Os amáveis leitores já devem ter reparado no fato de que um ano muito movimentado na linha Chevette geralmente é acompanhado por outro mais calmo. Assim foi em 1974 e em 1982, por exemplo. E a lógica determinaria que o ano de 1984 fosse parado, não é mesmo?
Determinaria. 1984 foi um ano até movimentado, com uma agradável novidade no setor de picapes pequenas, mas falaremos disso mais adiante. Vamos fazer um pequeno suspense, quase um charminho, para primeiramente falar das modificações que o Chevette cupê, sedan e a Marajó sofreram.
Tudo bem, foram mudanças discretas, algumas importantes: além das novas cores, a GM trouxe, finalmente, os cintos de segurança retráteis de três pontas para os bancos dianteiros. Infelizmente, a fábrica o disponibilizava como opcional, mas já é um avanço e tanto em relação ao defasado modelo abdominal (ou pélvico, se preferir), por proteger também a região torácica no momento do impacto.
Além de apresentar (com certo atraso, mas tudo bem) a Chevrolet trouxe à linha uma nova versão, a "L". Trata-se de uma versão intermediaria entre a básica (sem nenhum enfeite e de acabamento mais modesto), e a SL (topo de linha e que merecia todos os caprichos da fábrica), como podemos perceber do anúncio abaixo:
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Uma nova versão de acabamento para linha, com interessante relação de custo-benefício
(foto: GMC, via propagandadecarros.com) |
Como bem vemos acima, a versão luxo ostentava os mesmos conjuntos de friso da versão SL (a novidade externa era a letrinha "L" no distintivo do friso), embora com um acabamento interno um pouco mais simplificado. Aos consumidores era uma interessante forma de fugir do preço da versão mais luxuosa sem perder o social cachet com a versão mais pé-de-boi.
E para comemorar os 25 anos da fábrica de São José dos Campos (de onde nascia o simpático Chevette) a Chevrolet tirou da cartola a série especial "L Silver Line". Para fazê-la, a GMC escolheu a carroçaria mais popular de todas, o Chevette cupê, e aproveitou incrementou a versão "L" com alguns interessantes detalhes: vidros verdes, para-choques com a lâmina protetora de borracha, motor 1,6 movido a álcool (gasolina não estava disponível nesta série especial), além da forração dos bancos e das portas feita em tecido cinza claro, carpete do assoalho em cinza escuro (quase um preto, para ser sincero) e para-choques na cor do carro, este que, por sinal, poderia ser pintado em qualquer cor, desde que fosse Prata Andino.
Opcionais? Geralmente séries especiais não os têm, mas, no caso do Chevette Prateado, você poderia pagar a mais para ter a embreagem eletromagnética do ventilador do radiador, o câmbio com 5 velocidades, o desembaçador com ar-quente e o espelho retrovisor do lado direito. Convenhamos, o Silver Line poderia ter todos os itens, não acha?
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Alguém já viu um destes? Nunca vi... (foto: GMC, via propagandadecarros.com) |
O Chevette L Silver Line era tão silver que até mesmo o logotipo da Chevrolet, a simpática gravatinha, foi pintado em prata. De todo modo, era uma versão bem interessante - e extremamente rara. Não sei se algum sobreviveu ao longo destes quase trinta anos (se souberem, deixem um comentário!).
Aliás, por falar em silver e em série especial, vocês não notaram alguma coisa familiar nesta simpática série especial? E tem coisa familiar mesmo: em 1982 a Chevrolet lançou a série especial Silver Star, em verdade uma versão de acabamento aplicada ao Opala Cupê e a Caravan. A versão special também contava com pintura especial (prata-esverdeado-metálico) e o interior cinza, bem como trouxe itens presentes nas versões Comodoro, à época intermediárias (maior capricho e acessórios tinha a versão Diplomata, disponível apenas para o Opala), com um custo-benefício bem interessante para quem compraria a versão standard.
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Os Silver Star chegaram no mesmo ano em que o Chevette Ouro Preto foi lançado (foto: GMC, via propagandadecarros.com) |
Mas a maior novidade não era a versão silver do Chevette. Um novo membro se integrou à família no ano de 1984. Melhor dizendo, uma integrante: a Chevy 500, a picape Chevette. Abaixo, ao se ver o comercial de lançamento, temos uma prévia de como era esta interessante picape:
A Chevrolet foi a última das grandes fábricas a lançar a sua picape pequena, e não foi por falta de tradição: assim como a Ford, a Chevrolet se firmou no Brasil com uma linha de utilitários, desde as picapes da Série 10 (A-10/C-10 e D-10) até os caminhões. Porém, apesar de toda a tradição, foi a Fiat, em 1979, quem lançou a Picape City, a simpática versão picape do Fiat 147. Em 1982 a Ford lançou a Pampa, logo acompanhada da Saveiro, versão utilitária da linha Gol.
Mas, se a Chevrolet foi a última, certamente quem esperou por uma picape com tração traseira não se decepcionou: valendo-se da mesma configuração mecânica da linha Chevette, a fábrica, com base na plataforma da Marajó, lançou a Chevy 500. O nome é fácil de entender: Chevy é um diminutivo de Chevrolet, e 500 remete aos 500kg da carga máxima suportada pela valente picapinha.
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Configuração única no mercado nacional: a Chevy 500 foi a única picape de pequeno porte com motor dianteiro e tração traseira. Ficava mais travessa ainda quando alguém montava o 151-S do Opala; se quisesse invocar um monstro, bastaria instalar, com alguma dificuldade, o 250-S. (foto:Jorge Meditsch/Quatro Rodas). |
Se o eixo cardan, responsável por levar a força do motor dianteiro às rodas traseiras, era interessante para o comportamento dinâmico (em subidas enlameadas não tinha coisa melhor), para o espaço da caçamba não era o ideal. Mas, comparada às rivais, não fazia tão feio: a caçamba da Chevy 500 é três centímetros mais alta que a da Pampa (43 cm ante os 40cm), quatro centímetros mais larga que a da City (122cm contra 118cm) e dois centímetros mais comprida que a caçamba da picape da Fiat (146 cm contra 144cm). Se não era a maior, por certo não ficava dentre as menores.
Por falar em caçamba, cujo assoalho era protegido por ripas de madeira, o desenho dela se integra perfeitamente com a linha dos vidros do Chevette/Marajó. A trampa traseira, que se abre para baixo, é acionada por uma maçaneta central e é ladeada pelas lanternas, iguais às da Marajó. O tanque de gasolina foi posicionado entre-eixos, tal como na Marajó, com a tampa do tanque posicionada próximo à lanterna esquerda. Soluções familiares garantiram o sucesso o bom custo de produção.
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O estepe fica guardado atrás do banco direito, mas sem o ressalto existente na caçamba da Saveiro (foto:Jorge Meditsch/Quatro Rodas). |
Quanto ao interior, a Chevy tinha o mesmo interior da linha Chevette, exceção feita aos encostos de cabeça, os quais, naqueles tempos, não eram obrigatórios - e por isso não equipavam as primeiras unidades. Esta ausência seria corrigida tempos depois, felizmente.
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O interior da Chevy 500 era o mesmo da linha, inclusive nos detalhes de arremates do acabamento (foto:Jorge Meditsch/Quatro Rodas). |
A Chevy 500 foi lançada em duas versões: a básica, com franca vocação para o trabalho duro, e a SL, topo de linha, voltada para quem curtia um utilitário mais luxuoso. O motor 1,6, gasolina ou álcool, era de série em todas as versões, felizmente.
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Para quem é fã de carteirinha da Chevy 500, a Chevrolet trouxe a letra do jingle de lançamento para o empolgado consumidor cantar junto (foto: GMC, via propagandadecarros.com). | | |
A novidade era bem interessante, como podemos ler da avaliação do saudoso José Luiz Vieira, complementada pela opinião estilística do também saudoso Celso Lamas, as quais você encontra na edição n. 42 (dezembro de 1983) da incrível revista Motor-3:
Finalizando o último post da história do Chevette deste ano, é bom lembrar que a linha Chevette vendeu 57.876 unidades em 1984. O número de vendas não foi muito expressivo, mas, em 1985, a Chevrolet tentou recuperar o mercado. Ah, mas isso é outra história...
Postagem atualizada em 07/06/2020, com novas imagens e revisão de texto