem o equipamento de segurança). O estilo deste nível de acabamento é mais sóbrio (o que não me desagrada), além de poder receber opções para tornar as coisas mais amenas, como o já citado ar-condicionado (quem mora no litoral, como é meu caso, tem uma enorme simpatia pelo condicionamento do ar), pintura metálica, retrovisor do lado direito (faz falta) e outros detalhes. 



O catálogo não indica, mas faço questão de dizer as cores que estavam disponíveis para a linha Chevette para o ano de 1987: as sólidas (não metálicas) eram preto formal, branco Everest, vermelho bonanza, amarelo trigo e bege Itapema; as metálicas preto granito, azul platina, azul Búzios, dourado Itapuã, verde tropical, marrom canela e prata andino. E os revestimentos poderiam ser grafite, tabaco e preto, este último exclusividade dos modelos SE. 

São informações que recolhi há muitos anos em um surrado caderno de anotações de uma tabela da época que alguém me mostrou; pode até ser que as opções (sobretudo a incomum de a versão SL não ter a opção de revestimentos pretos, geralmente a mais comum) se alteraram no correr da produção, sobretudo em relação à adoção de cores que a fábrica normalmente não dispunha para os Chevette. Mas esses dados já são um norte pra gente ter em mente quando for ver um Chevette 1987.


Se pudesse (e como eu queria ter essa opção de volta no tempo...), encomendaria um Chevette SL com quatro portas, interior tabaco, dourado Itapoã e com ar condicionado: para o dia-a-dia, teria um carro confiável, confortável e estiloso para todos os momentos. E você?