Talvez por amor a precisão, eu
deveria ter colocado o Chevette Hatch no ano de 1979, pois, como é comum na GMB
(e em outras tantas outras montadoras), a versão foi lançada
ainda nos anos ’70, muito embora já com trajes dos anos ‘80. E é esta razão pela qual o simpático Hatch
está aqui, no texto referente ao ano de 1980.
Superada esta questão de precisão
de datas, falaremos do novo modelo da linha Chevette. Naquela época, finalzinho dos anos 1970 e
começo dos 1980, os modelos hatch começaram a ficar bem populares em quesito de
tendência para o desenho automotivo.
Apenas como lembrança, destaco
que o Gol, pesado adversário do Chevette (também lançado em 1980), é um legítimo
hatch. E o Fiat 147 também era. Inclusive o Corcel II, nascido sedan, teve a
sua versão de traseira curta, obra da Souza Ramos, famosa concessionária Ford de São Paulo,
que deu vida ao Corcel Hatch, criado pra engrossar o coro dos “sedãs
cortados”. (pra ser sincero, o Corcel Hatch da SR era feito com base na Belina,
mas tá valendo).
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Foto: topclassic.com.br |
E infelizmente se engana quem
pensa que a nossa versão hatch era uma grandiosa novidade mundial... Os motoristas
da Europa já o conheciam bem pelo nome de Opel Kadett City, de forma que a semelhança
do City com o nosso Kadett não é mera coincidência (até porque, não custa lembrar, o nosso querido Chevette é, no Velho Mundo, uma das gerações do Opel Kadett). Porém, apesar de não ser algo exatamente idêntico, ninguém por aqui ficou chateado. Naqueles tempos, vivíamos tempos de vacas magras; o
conceito de “carro mundial”, perfeitamente atualizado com os modelos vendidos fora do Brasil, só conheceríamos em 1982,
com o Monza e toda a novidade era muito bem vinda!
À parte a falta de sintonia do
mercado nacional em relação ao estrangeiro, o Chevette Hatch era um modelo bem
interessante. Vendo-o de frente, um distraído não veria muita novidade, afinal,
a frente era quase a mesma do modelo sedã 1978 (a grade nova era novidade pra
linha, como veremos abaixo). É que a óbvia diferença fica na parte de trás, ou
melhor, da porta do motorista pra trás.
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O Kadett City é bastante simpático e certamente foi a inspiração para o nosso Hatch. E pensar que já poderíamos ter essa variação por aqui ao menos desde a metade dos anos 1970 |
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Nesse ângulo conseguimos compreender o motivo pelo qual o Chevette Hatch recebeu o maroto apelido de "codorna". |
Em relação ao sedan/cupê, percebe-se que o teto tem
uma caída mais suave em direção à coluna "c", de modo que a porta traseira
“nasce” ainda no teto, permitindo um bom acesso ao compartimento do bagageiro. Se o observador estiver do lado direito do Hatch, perceberá que a tampa do
tanque de gasolina não mora na coluna traseira, porquanto foi deslocada para
porção inferior da lateral, na mesma linha das lanternas traseiras.
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Detalhe da tampa do tanque de gasolina, no modelo SL. |
Mas essa tampa não foi a única que trocou de lugar, pois o próprio tanque teve de encontrar outro lugar pra viver. É que ele, no modelo sedan, fica atrás do banco traseiro (daí o eterno barulho de chacoalhar de combustível) – e este detalhe seria indesejável num carro hatch.
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Fotos: Quatro Rodas, edição de 11/1979 (Heitor Hui) |
Explico: o porta-malas de um
hatch é, em regra geral (quase absoluta), menor que o do sedã – e as fábricas
driblam isto instalando (em alguns casos opcionalmente) um banco traseiro
rebatível. Funcionando no sistema de reclinação em 1/3-2/3, apenas uma parte do banco pode ser rebatida, permitindo que um eventual passageiro também se instale no interior.
E é bem verdade que um tanque de gasolina instalado
atrás do banco traseiro é um obstáculo óbvio ao plano de aumentar o espaço do
Hatch, razão pela qual ele foi instalado no novo Chevette como é instalado no
Opala, dentro do porta-malas. E o estepe também mora lá, o que reforça a
necessidade de um banco rebatível, tendo em vista o espaço reduzido do
compartimento de bagagens.
Tal modificação também implicou
em uma alteração em relação ao sedã/cupê: as aletas, que escondem a tampa do tanque
(a do lado esquerdo é falsa), foram suprimidas no Hatch. Ah, verdade seja dita:
todas estas alterações deram uma “engordada” de aproximadamente 26 quilos no
carro, se compararmos o peso da versão nova em relação a cupê:
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Se você eventualmente é o dono destas fotos, avise-me para que eu coloque os créditos, ok? |
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Além dos óbvios detalhes diferentes de carroçaria e peso, a mecânica era idêntica ao Chevette de 2 e de 4 portas (fonte: Google.com) |
Versões? Oito ou oitenta. Melhor
dizendo, não havia um meio-termo, a versão L. O Hacth era vendido apenas nas
versões básica e SL, esta última a mais sofisticada (ou menos básica, se
encararmos de outra forma).
Preço? Não era muito diferente
dos concorrentes, o que fez dele mais uma boa arma pra lutar com a concorrência
oferecida pela Fiat, Ford, Volkswagen e a Chrysler, se bem que esta, em 1980,
já começava a perder a sua força, infelizmente.
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Créditos: propagandadecarros.com.br |
Como já falei do Hatch, falarei agora
da linha. A mudança de década não passou em branco para os outros modelos. Algumas
alterações discretas foram feitas, a começar pela nova grade dianteira. Em
verdade ela não é tão nova assim, mas a do modelo 1980 tem diferença em relação a do modelo 1979: a da nova década é composta apenas por três barras horizontais. E o logotipo “Chevette”, instalado dentro da grade
dianteira direita, recebeu um novo grafismo mais simples - e foi colocado acima
da grade (vide abaixo).
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Divulgação GMC/carplace.virgula.uol.com.br |
Outra novidade eram os
para-choques. Antes de 1980, todos eram cromados (pintados de preto em algumas
versões, como a Jeans), opcionalmente equipados com “garras”, acessórios
verticais instalados aos pares, na dianteira e na traseira, revestidos de
borracha, com o objetivo de proteger o cromo nas batidas leves. Em 1980, os
para-choques ganharam uma faixa de borracha contínua, na porção central; e as
“garras” se transformaram em dois discretos quadrados de borracha.
Internamente, os modelos ganharam
bancos mais estreitos. Em relação aos de 1979, os bancos dianteiros da linha 80
perderam seis centímetros de espessura, o que aumentou em um pouco mais de uma
polegada o espaço dianteiro. Uma nova padronagem de tecidos estampava a
novidade, e a cor vermelha para o acabamento interno foi proscrita do catálogo.
Nas laterais, as versões SL
ganharam frisos. Eram feitos de matéria plástica, com uma faixa cromada na
parte superior, e contavam com quatro partes: para-lama dianteiro, porta,
lateral e para-lama traseiro (na versão sedã eram cinco peças, considerando os frisos extras pras portas traseiras). E o logotipo “SL” ficava no para-lama
dianteiro. Vale reforçar: as versões básicas não tinham tal friso.
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Os frisos eram comuns aos modelos SL da linha 1980 (Divulgação GMC) |
Na porção traseira havia outra
novidade: novas lanternas envolventes. Foi a primeira modificação relevante na
traseira, que, apesar de simples, renovou o desenho: a separação das luzes passou a ser vertical
(a luz de seta era vermelha, diga-se), e foram instalados catadióptricos nas
laterais (esse é o “nome científico” dos olhos-de-gato).
Claro, novas cores fechavam o
pacote de novidades para o começo de 1980. Digo começo porque neste mesmo ano
chegou uma novidade, criada sob medida pra concorrer com a Panorama (e depois
com a Parati), mas isto é prosa pra outra postagem.
E antes que eu me esqueça, as
vendas neste ano alcançaram, segundo a revista Carro, 90.084 unidades. Foi o
melhor ano para linha Chevette durante sua carreira.
E segue um interessante teste da Quatro Rodas, de novembro de 1979 (edição n. 232), em que a novidade do ano foi submetida ao crivo da revista:
Postagem atualizada em 11/06/2020, com correções e inclusão de informações.