quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

História do Chevette (1976-1977)

1976- Um Chevette para corridas?

A linha Chevette 1976, lançada em outubro de 1975, trouxe algumas boas novidades: a taxa de compressão dos motores aumentou de 7,3:1 para 7,8:1, trazendo uma economia de 10% no consumo de combustível (mesmo que às custas de eventuais batidas de pino e alguma autoignição por conta da péssima gasolina amarela), e a suspensão foi reformulada com a adoção de molas traseiras mais macias e amortecedores recalibrados, com novos coxins no motor.

Prospecto da linha 1976 (Quatro-Rodas,1975)
Como bem vemos no anúncio, a linha para 1976 trouxe a criação e o reposicionamento de versões. A linha era composta pelo Chevette Especial (básico, liso de tudo), o Chevette Luxo (o antigo modelo “padrão”, por assim dizer), o Chevette SL e a versão esportiva Chevette GP. Por falar neste, vale à pena nos alongarmos na história desta versão lançada no GP de Fórmula 1 de 1976. 

Moco no pódio (Foto: Lemyr Martins/Quatro-Rodas)
O Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 em 1975 foi inesquecível. O pódio trouxe uma novidade aos brasileiros: José Carlos Pace (o Moco) e Emerson Fittipaldi formaram a primeira dobradinha brasileira da F1. Provavelmente o pessoal do Marketing da Chevrolet, antevendo um bom GP de 1976, tratou logo de aumentar sua participação publicitária no GP de Interlagos. E alguém teve a ideia de fazer um Chevette que tivesse alguma ligação com esta corrida. Aliás, o carrinho serviria como uma eficiente propaganda para marca- e seria lançado num ambiente bastante interessante, um autódromo.


(Foto: Milton Shirata/QR de Agosto de 1976)
Muitos criticam o porquê de a Chevrolet escolher um Chevette e não um Opala SS 4.100...(Já pensaram num Opala SS com carburação quádrupla, comando de válvulas brabo, freios a disco nas quatro rodas e bancos revestidos em couro?). Mas aqueles eram os tempos das vacas magras. Aquela maldita crise do petróleo (não é fixação minha falar dela, mas é que não dá pra falar de carros dos anos 70 sem lembrar-se dela...) tratou de esfriar um pouco o ânimo daqueles sedentos por desempenho... O Chevette GP 1976 era filho daqueles tempos. Era como um Corcel GT: esportivo porque alguém resolveu que ele era assim- e não por vocação.

Foto: Luigi Mamprin (QR de Janeiro de 1976)
Para diferenciar da versão comum, o Chevette GP recebeu faixas em preto-fosco no capô, porta malas e na parte inferior das laterais. Nas portas aplicaram o logotipo GP (Gran Prix- Grande Prêmio). O retrovisor externo era novo, em formato aerodinâmico, pintado também em preto fosco. Pra completar o conjunto, outros elementos, que nas versões mais luxuosas eram cromados, foram pintados de preto. Caso dos frisos do para-brisa, dos contornos dos vidros e também da grade dianteira. O terminal do cano de descarga era cromado e as rodas eram novas, com tala de seis polegadas. Faróis auxiliares foram instalados para reforçar o aspecto esportivo.
(Fotos: Milton Shirata/QR de Agosto de 1976)

Mecanicamente falando, a única modificação era o aumento da taxa de compressão: de 7,8:1 para 8,5:1. Esta alteração teve duas consequências práticas: o aumento de 3cv na potência (69cv para 72cv), e a necessidade de adicionar 20% de gasolina azul a comum para evitar as batidas de pino. Apesar do desempenho fraco, o Chevette GP mantinha todas suas características positivas, como o ótimo conjunto de transmissão. No teste da Quatro-Rodas, publicado em Janeiro de 1976, Cláudio Carsughi definiu o modelo:
“Mas estes detalhes [de estilo e acabamento] que, em última análise o proprietário pode resolver sozinho e sem gastar muito, são praticamente anulados pelas qualidades intrínsecas que o Chevette tem. E que fazem desejar uma versão realmente esportiva, capaz de aproveitar a excelente estabilidade do carro, seu ótimo câmbio, com engates secos e precisos, sua transmissão sem problemas. Uma versão que, infelizmente, o Chevette GP apenas deixa entrever, bem ao longe”. 
Ah, só para constar: nenhum brasileiro chegou ao pódio no GP de 1976. Niki Lauda venceu a prova. José Carlos Pace chegou em décimo, Fittipaldi em décimo terceiro.

O SL era um Chevette com roupa de domingo... (Foto: GM)
O Chevette SL, outra novidade da linha, foi lançado em 1975 como modelo 76. A versão Super Luxo trouxe uma agradável inovação: a possibilidade de escolha da cor do revestimento interno, monocromático preto ou marrom. Na verdade, o revestimento marrom não era tão monocromático assim. O acabamento plástico do volante (que aciona a buzina), o quadro de instrumentos, os difusores de ar, a chave de seta, a alavanca de câmbio e outros detalhes eram pretos. Porém, era uma forma de fugir da monotonia dos interiores pretos. (Bem que os carros da GM de hoje também poderiam ter outras opções de cores para o interior...).

Foto: Luigi Mamprin (QR de outubro de 1975)
Internamente o SL tinha um bom acabamento, com arremate bem cuidado. Os bancos eram de encosto alto, reguláveis na inclinação (milimetricamente) e na distância. Os pedais, idênticos ao do modelo GP, eram maiores que os utilizados no restante da linha, e seus com contornos eram cromados. Na parte externa uma discreta faixa nas laterais (na altura das maçanetas das portas), e outra mais larga entre as lanternas traseiras, diferenciavam a nova versão.  Pra resolver o problema da falta de cromados a GM não economizou: até mesmo as lanternas traseiras eram envolvidas por frisos cromados. Um reforço no material de isolamento acústico completa o pacote de luxo disponível no modelo SL.

Foto: Divulgação GM. Material disponibilizado no site chevettemaniac.com
Para completar o ano, a Chevrolet lançou sua primeira série especial no Brasil: o Chevette País Tropical. Era uma edição limitada, fabricada até meados de junho de 76, que nada mais era do que um pacote de opcionais instalados no modelo luxo. Por Cr$ 2.800,00 (R$ 3.936,41, em 2014) comprava-se o pacote com rádio AM/FM com toca-fitas estereofônico, dois alto-falantes com balanceamento do som, rodas idênticas ao modelo GP (embora pintadas em outras cores), retrovisor aerodinâmico (o mesmo do modelo GP, pintado na cor da carroçaria), bancos reclináveis (do modelo SL) e faixas laterais na parte inferior das laterais pintadas na mesma cor das rodas. A versão limitada era disponível em duas cores: bege (com rodas e faixas pintadas em marrom) e marrom (com as rodas e faixas de cor bege). 

A atualização dos valores foi feita em 2014, vale lembrar
Contabilizando todas as versões, em 1976 foram vendidas 70.733 unidades. E é bom lembrar que neste ano surgiu um concorrente para o Chevette: o Fiat 147, que ficou no mercado até 1986, substituído pelo Uno.

E por falar em comparativos entre outros carros, vale a gente recordar deste teste da revista Quatro Rodas, da edição de abril de 1976, no qual o Chevette Especial foi chamado para o combate contra o Volkswagen Sedan 1600:

 



 



1977- Reforma Interior
O estilo do Chevette, moderno no lançamento, já contava com quatro anos de estrada. Não que isso fosse problema no Brasil, até porque o Volkswagen Sedan sempre teve o mesmo desenho básico durante sua enorme carreira. Mas Fusca é Fusca, Chevette é Chevette. E o público começava a clamar por mudanças exteriores. Atenta, a Chevrolet preparava uma nova dianteira para o sedan. Mas o face lift ficou mesmo para 1978. Mas nem por isso a linha 1977 deixava de trazer novidades. Ao contrário: as reformas de 1977 eram interores, quase como se a Chevrolet preparasse o interior e a mecânica do Chevette para receber o novo desenho.


Painel da versão SL. Foto: Cláudio Larangeira (QR de 10/1976)
O interior da linha Chevette 1977 era bem melhor: instalaram um contorno cromado no quadro de instrumentos e difusores de ar; os instrumentos ganharam novo grafismo muito mais colorido, o porta luvas ganhou uma fechadura com chave (opcional nas versões mais simples), o extintor de incêndio foi deslocado para o interior do veículo, abaixo do porta-luvas (antes o extintor era fixado no porta-malas, medida nada prática em emergências); o painel ganhou um alerta luminoso que indicava falha nos freios de serviço (passou a ser obrigatório por lei em 1977) e foi instalado um reostato para regular a intensidade das luzes do painel.

A versão SL sofreu mudanças específicas: o painel e as portas desta versão receberam um aplique plástico que imitava madeira (prática comum nos anos 70); o acabamento do acionamento da buzina, difusores de ar e o console ganharam a cor bege para combinar com o interior monocromático (não custa lembrar que em 1976 estes itens eram pretos até mesmo no interior bege) e foram retirados os contornos cromados das janelas laterais. Por volta de maio de 1977 a versão SL sofreu outras modificações: a versão perdeu a faixa lateral, o retrovisor externo passou a ser o mesmo da versão GP (pintado na cor da carroçaria) e o vacuômetro, instalado no quadro de instrumentos no lugar do relógio, tornou-se opcional.

Foto: Cláudio Larangeira (QR de Outubro de 1976)
Novidades também surgiram na parte mecânica: o sistema de alimentação (leia-se carburação) foi revisto para suavizar o funcionamento do motor e permitir a queima de gasolina comum sem que haja pré-ignição (a famosa batida de pino); tornou-se disponível um sistema de retorno de combustível, feito para mandar o excesso de combustível no carburador de volta ao tanque de combustível; comando de válvulas menos agressivo, com tempo de permanência menor e distribuidor com nova curva de avanço. O resultado das modificações reduziram em 1cv a potência (de 69cv para 68cv), preço baixo se considerarmos o ganho em eficiência e economia.

Anúncio GM veiculado na QR de Abril de 1977.
Falando na economia, a diferença sensível no consumo foi alvo de forte publicidade por parte da Chevrolet, visto que o Fiat 147 era mais econômico que o sedan da GM. O pessoal que comprou o modelo em 1976 deve ter se arrependido em comprar o '76: o Chevette '77 era, naquele momento, mais econômico que o Fiat 147. Logo depois a Fiat tratou de reduzir o já moderado apetite do seu pequeno carro. A guerra da economia estava declarada!

Por fim, vale lembrar que o servo freio era efetivamente disponível opcionalmente (em 1976 a Chevrolet disponibilizava apenas em catálogo), assim como os pneus radiais da série 70.

O Chevette GP II, evolução natural do Chevette GP de 1976, trouxe boas novidades: a instrumentação era mais completa: no quadro de instrumentos foi instalado um conta-giros no lugar onde ficavam os medidores de nível de combustível e temperatura do motor, além de um console, na altura do câmbio, com quatro instrumentos voltados ao motorista: indicador do nível de gasolina, vacuômetro (indicador utilizado para otimizar uma condução mais econômica), indicador da temperatura do motor e um voltímetro; novas rodas de tala de 5,5pol. com a opção de pneus radiais 175/70 e o espelho externo direito foi instalado.












Três tomadas do GP II (Fotos do GP II: Best Cars Web Site)















Este era o motor do Chevette GPII. Não era muito potente, mas era econômico.
Mecanicamente falando, o Chevette GP II standard vinha com o motor de 68cv padrão para linha. Como opção havia um motor com taxa de compressão maior (os mesmos 8,5:1 do motor de 1976) que, alimentado na base da gasolina azul, rendia 72cv. Não que o GP andasse muito (decepcionantes 138 km/h de velocidade máxima e aceleração de 0-100 km/h em sonolentos 19,80s), mas era econômico: 11,04km/l de média com a cara gasolina azul.

Foram vendidas, contando todas as versões, 65.964 unidades. E a tabela de preços, atualizada em 2014, é esta:
 
Abaixo, um pequeno adendo, o teste da revista Quatro Rodas, publicado na edição de outubro de 1976, com a novidade, o Chevette SL 1977, de estilo mais bem resolvido e menor consumo de combustível.
 


 
 
Postagem atualizada em 27/06/2018.