Crônicas Automotoras
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sexta-feira, 27 de junho de 2025
Catálogo da semana: Volkswagen Santana (1992)
sexta-feira, 20 de junho de 2025
Reportagem da Semana: Del Rey automático (1982)
A história do Del Rey é por demais conhecida, mas não custa recordar que a Ford, em 1981, teve a iniciativa de trazer um novo modelo para suprir a falta (tanto quanto possível) do Maverick no mercado nacional, descontinuado que foi em 1979. Não sei se é possível dizer que o Del Rey, uma versão surgida do Corcel, seria um substituto adequado ao Maverick, mas, por outro lado, era compreensível que as dificuldades e angústias que se prenunciavam nos anos 1980 fizeram com que a fabricante optasse por tal alternativa.
Explico: o Maverick era um carro maior, projeto americano do final dos anos 1960, com uma proposta muito adequada para aquela época, de dimensões maiores (o sedã, de entre-eixos ainda maior) e capaz de fazer frente ao Dart, ao Opala e ao Alfa 2300 em suas variadas opções de acabamento e mecânica, sem maiores preocupações com eficiência energética. O Del Rey, apesar de limitado à plataforma do Corcel, beneficiando-se de suas virtudes e seus defeitos, era bastante adequado em termos de consumo e com um acabamento muito esmerado, a ponto de ter itens que o Landau, topo de linha, jamais teve, como os vidros elétricos.
Talvez, digo talvez, o Sierra fosse um substituto muito melhor para o Maverick, mas, para cá, nunca veio, a não ser nas mãos dos turistas argentinos que passeavam por nossas estradas litorâneas. O que tivemos era o Del Rey, um produto mais perto de um "compacto premium" do que um "médio". E não era um carro ruim, muito longe disso. Afinal, quem queria conforto, economia, tranquilidade na vida e na tocada, teria um excelente veículo em suas mãos. Não derreteria corações nas ruas da moda, mas era um carro bastante confiável para quem queria mais sossego na vida..
Acessórios, então, não faltavam: tinha até teto solar, ar condicionado de boa potência, suspensão calibrada para passeios macios, vidros e travas comandadas eletricamente, toca-fitas Philco de boa qualidade, acabamento muito esmerado, várias cores metálicas e tudo mais.. Entretanto, quem não fazia questão de acionar a embreagem e lidar com a transmissão de cinco velocidades, sentia falta de algo a mais, a transmissão automática.
E ela veio, no final de 1982, já como novidade para o modelo de 1983, não exatamente muito moderna, mas adequada para o uso pacífico que o Del Rey inspirava, cuja avaliação o nosso saudoso JLV fez para saudosa Motor-3, edição de 12/1982, cuja íntegra temos o prazer de mostrar:
Não se tratava de um carro perfeito (nada é), mas, resolvido o problema dos pedais, era um carro muito competente e adequado para o uso do dia a dia. Pode até ser que não tenha vendido muito, tampouco teria condições de substituir o Maverick (e nem se fale do Landau), mas era um carro interessantíssimo e muito bom de andar. E o motor, quando bem cuidado, durava uma eternidade...
sexta-feira, 11 de abril de 2025
Catálogo da Semana: F-4000 (1986)
O F-4000, lançado em 1975, era fruto de um período um tanto difícil para os veículos de carga com motor a gasolina: apesar de ser vantajoso em algumas operações, como o transporte de bebidas (o preço inicial menor do caminhão a gasolina era um atrativo em uso de baixas quilometragens), o diesel ganhou muita força depois das agitações no mercado do petróleo ocorridas um ano antes. Se o óleo diesel não era uma vantagem para todos, a gasolina subitamente pareceu ser cada vez menos atrativa...
Que o diga a Mercedes-Benz, fábrica que desde sempre apostou no diesel e desde 1972 contava com boas vendas em seu modelo menor L-608 (o mercedinho, apelido que não era nenhum demérito), caminhão leve e muito ágil que provou logo cedo suas qualidades para o mercado. E o pessoal da Ford logo deve ter percebido a necessidade de oferecer algo naquele seguimento de clientes, daí por que a crise de energia pode ter contribuído para acelerar a urgência em ter um concorrente à altura, tão bom quanto possível.
Assim, em 1975, a Ford lançou o F-4000, a versão diesel do F-350 V8 de então: com o excelente motor MWM 229-4 de 98cv acoplado a uma transmissão de quatro velocidades, o peso bruto total chegava a boa marca de 6t, nada mal para época. E quando digo que foi nada mal, também me refiro às vendas: o F-4000 fez história e foi produzido até o crepúsculo da Ford Caminhões, épocas em que tinha até versão com tração integral, sem falar na F-2000, esta de vida muito breve (e que merece uma postagem aqui, podem me cobrar) e não obteve uma fração do que a irmã mais robusta teve ao longo dos anos.
Por falar em anos, o catálogo dessa semana é do modelo de 1986, ano em que ganhou nova grade e para-choque, disponibilizado pela Anfavea (cuja gentileza deve sempre ser agradecida). Notem a interessante pintura bicolor opcional, os estofamentos com desenho caprichado e as duas opções de motor: além do propulsor MWM, um engenho da casa (hoje até um tanto incomum de se ver):
O fim das atividades da Ford Caminhões não significou o fim dos cargueiros da marca: não é raro ver um F-4000 rodando nas mais diversas tarefas, desde transporte de mudanças até como motor home. Não sei se a Ford tinha essa noção há cinquenta anos atrás, mas, devo dizer, ao lançarem o F-4000 eles ajudaram a escrever a história.
sexta-feira, 4 de abril de 2025
Catálogo da Semana: Fiat Furgoneta (1985)
Quando se pensa nos utilitários Fiat, a primeira lembrança que geralmente nos ocorre é a Fiorino, variação do Fiat 147 muito bem sucedida lançada em 1978, já modelo 1979, sucesso de público incontestável até hoje. Afinal, a Fiorino em suas variações com caçamba e baú fechado (esta ainda em produção) foi uma precursora neste mercado de pequenos veículos dedicados ao trabalho.
Se há um mérito na Fiat (e sei que ela tem vários) é o de ter agilidade e ousadia em seus lançamentos: sem querer entrar na eterna polêmica dos entusiastas a respeito da incomum rapidez em que o Uno Mille foi lançado (muito pouco tempo após a alteração na legislação que previa menores tributos para motores com cilindrada diminuta), posso dizer, com tranquilidade, que a Fiorino basicamente inaugurou o seguimento de picapes derivadas de veículos leves no Brasil, algo que as concorrentes demoraram alguns anos pra igualar: a Pampa e a Saveiro só nasceram em 1982, a Chevy 500 dois anos mais.
Mas hoje não quero elogiar a Fiorino (que ainda existe, mas dos tempos pioneiros só guarda a semelhança com o nome), mas sim lembrar da primeira variação do Fiat 147: a Furgoneta. Sim, a Furgoneta, lançada em 1977, já como modelo 1978, foi o primeiro utilitário da marca no Brasil.
Imagino que não foi muito difícil projetar esta versão, que não tinha os vidros laterais e traseiro (substituídos por chapa metálica) e o banco traseiro, de forma a dar lugar à carga que um pequeno veículo como o Fiat 147 poderia carregar: não ganhava campeonato de força, mas o espaço interno era muito bom, mérito do motor e tração dianteiros e um desenho anguloso reto da carroçaria, na medida para abrigar o que fosse preciso no compartimento traseiro.
Além disso, a Furgoneta tinha um trunfo fantástico: ela já nasceu com o motor 1300 movido a álcool (e como ano/modelo 1978 só foi vendida com motor etílico), o que a tornou desde cedo elegível para frotas públicas e frotistas interessados na alternativa energética tão nacional. Particularmente em Santa Catarina, ente federativo que melhor conheço pela minha íntima convivência desde o nascimento, a Furgoneta (sim, no feminino) serviu à Polícia (os presos iam atrás, claro) e carro de apoio às empresas de capital público, especialmente a Telesc, do ramo de telefonia.
Mas esse sucesso inicial foi obscurecido pela Fiorino, certamente uma opção melhor para levar carga, sobretudo pelo baú muito mais amplo: basta lembrar que nesses muitos anos de vivência automotiva, não vi Furgoneta em mãos civis ou militares. Uno Furgão, sim, vários até, mas Furgoneta... E para lembrar desse interessante carro que jamais tive a oportunidade de ver ao vivo, e que nem todos devem se lembrar, disponibilizo hoje o catálogo da versão lançada para o ano de 1985, material digitalizado e graciosamente divulgado pela Anfavea, em iniciativa a merecer aplauso:
E há uma razão lógica e plausível para eu nunca ter visto uma Furgoneta na lida: o Livro "Fiat 147", de Rogério de Simone e Rogério Ferraresi (Editora Alaúde, 2016, recomendo a leitura!), divulga dados de produção da Anfavea e no ano de 1985 a Fiat produziu 1.191 furgões com motor 1300 álcool e outras 65 com motor 1050 gasolina. Vai daí que ninguém ficaria surpreso ao saber que o último ano de produção foi 1987, com apenas 35 cópias com motor etílico, nenhuma a gasolina... Então, temos aqui um carro muito raro e até esquecido, mas com imenso valor histórico.
sexta-feira, 28 de março de 2025
Catálogo da Semana: Linha Chevette 1987
Depois de um longo inverno (involuntário, devo dizer), volto ao espaço para a gente continuar a prosear sobre os automotores, especialmente um sempre aparece em nossa pauta: o Chevette.
É que um dos nossos leitores está a restaurar um sedã de 1987 e precisa de referência a respeito dos tecidos dos bancos e a forração das portas e nada melhor do que a gente consultar o material da própria fábrica, no caso um catálogo muito interessante formulado pela Chevrolet para aquele ano modelo, este que foi gentilmente disponibilizado na íntegra pela Anfavea e que me apresso em mostrar pra vocês:
domingo, 28 de abril de 2024
Catálogo da semana: Alfasud 1980
segunda-feira, 8 de abril de 2024
Catálogo da semana: Cadillac Data Book (1959)
No ano passado, nas curtas férias que tive, pude aproveitar um pouco do museu do automóvel na aprazível cidade de Pomerode; há lá uma quantidade muito interessante de automóveis clássicos, pequena que as fotos feitas da frota impressionante de veículos imaculadamente polidos e alinhados não puderam ser salvas em razão de um maldito cartão de memória que teve um problema qualquer.
Usarei, então, a desculpa de tornar a fotografar os clássicos para retornar ao museu oportunamente; por agora, deixo só o relato do quanto vale a pena ir lá. Não contem aos administradores do espaço, mas eu pagaria o ingresso apenas para ver um carro: o Cadillac Eldorado Biarritz 1959.
Qualquer pessoa minimamente ligada ao mundo dos automóveis sabe do que falo; não sei de outro veículo que melhor representa o jeito americano de ser (os livros de geografia e história da época de colégio traziam um desses como exemplo do que havia de bom e ruim nisto), talvez o Buick Electra também de 1959 atraia olhares da mesma forma, mas a linha 1959 da Cadillac foi o auge.
Quem poderia comprar (ou importar, no nosso caso) um Cadillac 1959, certamente não se preocuparia com ninharias como o consumo desmesurado do saudável V-8 de 390 polegadas de cilindrada e potência bruta de 345cv na versão mais potente; ninguém daria a menor pelota para as toneladas de peso em ordem de marcha e a ligeira incapacidade dos freios a tambor em parar o conjunto em espaços decentes; tampouco seria prudente fazer com que um digno representante do ano de 1959 fizesse curvas quentes em velocidades inconfessáveis. Pode ser até que se surpreendesse com o espaço interno traseiro pouco generoso, mas até isso poderia ser resolvido na versão limusine, essa sim na medida para esticar as pernas com toda a tranquilidade desse mundo...
Importava, isso sim, o torque abundante do V-8 (60,140 kgf/m em 3.400 giros, na versão mais potente, na medida bruta), a maciez na troca automática da quatro velocidades, o ar-condicionado Frigidaire poente, a direção hidráulica macia, comandos elétricos para ajuste de vidros e bancos, suspensão pneumática a ar opcional e uma miríade de opções de cores para interior, exterior e a capota de acionamento elétrico, se você tivesse a sorte de ter um conversível na garagem.
Quem tem um bicho desses não deveria se preocupar com trivialidades; ele é a antítese do que hoje um carro tem de ser, por isso hoje, com os olhos de hoje, vejo-o como um incrível automóvel para ser entendido e aproveitado como deve ser: em viagens longas, macias, com algumas curvas no meio do caminho para as coisas ficarem um pouco mais quentes. Mas nem tanto: ele não foi feito para correr.
Comparar um 1959 com um 2024 é impossível; perda de tempo querer medir aquela massa absurda de cromados, formas angulosas e um acabamento impecável com tudo o que hoje se faz (mais rápido, leve, seguro e econômico). Mas quem se importa? Para 1959 era altamente desejável, podem ter certeza.
Fiquei muito tempo vendo aquele carro de dimensões continentais, imaculadamente polido, como se tivesse sido fabricado ontem para deleite de todos os que o viam. De longe (mas não tanto), o Cadddy 1959 é o mais chamativo dentre todos do acervo; nos muitos minutos que gastei para absorver todos os detalhes do complexo veículo (um conversível dourado que só não tinha a problemática suspensão a ar, de resto até o olho autrônico), ouvi mais de uma dezena de comentários, não só os óbvios a dizerem do alto consumo de combustível, mas outros que desejariam ter um desses na garagem para os momentos de curtição.
Sim, eu também gostaria de ter um desses e poder mantê-lo em saudável forma. Deve ser uma delícia abaixar a capota, deslocar a alavanca da transmissão para D e premir o acelerador para ouvir o saudável V-8 lidar com todo aquele peso, mas pra rodar maciamente, talvez a umas 60 milhas por hora, curtindo um som agradável e ao lado de uma companhia agradável, sentindo o molejo do 1959 numa estrada qualquer... Talvez essa seja uma forma de entender o jeito americano daqueles tempos.
De volta ao lar, com meu brioso e girador Fiat, fiquei a sonhar como seria ter aquele flamante conversível num dia desses de verão - e a curiosidade de entusiasta me fez achar o Data Book que a fábrica editou em 1959 aos seus revendedores para melhor atender aos seus clientes (e eu seria fácil um deles), digitalizado pela General Motors americana e oferecido para consulta de todos os entusiastas em seu GM Heritage Archive, cuja íntegra me apresso a apresentar: