A Chrysler se instalou no Brasil em 1967; para ela, então super interessada em participar do mercado nacional, pareceu ser mais fácil comprar uma fábrica pronta do que fazer tudo do zero, por isso (e mais um tanto de coisas) a fábrica do pentastar tratou de comprar a Simca do Brasil, montadora interessante que fazia o interessante Chambord a Jangada, (versão perua do dito sedã). Além disso, a Simca ainda vivia a novidade do lançamento do Esplanada, moderno e compatível com os colegas de seguimento (Aero-Willys e futuramente o Opala).
Mas não foi tão fácil assim: a Chrysler, para chamar o Esplanada de seu, teve de enfrentar muitos probleminhas de acabamento e de mecânica herdados do Chambord. Não me levem a mal, mas, apesar de ser um simpatizante da Simca, devo recordar que os veículos Simca nunca foram um exemplo de acabamento correto ou de adequação às condições brasileiras, defeitos que irritavam muito, dado o alto valor deles enquanto novos. Afinal de contas, eu não daria pulos de alegria ao saber que o meu lindo e flamante Chambord tinha fervido pela enésima vez...
Superado o drama, com farta publicidade, em 1968 surgiu o Esplanada GTX, sedã esportivo de quatro portas, quatro marchas acionadas por meio de uma alavanca no assoalho e uma decoração interna esmerada, mas sem uma modificação mecânica de relevo (na verdade, nenhuma). Anos atrás falei deste esportivo, se tiver interesse vale a pena tirar mais uns minutos pra essa prosa.
Aí em 1969 a Chrysler lançou o Dart, esse sim um produto 100% seu, que logo se revelou ser um dos automóveis nacionais mais interessantes, equipado com fabuloso motor V-8 de 318 polegadas cúbicas de cilindrada e quase, quase 200cv de potência (198cv pra ser exato). Em 1973, ano da crise do petróleo, o sedã ganhou a versão Gran Sedan, perdeu o Dart e assinava Dodge Gran Sedan, de tão esnobe que era: o acabamento mais esmerado, calotas de aço inox e revestimento do teto em vinil eram itens de série. Opcionalmente, você poderia contar com um ar-condicionado (não integrado ao painel) e a transmissão automática de três velocidades, equipamentos comuns à época.
O Gran Sedan era luxuoso; porém, em 1978, já como novidade para 1979, a Chrysler do Brasil, sob o comando estilístico do incrível e saudoso Celso Lamas, providenciou uma feliz atualização estética na linha e lançou um sedã pra ninguém botar defeito: o Dodge Le Baron, que ilustra a postagem de hoje, cortesia do usuário Michel, do Flicrk:
Bons tempos em que a publicidade automotiva empregava desenhos belíssimos. Não, não existia photoshop. |
Além do exterior renovado (notem as calotas elaboradas, as faixas laterais e a frente com um enfeite quase sobre o radiador, num ar esnobe), o interior do Le Baron pode ser classificado como desbunde de tão confortável. Quase um palacete.
As duas poltronas do automóvel (dois bancos inteiriços) eram revestidos com generoso veludo acrílico; discretos encostos de cabeça foram acrescentados na ocasião. O painel era paupérrimo e não era exatamente moderno, mas tinha o essencial para guiar o sedã. O câmbio automático era macio (melhor ainda era o que veio pouco depois, já em 1979, com lock-up), o condicionador de ar deixava as coisas agradáveis dentro dele (com a ajuda dos vidros raibã). Não era desagradável andar num Le Baron, ao contrário!
O comportamento dinâmico era o mesmo do Gran Sedan, embora com um pouco mais de peso. O tanque de 107 litros de gasolina amarela (sim, a gasolina, naqueles tempos, não era só a amarela, pergunte aos mais velhos!) garantia a viagem do final de semana e um toca-fitas Motorádio trocava a trilha sonora ao gosto do freguês. Nada muito diferente do Landau, este sim um pesado concorrente, mas era um luxuoso sedã e de preço honesto, com um desempenho levemente superior ao da linha Galaxie - LTD - Landau.
Quem desejasse esportividade e luxo poderia escolher o Magnum (um cupê luxuoso); no quesito luxo e acessibilidade, o Le Baron era ideal. Apesar de a linha Landau ser a referência até hoje de luxo e conforto dinâmico, o sedanzão da Chrysler não fazia feio. Ao contrário: até o ano de 1981, quando deixou de ser fabricado, o Le Baron era uma opção e tanto no seguimento.