Não sou entendido de numerologia, definitivamente esta não é a minha área. Porém, percebo que o simpático Chevette, durante a sua trajetória de vinte anos, passou pelos maiores acontecimentos em anos com final 3: 1973 (data do lançamento), 1993 (quando a produção foi encerrada) e 1983, (ano em que sofreu a sua maior reformulação).
Além do mais, o número três também está presente no número de carroçarias diferentes da linha (Chevette, Marajó e Chevy 500). E para colocar mais lenha na fogueira do numero três, uma hipotética separação silábica do nome "Chevette" rende três sílabas (Che-vet-te).
Claro, a coincidência só existe na minha mente febril, e essa combinação de eventos relacionados ao número três é apenas uma maneira diferente de começar um texto (ou, se preferirem, um modo para dar ensejo à alguma teoria conspiratória, vai saber?).
Já gastei três parágrafos inúteis, vamos aos fatos: em Outubro de 1982 a Chevrolet do Brasil apresentou o resultado de uma extensa revisão no desenho do Chevette. Sim, foi a maior de todas as re-estilizações, tanto que definiu o desenho básico do Chevette para os próximos dez - e últimos - anos. O vídeo de lançamento é uma interessante prévia das mudanças que passarei a relatar:
Se um distraído olhasse um Chevette 1983 ao lado de um 1982, certamente ele pensaria não ser o mesmo carro. Sim, a mudança foi extensa, bem grande mesmo, a julgar pela quantidade de itens modificados, conforme você pode observar na propaganda abaixo:
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"O show do trânsito". Este foi o mote da campanha Chevette 1983 (foto: GMC, via propagandadecarros.com.br) |
a) novos para-choques: os modelo 1983 são mais retos, com detalhes cromados na versão mais luxuosa. As ponteiras são de matéria plástica e têm desenho mais reto, formando um ângulo mais agudo na lateral. Os protetores de borracha foram abolidos nesse ano, até porque a porção frontal da peça recebeu uma faixa emborrachada (só para as versões mais luxuosas, aliás);
b) nova grade dianteira: voltou às origens e se tornou peça única, por assim dizer, pois cobre integralmente a área entre os dois faróis. Fabricada em material plástico, ela tem elementos horizontais que ligam os extremos da peça. E a gravatinha da Chevrolet foi instalada na porção central, pra dar aquele charme, como os Opala/Caravan pós 1980;
c) novo conjunto óptico: Os faróis são maiores, quadrados e sem molduras. A luz de direção (o pisca-alerta) agora de tamanho mais adequado, é integrada ao farol - e tem lente na cor âmbar (e que o pessoal na época trocava por piscas brancos, pra dar um charme, né);
d) novo capô (ou capuz do motor, como a GMC costumava definir em seus manuais do proprietário);
e) novo desenho das portas: aqui houve uma certa involução. É que a Chevrolet resolveu atender aos pedidos de muitos consumidores e resolveu instalar quebra-ventos no Chevette (só a versão quatro portas se salvou). Afinal, o Monza, moderníssimo modelo da GMB, também tinha esse acessório altamente requisitado, conquanto anacrônico...;
f) novos espelhos retrovisores: para driblar o inevitável incômodo que os quebra-ventos causam. Opcionalmente eles poderiam ser instalados nos dois lados (outros tempos...);
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Notem o retrovisor bem destacado da lateral, um dos jeitos de fazer com que o quebra-vento não atrapalhe a visão (foto: GMC, via propagandadecarros.com.br) |
g) novas lanternas: antes o agrupamento das luzes era horizontal e em 1983 passou a ser vertical. A nova lanterna, envolvente, também tem uma cor a mais do que a antiga: o âmbar, a cor da luz de direção. O catadióptrico (conhecido como olho-de-gato) permaneceu no lado interno das lanternas. A Marajó manteve a mesma lanterna, apenas ganhou uma faixa âmbar para luz de direção;
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A Marajó também ganhou cara nova, mas a traseira não mudou muito. Já era bem atualizada pra época (reprodução de propaganda do nosso acervo) |
h) novas tampas de porta-malas para o Hatch e para o sedan. O desenho básico é mais reto, com quinas mais pronunciadas, bem ao estilo dos anos 80;
i) novos logotipos: agora o Chevette recebia o logo "
1.6" e o "
Chevrolet" na tampa do porta-malas;
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O Chevette ganhou nova roupa para continuar na briga com o Gol -e se preparar para vinda do Escort (1983) e do Uno (1984) (foto: GMC, via propagandadecarros.com.br) |
j) novo painel: com linhas mais retas, difusores de ar em tamanho maior, com comandos reposicionados, todos ao alcance das mãos (o cinzeiro é ruim de usar, pois fica proximo à alavanca do câmbio, mas não é nada grave, especialmente pra quem não fuma). Apesar das mudanças, o novo painel também tinha a opção de duas cores (preto, cinza azulado e marrom claro);
k) novo desenho do revestimento de tecido: a linha Chevette de 1983 ganhou novas padronagens de tecido, bem discretas e de costuras retas. Novas forrações de porta foram providenciadas, bem como novos descança-braço e maçaneta interna (ainda não tinha a trava de porta integrada); e,
l) novo volante: agora com dois raios em forma de "v" invertido, trazia no acionador da buzina o nome da versão SL (nas básicas aparecia a gravatinha da Chevrolet);
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(foto: GMC, via propagandadecarros.com.br) |
m) novo motor 1,6 a álcool: talvez a novidade mais aguardada pelos compradores, com cilindrada de 1,6l e de 79 cv de potência (medidos na norma SAE), e torque de 12,4 mkgf, certamente foi um dos itens mais comemorados pelos consumidores. Assim, a gama de motores era de quatro opções, duas de deslocamento (1,4 ou 1,6), ambas com duas opções de combustível (gasolina ou álcool);
n) novo câmbio de cinco velocidades: a Chevrolet, naqueles tempos de economia, disponibilizou a nova transmissão de cinco marchas para os seus modelos da linha. Evitando maiores custos operacionais, a GMC procurou não alterar as relações de marcha anteriores, apenas acrescentou a quinta velocidade, com relação de 0,84:1.
Mas nada melhor do que o inesquecível Celso Lamas, consultor de estilo da inesquecível Motor-3, para resumir bem as evoluções estéticas dos nossos queridos carros, conforme podemos ler desta interessante reportagem da edição n. 29 (novembro de 1982) da tão comentada revista:
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CL era sempre muito crítico e não se acanhava em criticar ou elogiar. Também pudera, dirigiu por anos o departamento de estilo da Chrysler do Brasil antes de escrever para a Motor-3 |
Ufa, a lista de novidades não foi pequena... E procurei ser bem objetivo e sucinto, porque estas foram apenas as principais alterações da linha 1983. As versões se mantiveram as mesmas, apenas a versão esportiva S/R foi suprimida. E por falar no S/R, ele foi o último esportivo da linha Chevette. Vendeu pouco, mas deixou a sua marca na história da linha.
E por falar em vendas, 1983 rendeu 85.984 unidades vendias, uma ótima marca. Aliás, foi o último ano de produção em que as vendas superaram a casa das oitenta mil unidades. E segue o teste da revista Quatro Rodas com o lançamento do Chevette para o ano de 1983:
Postagem atualizada em 07/06/2020, com novas imagens e informações