sábado, 16 de dezembro de 2023

E a primeira Kombi? (1966)

Quando criança (e isso já faz um certo tempo), ver uma Kombi nas ruas não era algo raro, atípico. Por se tratar de um utilitário - um carro com ampla vocação para o trabalho rude em circunstâncias rudes -, não se esperava da Kombi muito conforto, mas a capacidade de transportar do ponto A ao B uma tonelada de carga gastando (relativamente) pouco combustível e sem muitos aborrecimentos mecânicos.

Por isso, eu as via transportando alunos para escola (e nisso foram desbancadas pela Besta, Topic e outros utilitários diesel altamente competentes), transportando compras para quem fosse ao supermercado (o Superbem que era do meu bairro tinha uma perua dessas), levando cartas e encomendas para os Correios, servindo de mercado ambulante (para vender frutas, verduras, vassouras e o que mais pudesse imaginar), de oficina móvel (chaveiro, inclusive) e tantas outras atividades que se possa imaginar.

Naquele tempo, pelo grande uso das Kombi, as mais antigas (pré-1976) eram as mais surradas e não muito valorizadas; não tem dez anos atrás ainda via duas destas fazendo fretes pela capital catarinense depois de muito trabalharem na vida, então fiquei surpreso ao perceber a alta valorização delas nos últimos anos. Se antes alguém venderia por quilo no ferro velho uma Kombi das clássicas, hoje elas valem mais do que uma mais nova e em perfeito estado, mesmo perto de um estado de sucateamento...

Se é certo - ou não - o fenômeno que inflacionou o preço das veteranas peruas, deixo a quem lê a resposta; mas me parece certo concluir que a Kombi tem alto valor histórico e de mercado, sobretudo as antigas. E imagine só o valor (nos dos aspectos) da primeira produzida no Brasil! Imensurável.

E cadê a nossa primeira Kombi? Não sei, infelizmente. Mas posso confirmar que ela foi muito bem usada depois de ser vendida, como indica a reportagem que a revista Automóveis e Acessórios publicou em sua edição n. 251, de novembro de 1966, gentilmente digitalizada pela Biblioteca Nacional:


Será que ela ainda existe? Eu mesmo me fiz essa pergunta várias vezes depois de ter lido a matéria e a chance dessa Kombi 1957 de chapas 40-00-66 da Guanabara (sim, Guanabara!) ainda existir é remota. Mas, como se trata de um veículo histórico, talvez um dia alguém tenha notícias e até restaure para voltar à antiga glória, quando foi fotografada com o 00001 na frente da linha de produção da VWB.

3 comentários:

  1. Detalhe que, na reportagem em questão, já era visível a alteração para a configuração de portas da Kombi Lotação que foi feita só no Brasil. Essas "modernizações" que se fazia de forma independente em qualquer fundo de quintal também contribui para aumentar o valor de um exemplar antigo que preserve a originalidade.

    Quanto ao uso de Kombis para venda ambulante em Florianópolis, lembro de algumas usadas para vender produtos de limpeza. Eram do modelo de '76 a '96 mesmo.

    Mas uma coisa que me chama a atenção é tanto a corujinha quanto a de '97 em diante serem mais demandadas para uso recreativo, enquanto a de '76 a '96 parece ser quase desprezada por uma parte do público. Mas enquanto hoje a corujinha eu vejo mais nos usos recreativos, as outras eu ainda costumo ver muito usadas para trabalhos de todo tipo, e em Porto Alegre tenho a impressão que a Kombi ainda é no geral mais usada para trabalho que em Florianópolis onde muitas que eu vi acabaram transformadas numa espécie de motorhome e usadas muito mais a lazer mesmo.

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    1. Essas alterações, de fato, eram muito comuns: não duvido mesmo que alguma das antigas, pré-1976, receberam até novas carrocerias mais modernas, já que não era nem um pouco raro surgirem ferrugem nelas...

      Aqui eu vejo mais Kombi modernas (as últimas) nos serviços geralmente de transporte de passageiros (várias empreiteiras daqui ainda usam), para carga eu vejo mais os furgões e a Fiorino (essa faz sucesso), além da Ducato. E as motorhome, algumas até bem improvisadas...

      Grato pela visita, abraço!

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    2. Para empreiteiras, só da Kombi ter uma manobrabilidade mais favorável em terrenos rústicos em comparação a modelos de concepção mais recente, já é uma clara vantagem. Também vejo algumas nesse mesmo tipo de uso em Porto Alegre.

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