segunda-feira, 26 de agosto de 2013

História do Chevette (1980)

Talvez por amor a precisão, eu deveria ter colocado o Chevette Hatch no ano de 1979, pois, como é comum na GMB (e em outras tantas outras montadoras), a versão foi lançada ainda nos anos ’70, muito embora já com trajes dos anos ‘80.  E é esta razão pela qual o simpático Hatch está aqui, no texto referente ao ano de 1980.

Superada esta questão de precisão de datas, falaremos do novo modelo da linha Chevette. Naquela época, finalzinho dos anos 1970 e começo dos 1980, os modelos hatch começaram a ficar bem populares em quesito de tendência para o desenho automotivo.

Apenas como lembrança, destaco que o Gol, pesado adversário do Chevette (também lançado em 1980), é um legítimo hatch. E o Fiat 147 também era. Inclusive o Corcel II, nascido sedan, teve a sua versão de traseira curta, obra da Souza Ramos, famosa concessionária Ford de São Paulo, que deu vida ao Corcel Hatch, criado pra engrossar o coro dos “sedãs cortados”. (pra ser sincero, o Corcel Hatch da SR era feito com base na Belina, mas tá valendo).

Foto: topclassic.com.br
E infelizmente se engana quem pensa que a nossa versão hatch era uma grandiosa novidade mundial... Os motoristas da Europa já o conheciam bem pelo nome de Opel Kadett City, de forma que a semelhança do City com o nosso Kadett não é mera coincidência (até porque, não custa lembrar, o nosso querido Chevette é, no Velho Mundo, uma das gerações do Opel Kadett). Porém, apesar de não ser algo exatamente idêntico, ninguém por aqui ficou chateado. Naqueles tempos, vivíamos tempos de vacas magras; o conceito de “carro mundial”, perfeitamente atualizado com os modelos vendidos fora do Brasil, só conheceríamos em 1982, com o Monza e toda a novidade era muito bem vinda!

O Kadett City é bastante simpático e certamente foi a inspiração para o nosso Hatch. E pensar que já poderíamos ter essa variação por aqui ao menos desde a metade dos anos 1970
À parte a falta de sintonia do mercado nacional em relação ao estrangeiro, o Chevette Hatch era um modelo bem interessante. Vendo-o de frente, um distraído não veria muita novidade, afinal, a frente era quase a mesma do modelo sedã 1978 (a grade nova era novidade pra linha, como veremos abaixo). É que a óbvia diferença fica na parte de trás, ou melhor, da porta do motorista pra trás.

Nesse ângulo conseguimos compreender o motivo pelo qual o Chevette Hatch recebeu o maroto apelido de "codorna".
Em relação ao sedan/cupê, percebe-se que o teto tem uma caída mais suave em direção à coluna "c", de modo que a porta traseira “nasce” ainda no teto, permitindo um bom acesso ao compartimento do bagageiro. Se o observador estiver do lado direito do Hatch, perceberá que a tampa do tanque de gasolina não mora na coluna traseira, porquanto foi deslocada para porção inferior da lateral, na mesma linha das lanternas traseiras.

Detalhe da tampa do tanque de gasolina, no modelo SL.
Mas essa tampa não foi a única que trocou de lugar, pois o próprio tanque teve de encontrar outro lugar pra viver. É que ele, no modelo sedan, fica atrás do banco traseiro (daí o eterno barulho de chacoalhar de combustível) – e este detalhe seria indesejável num carro hatch.

Fotos: Quatro Rodas, edição de 11/1979 (Heitor Hui)
Explico: o porta-malas de um hatch é, em regra geral (quase absoluta), menor que o do sedã – e as fábricas driblam isto instalando (em alguns casos opcionalmente) um banco traseiro rebatível. Funcionando no sistema de reclinação em 1/3-2/3, apenas uma parte do banco pode ser rebatida, permitindo que um eventual passageiro também se instale no interior.

E é bem verdade que um tanque de gasolina instalado atrás do banco traseiro é um obstáculo óbvio ao plano de aumentar o espaço do Hatch, razão pela qual ele foi instalado no novo Chevette como é instalado no Opala, dentro do porta-malas. E o estepe também mora lá, o que reforça a necessidade de um banco rebatível, tendo em vista o espaço reduzido do compartimento de bagagens.

Tal modificação também implicou em uma alteração em relação ao sedã/cupê: as aletas, que escondem a tampa do tanque (a do lado esquerdo é falsa), foram suprimidas no Hatch. Ah, verdade seja dita: todas estas alterações deram uma “engordada” de aproximadamente 26 quilos no carro, se compararmos o peso da versão nova em relação a cupê:

Se você eventualmente é o dono destas fotos, avise-me para que eu coloque os créditos, ok?

Além dos óbvios detalhes diferentes de carroçaria e peso, a mecânica era idêntica ao Chevette de 2 e de 4 portas (fonte: Google.com)
Quanto à dirigibilidade, a imprensa da época apontava uma melhora em relação ao Chevette sedã (e o cupê também). Com o peso mais bem distribuído por conta do reposicionamento do tanque, o Hatch tem um comportamento em curvas mais acertado. O Chevette, que já era bom de curva, ficou ainda melhor. Não é por acaso que a GMB o escolheu pra vestir uma roupagem esportiva tempos depois...

Versões? Oito ou oitenta. Melhor dizendo, não havia um meio-termo, a versão L. O Hacth era vendido apenas nas versões básica e SL, esta última a mais sofisticada (ou menos básica, se encararmos de outra forma).

Preço? Não era muito diferente dos concorrentes, o que fez dele mais uma boa arma pra lutar com a concorrência oferecida pela Fiat, Ford, Volkswagen e a Chrysler, se bem que esta, em 1980, já começava a perder a sua força, infelizmente.

Créditos: propagandadecarros.com.br
Como já falei do Hatch, falarei agora da linha. A mudança de década não passou em branco para os outros modelos. Algumas alterações discretas foram feitas, a começar pela nova grade dianteira. Em verdade ela não é tão nova assim, mas a do modelo 1980 tem diferença em relação a do modelo 1979: a da nova década é composta apenas por três barras horizontais. E o logotipo “Chevette”, instalado dentro da grade dianteira direita, recebeu um novo grafismo mais simples - e foi colocado acima da grade (vide abaixo).

Divulgação GMC/carplace.virgula.uol.com.br
Outra novidade eram os para-choques. Antes de 1980, todos eram cromados (pintados de preto em algumas versões, como a Jeans), opcionalmente equipados com “garras”, acessórios verticais instalados aos pares, na dianteira e na traseira, revestidos de borracha, com o objetivo de proteger o cromo nas batidas leves. Em 1980, os para-choques ganharam uma faixa de borracha contínua, na porção central; e as “garras” se transformaram em dois discretos quadrados de borracha.

Internamente, os modelos ganharam bancos mais estreitos. Em relação aos de 1979, os bancos dianteiros da linha 80 perderam seis centímetros de espessura, o que aumentou em um pouco mais de uma polegada o espaço dianteiro. Uma nova padronagem de tecidos estampava a novidade, e a cor vermelha para o acabamento interno foi proscrita do catálogo.

Nas laterais, as versões SL ganharam frisos. Eram feitos de matéria plástica, com uma faixa cromada na parte superior, e contavam com quatro partes: para-lama dianteiro, porta, lateral e para-lama traseiro (na versão sedã eram cinco peças, considerando os frisos extras pras portas traseiras). E o logotipo “SL” ficava no para-lama dianteiro. Vale reforçar: as versões básicas não tinham tal friso.

Os frisos eram comuns aos modelos SL da linha 1980 (Divulgação GMC)
Na porção traseira havia outra novidade: novas lanternas envolventes. Foi a primeira modificação relevante na traseira, que, apesar de simples, renovou o desenho:  a separação das luzes passou a ser vertical (a luz de seta era vermelha, diga-se), e foram instalados catadióptricos nas laterais (esse é o “nome científico” dos olhos-de-gato).

Claro, novas cores fechavam o pacote de novidades para o começo de 1980. Digo começo porque neste mesmo ano chegou uma novidade, criada sob medida pra concorrer com a Panorama (e depois com a Parati), mas isto é prosa pra outra postagem.

E antes que eu me esqueça, as vendas neste ano alcançaram, segundo a revista Carro, 90.084 unidades. Foi o melhor ano para linha Chevette durante sua carreira.

 
E segue um interessante teste da Quatro Rodas, de novembro de 1979 (edição n. 232), em que a novidade do ano foi submetida ao crivo da revista:
 





Postagem atualizada em 11/06/2020, com correções e inclusão de informações.

15 comentários:

  1. Boa tarde eu tenho um Chevette Hatch 1982 e estou procurando a meses por revistas entrevistas ou ate fotos sobre os Chevette Hatch e nao acho e nem andando nas ruas é bem raro de se ver um Chevette hatch nas ruas porque é tao raro de se ver eles?

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    1. Prezado Thiago,

      Primeiramente, parabéns pelo teu Hatch!
      Não é tarefa fácil ver um Hatch nas ruas; aqui na minha região até alguns anos rodavam três, mas nenhum deles existe mais...
      Só pra ilustrar, Chevette S/R só me lembro de ter visto um, das primeiras safras, era usado por um vendedor de sorvete... Era muito original, facilmente restaurável, mas naquela época não se dava o mesmo valor de hoje... Provavelmente aquele S/R não existe mais há anos.

      Não tenho, por agora, os números exatos da produção por modelo, mas posso afirmar que o total de Hatch produzidos só não é menor do que os de quatro portas, estes, por sinal, são mais raros ainda.

      Como o Hatch não vendeu tanto quanto a versão cupê (esta que durou até o final da produção, em 1993), e não havia muita "cultura de preservação" (muito carro bom foi pro ferro-velho, é o que vemos com os Ômega e Tempra, por exemplo), os Hatch são mais raros, poucos sobraram pra contar a história.

      Quanto à procura por material, não é muito fácil encontrar revistas da época, mas recomendo que você dê uma olhada no excelente acervo da Revista Quatro-Rodas:
      http://quatrorodas.abril.com.br/acervodigital/home.aspx
      Lá você pode ter acesso às informações da revista sobre o Hatch.

      Sempre que possível, procuro disponibilizar algo no blog alguma informação. E quando precisares de alguma informação mais específica sobre o Hatch, é só avisar.

      Abraço,

      Em tempo: nessa semana eu publicarei mais uma postagem sobre o Chevette, falando desta vez dos modelos 1981.

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    2. Bom dia....me chamo gustavo e tenho um chevette hatch 1980 ah 3 anos na cidade a onde eu moro em itajuba ja pode encontrar cinco desses modelos hatch...o meu ele esta orinal de peças mais a pintura esta ruim....e estou arrumando ele aos pouco mais tem algumas peças que nao encontro na cidade......vc pode me informa como posso localizar essas peças como painel frisos clomados dos vidros....meu face....gu_ bustamante@ hotmail.com...um abraço.

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    3. Caro Gustavo,

      Parabéns pelo carro! Esses Hatch de primeira fornada, de 1980, estão ficando raros, e é bom saber que um deles está em boas mão, em processo de restauração.

      Infelizmente não conheço um local que tenha tais peças, ficarei devendo essa informação. Se eu souber de algo, avisarei.
      Recomendaria que você consultasse os anúncios destes sites como o Mercado Livre, Bom Negócio, etc., geralmente eles têm algumas peças, até em preço bem interessante.

      Sucesso em sua restauração!

      Obrigado pela visita e pelo comentário

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    4. Boa noite....obg vc por sua atençao.....ves site que me enformou.

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    5. Imagine, o espaço está às ordens.
      Sucesso na restauração!

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    6. Troquei a pouco meu Renault Rt 19 por uma Santana 89 e um Chevette Hatch 80, que pelo que vi é o L.
      Quero deixar ele o mais original possível, obrigado pela matéria.
      Achei muitas peças dele na jocar, mas fico grato por qualquer dica.
      Estou contente com o meu pequeno grande carro

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    7. Prezado Michel,

      Parabéns pelos carros, ambos são muito interessantes. O Santana é um interessante projeto da Volkswagen, poderia ser tranquilamente vendido no Brasil com o nome Passat e continuar a história de sucesso do primeiro refrigerado a água da VWB, mas...

      Enfim, vamos ao Chevette: a versão L é interessante, na época era mais comum a versão SL; não raro, com o passar dos anos, as versões mais simples eram "completadas" com bancos e forrações da versão top, sem falar no uso dos logotipos do SL.
      A Jocar tem boas peças; geralmente quando preciso de uma peça para meu Volks 1300 eu procuro no Mercado Livre (até a Jocar vende por lá; procurando bem você acha muita coisa boa com preço justo). Outra opção é usar o OLX na categoria "peças de veículos" e garimpar o que precisas.
      As peças de acabamento são as mais complicadas de achar (problema crônico até de carros seminovos), mas com paciência você acha por um bom preço aquele detalhe para deixar ainda melhor o seu hatch.

      Sucesso na busca e o espaço está às ordens>
      Grato pelo comentário!

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  2. Boa noite...esses chevette hatch 80 sao muito raros de encontrar com eles nas ruas....eles falem apena estimar por muitos anos??ou nao...quem tem e gosta desses carro....quais seria os falores deles hj em dia um bem original pq esses carros antigos como chevette um dos primeiros" tubarao hatch picutos" estao sumidos....

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    1. Prezado,

      Sou fã dos Chevette, por isso sou "suspeito" para dizer isso, mas vale à pena ter um Chevette em bom estado. Aliás, qualquer carro nacional de 1980, mesmo um Volks 1300 - o carro mais vendido da época-, é colecionável, tendo seu valor garantido se em bom estado.

      Bem, em termos de dinheiro, não há uma cotação como os automóveis seminovos, tudo depende. Claro, um carro vale tanto quanto alguém estiver disposto a pagar nele - e são muitos os fatores que influenciam no preço: originalidade, estado de conservação, se é raro ou muito raro, se é original ou restaurado, etc. Já vi um bom Chevette Sedan 1980 SL sedan, original e com placas pretas, por 12 mil reais, um valor justo.
      Mas tudo depende, é difícil colocar preço em carro antigo.

      Se eu tivesse um Chevette 1980, cuidaria bem dele: é um carro colecionável, bastante desejado e um carro muito bom, gostoso de guiar, manutenção fácil e está ficando cada dia mais difícil ver um em bom estado.

      É um bom carro, vai te divertir muito - pois é bom de pegar uma estrada, chama a atenção se estiver impecável, além de ter seu valor razoável num mercado de antigos.

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    2. Ok...muito obg pelo informaçao...
      att...gustavo

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  3. Boa tarde me chamo fagner e eu tenho um hatch 1980 e estou com ideia de restaurar, mas busco informacoes de como ele era original, pois tenho duvidas, ele tem sl escrito no friso da porta, e os farois sao quadrados, estou com duvidas se sao originais desse modelo, vi umas fotos onde o SL era no friso do paralama e os farois redondos.

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    1. Prezado Fagner,

      Parabéns pelo seu Chevette, é um modelo muito interessante e muito desejável, além de ser ótimo de dirigir.

      Quanto às suas dúvidas:

      a) se o seu carro é modelo 1980, os faróis dele são redondos; se, ao contrário, ele é de 1981 (mesmo que seja um 1980, modelo 1981), os faróis são quadrados;

      b) nos modelos 1980 e 1981, o logotipo "SL" era aplicado nos frisos do paralama; o emblema "Chevette SL", instalado no friso da porta, só saiu em 1982.

      Qualquer dúvida é só avisar!

      Abraço,

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  4. Galera me tirem uma dúvida o chevette hatch realmente tem 3,97 ? Pq no meu ponto de vista ele parece menor que o gol quadrado que tem 3,88...
    Eu não sei se é impressão minha ou erro da montadora, pq eu não consigo acreditar que um carro tão pequeno tenha esse tamanho.

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    1. Realmente, o Chevette Hatch de primeira geração tem exatos 3.972mm. O desenho engana, mas é a exata medida do carro (e conferi em outras publicações), o sedã, também daquela época, não era tão maior: precisamente 4.193mm. Realmente são carros compactos!

      Grato pela visita e o comentário, volte sempre!

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