sábado, 11 de março de 2023

E que tal um Fiat 190 com coração novo?

Não é novidade, mas não custa recordar: a Fiat Diesel nasceu da transação entre a Alfa Romeo e a Fábrica Nacional de Motores - FNM. Sim, a Fiat adquiriu o controle acionário da outra fabricante italiana em 1976 e, por isto, teve acesso direito aos projetos nacionais e, mais especificamente, ao nosso mercado. No entanto, ao contrário da Fenemê, a Fiat Diesel não pode ser considerada como um sucesso.

É que os Fiat Diesel venderam muito pouco (o melhor ano foi 1978, 5.073 caminhões e 487 ônibus) e a diretoria, ao apostar na necessidade de reforçar a produção da nova família de veículos (o Uno), teve por bem em simplesmente interromper a fabricação em 1985. Apesar de as vendas e funcionários terem caído ao longo da década de 1980, a Fiat nem sequer se preocupou com cerimônias, encerrou suas atividades e pronto, quem precisasse de peças de reposição, que contasse com as do estoque remanescente. Nem os revendedores foram previamente avisados... 

O fim controverso da produção trouxe problemas imediatos a quem tinha um Fiat diesel, seja ônibus ou caminhão: para além da compreensível desvalorização dos modelos no mercado de usados, os veículos de carga precisam rodar constantemente para gerar lucro e as manutenções são frequentes e necessárias, de modo que a perspectiva de o pós-venda ter se evaporado de um dia para outro, criou transtornos enormes.

Basta ver que os raros Fiat da década de 1970/1980 rodam com propulsores originais; há, ainda uma empresa de ônibus de Pomerode/SC que ainda tem um Nielson Diplomata Fiat 130OD em sua frota (impecável, para serviços esporádicos), mas o motor de hoje é um Mercedes-Benz OM-352 que equipava os modelos L-1113 e derivados. E não sei se há algum ônibus Fiat original rodando por ai...

Mas se os tempos eram de dificuldades aos proprietários dos Fiat Diesel, outras empresas viam uma boa oportunidade em incentivar o repotenciamento, prática bastante comum no mercado, mas que nem sempre é oferecida oficialmente pela fabricante do motor. Por isto me chamou a atenção o fato de a Scania, em 1988, ter oferecido um pacote completinho para adaptar o possante DS 11 ao Fiat 190H, inclusive para aproveitar a transmissão original do modelo, cujo catálogo, gentilmente digitalizado pela Anfavea, faço questão de compartilhar:





Certamente não era um pacote barato (só o motor Scania, novinho, já deveria custar um bom valor), mas o apelo pela tecnologia e desenvolvimento do kit de repotenciamento certamente devem ter convencido alguns proprietários para abandonar o propulsor original, instalar o 6 cilindros Scania e rodar quilômetros a fio com o novo coração. E mais pra frente, quem sabe conquistar mais clientes para os Scanias de corpo e alma, sobretudo os modelos 112 e 113. Afinal de contas, nem sempre o melhor motor conquista, mas a tranquilidade na reposição de peças e a boa imagem do mercado também são muito importantes...

2 comentários:

  1. Lembro de ter visto referências também ao uso do motor Cummins N855, também conhecido como N14 ou "Big Cam", entre as opções disponibilizadas para repotenciamentos. Mas verdade seja dita, os motores originais desses caminhões Fiat eram muito bons, tanto que com a volta da Iveco com uma linha importada na década de '90 alguns dos primeiros Eurotech vinham com uma versão modernizada do mesmo motor que o 190 usou.

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    1. De fato, sempre ouvi boas referências aos motores que a Fiat usava, mas a decisão infeliz de encerrar subitamente a fabricação e deixar o mercado de reposição a ver navios foi um erro monumental. Vai daí que muita gente ainda tem certo receio pela Iveco de hoje, apesar dos anos de estrada que ela já tem.

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