É bem verdade que a Motor-3 não foi a primeira revista a tratar de automóveis em nosso país. Antes dela tivemos, por exemplo, a Revista de Automóveis (lançada em Março de 1956), a Quatro-Rodas (lançada em agosto de 1960) e a Auto Esporte (novembro de 1964). E que nem se fale nas revistas atuais, certamente mais de uma dúzia circulam periodicamente pelo nosso Brasil, muitas delas dedicadas a um seguimento específico, como carros modificados, antigos e por ai vai.
Mas eu não me canso em afirmar que, se a Motor-3 não foi a primeira, certamente foi a que mais se destacou em termos de qualidade de texto e em inovação, capaz de encantar o leitor entusiasta logo na primeira leitura.
Infelizmente só vi a luz deste mundo quatro anos após última edição desta revista ir às bancas; mesmo assim, por ser fã de carteirinha dela, não poderia deixar de falar nela com mais vagar. Tanto que em outra oportunidade, ocorreu-me
uma pequena ideia - a qual teve pronta recepção por parte de dois
generosos amigos, assíduos frequentadores deste espaço:
e que tal contarmos a história da revista Motor-3?
Decidi, então, aos poucos, contar a história desta revista. Por questões de direito de propriedade intelectual, infelizmente não posso disponibilizar as edições na íntegra, muito embora, escudado no direito de trazer aos leitores boas informações - e criar um saudável debate -, trarei as reproduções das reportagens mais interessantes, assim como a foto de cada capa, uma espécie de "acervo virtual da Motor-3", sem pretensão de ser um repositório de tudo o que já foi feito em termos de Motor-3, mas sim criar um espaço de debate e de discussão da cultura automotiva - e também do jornalismo automotivo.
Convido-os, então, para, ao menos uma vez ao mês, embarcar nessa jornada que é contar a história da Motor-3, uma edição de cada vez, ao menos uma por mês, sempre que possível. Trataremos hoje, como convém a um bom início, da primeira edição da M-3, datada de Julho de 1980.
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Esta foi a primeira Motor-3 (foto: spinbrothers.blogspot) |
Em verdade, a Editora 3 já tinha antes em seu catálogo a revista Status Motor, a qual foi uma espécie de embrião para o nascimento da Motor-3. Aliás, a M-3 já nasceu pronta, bem definida, com conteúdo fechado com três meses de antecedência, como se pode ler em uma resposta à uma carta na edição 03.
Com preço de Cr$ 100,00 (R$ 22,61 corrigidos pelo índice IGP-DI da FGV), vinte cruzeiros a mais do que a Quatro-Rodas daquele mês, a primeira edição tinha 98 páginas. Duas delas, aliás, eram ocupadas pelo interessante editorial assinado pelo José Luiz Vieira.
Aliás, é bom relembrar que o editorial é a seção da revista/jornal em que os diretores (ou donos da editora) expressam a sua opinião pessoal sobre determinado tema. Um editorial serve para externar os valores daquela publicação, porquanto exprime o pensamento, de modo claramente subjetivo, de quem tem a atribuição de dirigir aquele periódico.
O editorial do JLV é bem interessante e nos traz uma coisa tremendamente interessante: há uma foto em que todos os colaboradores da revista posam ao lado do seu automóvel pessoal. Não me recordo de ter visto isto antes - e isso realmente me chamou muito a atenção. JLV, por exemplo, ao que tudo indica, é o dono do flamante Landau que aparece na extrema esquerda da foto.
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(foto: reprodução da Motor-3 nº 01, acervo do nosso colaborador Antônio Quingosta) |
Quanto aos testes, a primeira M-3 começou bem: Passat TS Turbo, envenenado pela Enpro; Alfa Romeo 2300 Ti4; Gol L (lançamento à época); além dos rápidos testes do Fiat-Fittipaldi, Faurus ML-929 e da Honda CB-400.
Vale lembrar que a Motor-3 foi a primeira revista nacional a incorporar um decibelímetro em todas as suas avaliações (anos antes a Auto Esporte o utilizou em algumas oportunidades), além de ser a pioneira na publicação dos testes de aviões. E aqui desfazemos um mito: O nome da revista, Motor-3, se deve à editora responsável se chamar Editora-3 - e não pelo número de assuntos tratados na primeira edição (automóveis, aviões e barcos). Até porque a M-3 também lidava com motos, de modo que deveria, se assim fosse, ser chamada de Motor-4...
A matéria de capa, de autoria do JLV, sobre o Chrysler LeBaron 1927, de propriedade do saudoso colecionador Og Pozolli. Lindo carro, diria flamante, marcou a história automobilística mundial - e a da Motor-3 também, é claro.
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(fotos: reproduções da Motor-3 nº 01, acervo do nosso grande colaborador Antônio Quingosta) |
Adiante, Paulo Celso Facin, nos traz um excelente roteiro de férias para Grã-Bretanha. Nos primeiros tempos da M-3, PCF tratava de turismo, seção posteriormente abandonada pela revista.
Outro destaque da edição é o sensacional texto escrito pelo saudoso Fernando de Almeida (1933-2003), em que ele fala das sensações do vôo. FA, engenheiro aeronáutico formado pelo ITA, era o responsável pela parte de aviação da revista - e escreveu o primeiro teste de aeronave da América Latina. Coisas que só a Motor-3 poderia ter feito...
A M-3teve uma boa estreia. Se você ficou curioso, pode vê-la na integra ao ver no site de um amigo nosso. Xracer, generoso
colecionador da Motor-3, disponibilizou as primeiras edições, na
íntegra, em seu blog:
http://spinbrothers.blogspot.com.br/2011/08/motor-3.html
Brevemente trataremos da segunda edição da M-3. E é muita história, afinal, foram 83 excelentes edições com muita gente boa: Giu Ferreira, Expedito Marazzi, Celso Lamas, Roberto Negraes, Adhemar Ghiraldeli Júnior... Saudade dessa turma!