sábado, 1 de março de 2014

Propaganda da Semana: Gurgel Carajás (1985)

Em outras oportunidades expressei a minha admiração pela Gurgel Motores. Não é para menos: apesar de a trajetória do engenheiro ser cheia de percalços, dificuldades que culminaram na falência da marca, na metade dos anos 1990, a genialidade de Gurgel sempre merece destaque.

Utilizando recursos dos mais variados, principalmente sobre a base mecânica VW, o inventivo engenheiro deu vida a uma grande série de modelos, muitos deles décadas a frente do seu tempo. O Gurgel Itaipu, de 1974, primeiro carro elétrico da fábrica, é um interessante exemplo de que a montadora de Rio Claro esteve em uma posição de vanguarda no mercado nacional.

Aliás, falando em mercado, a propaganda de hoje é a do Carajás, o maior jipe que a Gurgel fabricou:





Lançado em 1984, o jipão da Gurgel trazia soluções interessantes: carroçaria monobloco (o famoso plasteel), motor dianteiro VW com tração traseira por meio de um tubo de torque (TTS System), bloqueio seletivo das rodas motrizes (seletraction), estepe no capô do motor e ventilação zenital (uma claraboia no teto captava o ar para o interior). Outras soluções eram mais prosaicas: o Carajás tinha 4, sim quatro chaves diferentes: das portas (caminhão Mercedes-Benz), ignição (Landau), porta-malas (Volkswagen) e do tanque de combustível (Fiat).

A mecânica? Bem, eram três opções, todas da VW: 1.6 diesel (o mesmo motor que equipava o Passat de exportação, além da Kombi nacional), com modestos 50cv), e o afamado AP-1800 do Santana, tanto álcool (92cv) quanto gasolina (85cv). A caixa de câmbio de quatro velocidades era também da VW, dos modelos com refrigeração a ar.

Claro, o casamento AP-1800 + câmbio VW "a ar" não garantia a durabilidade de um Toyota Bandeirante, mas assegurava o custo baixo, tampouco garantia trocas de marcha esportivas. Mas, para quem não tinha nenhuma pressa, a versão a diesel conseguia a rara façanha de percorrer mais de 1000km com um único tanque de combustível (85 litros).

Em relação ao acabamento, o interessante jipão teve duas versões: básica e luxo, as quais, em 1988 foram renomeadas para LE e VIP. Um ano depois surgiu a versão quatro portas, igualmente interessante, muito utilizada pelas forças policias. Aliás, lembro-me de ter visto alguns Carajás na PMSC, pois eram carros robustos, espaçosos e resistentes ao uso policial, intensíssimo por natureza.

O Land Rover nacional foi produzido regularmente até o final da década de 80. Depois do lançamento do BR-800, a fábrica passou a priorizar os carros aos utilitários, de modo que o bom Carajás era vendido apenas sob encomenda. Em 1994, com a falência da Gurgel, o Carajás saiu definitivamente de produção.

Apesar de seus defeitos, o jipão tinha muitas virtudes, tanto que até hoje há quem lamente o final de sua produção. Para muitos, o Carajás deixou uma saudade enorme - que nem os jipões modernos conseguiram curar.

2 comentários:

  1. Não posso negar que sou fã da Gurgel, mas no caso do Carajás podia ter recorrido a algumas soluções mais ortodoxas. Em que pesasse o custo de incluir tração 4X4, que diga-se de passagem há boatos em torno da existência de alguns exemplares destinados à exportação com conjuntos mecânicos Nissan que incluíam esse recurso, teria sido uma opção bastante acertada considerando o que Engesa e CBT faziam na mesma época. E ao tirar de linha tanto o Carajás quanto o X-12 já rebatizado como Tocantins, a Gurgel pecou em não ter disponibilizado nenhum jipinho baseado na mecânica do BR-800, que poderia ter vindo a calhar para substituir adequadamente ao menos o X-12 junto a um público mais tradicional da marca.

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    1. Não tenho nada a acrescer ao seu comentário, senão concordar com o fato de que a Gurgel poderia ter aproveitado o uso da tração integral no Carajás e ter mantido a linha de utilitários. Nesse ponto a Gurgel não foi astuta e o final da história foi triste, como sabemos...

      Grato pela visita e os comentários sempre enriquecedores.

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