sábado, 1 de janeiro de 2011

Já não se faz carro como antigamente...

Nas rodinhas que sempre surgem no entorno de um automóvel antigo, seja nacional ou feito nos estrangeiros uma exclamação é sempre repetida: "ah, já não se faz mais carro como antigamente!", invariavelmente acompanhada de um incontido suspiro... Este inocente comentário pode gerar algumas reações, a saber:

Opel Kapitan 1951: This is a old school!
1) Todos da rodinha concordam, afinal o carro mudou muito- mas muito mesmo. Ficou mais cheio de plásticos, chaparia mais frágil, motores eco-amarrados e desing repetitivo...

2) Todos ouvintes retrucam o automobilista-saudosista afirmando que a evolução é bem-vinda! Os autos estão mais seguros, econômicos, tecnológicos e práticos de se guiar.

3) Surge um violento quebra-pau entre as duas correntes acima, com argumentos peremptórios de todos os lados...

Literalmente: não se faz mais carro como antigamente, devo reconhecer. As técnicas de produção estão dia-a-dia mais apuradas, diametralmente opostas ao que se fazia há quatro ou cinco décadas atrás... Ironias à parte, posso apresentar vários aspectos que corroboram as duas grandes versões, quer nos pontos que a evolução foi ruim- ou foi interessante. Por hora, vamos analisar algo que a evolução automotiva praticamente matou: a escolha da cor dos interior do veículo. Nem sempre a evolução é bem-vinda...

Vasculhei os sites das principais montadoras nacionais, e dos autos fabricados no Brasil, só mesmo o Fiat Linea oferece opções dos revestimentos. Imagino como seria bom ter um Linea T-Jet Vermelho Magma (ou mesmo Preto Vesúvio) com os revestimentos da cor bege. Pena ser o único (salvo engano meu) auto nacional que permite a escolha da cor dos revestimentos internos.

Os automóveis de antigamente não eram assim, pois em muitos casos a cor do interior era opcional, o que quebrava a monotonia do interior preto. Caso da Volkswagen:
 
O Fuscão 73 dispunha, opcionalmente, destes estofamentos em bege claro. (Foto: QR)
Como esquecer dos lendários bancos vermelhos do Passat LSE 85/86 "Iraque"? (foto: HP do Passat)
Bancos marrom com bege, TS 1979/80 (foto: HP do Passat)
Ao longo do tempo a VW ofereceu várias opções: bege claro ( na verdade um quase branco, caso do VW 1500 1973), bege mais escuro, azul índigo, vermelho e o preto. Sem falar nas coloridas padronagens de tecido, como o tecido xadrez que equipou a primeira leva de Gol há trinta anos atrás...

A GM também tinha em seu catálogo várias opções. Os Opalas '68 poderiam ser encomendados com o interior em azul, vermelho e o manjado preto. Um dos mais famosos revestimentos é o Comodoro 1978 com interior vermelho, conhecido pelo apelido "château", obviamente por influência do anuncio abaixo:

Taí uma coisa que nem o festejado Malibu tem: interior vermelho (Anúncio GM- opala.com)
O Chevette também era pródigo em opções de cores para o habitáculo: preto, bege e vermelho. Em 1979 a Quatro-Rodas testou um sedã quatro portas prata com o interior vermelho. É bem verdade que o prata da carroçaria não combina lá muito bem com o estofamento rubro, mas não deixa de ser uma combinação tão rara quanto interessante:


Será que ainda existe um destes? (Foto Heitor Hui/QR) 
Como vocês devem ter percebido, o interior era vermelho: carpetes, console, painel e até mesmo o volante eram vermelhos. Mas o preto, teimoso que só, ainda aparecia em alguns detalhes, como o rádio e a alavanca de câmbio...

Revestimento plástico imitando madeira e interior vermelho só se viam nos anos '70... (Foto Heitor Hui/QR) 
Mas o Chevette teve um revestimento muito mais marcante: jeans. Isso mesmo, o clássico brim também revestiu bancos e forrações do Chevette! Em 1977 a Gurgel lançou o Xavante-X12 com capota e interior em Jeans. Dois anos depois a Chevrolet lançou no mercado a série especial Jeans do Chevette.

Honrando o nome, o sedã trazia os revestimentos internos em brim azul, e as costuras lembravam as usadas nas calças de brim. O pessoal da GM se empolgou tanto com a ideia das calças que chegou a reproduzir bolsos nos bancos.

Fotos: opaleirosdoparana.com
O Raro Chevette Jeans: repare no "bolso" da porta...
A Ford era menos ousada, apostava no vermelho e no bege, além do preto de sempre. Fiat também. Já a Dodge apostou em várias opções: verde escuro (presente nos Dart de primeira fornada 69/70), bege (desde 1974), azul, vermelho (desde 1977) além do básico preto.

Os Dodges também tinham o interior caprichosamente monocromático (foto: museudodge.com)
Quer seja em couro ou em veludo, as cores eram bem variadas na linha Dodge. Os bancos da Dodge figuram entre os mais confortáveis já produzidos.

Raro R/T 1977 Prata Monterrey com interior vermelho (Foto: Revista Old Cars)
Nos Charger R/T um detalhe interessante chamava a atenção: a cor das faixas externas combinava com a cor do interior... Tal detalhe só garantia a maior variedade de opções de modelos diferentes.

Como discutimos no começo deste texto, nem sempre a evolução automotiva é motivo de festa. Nossos carros novos perderam as várias possibilidades de cores de revestimentos internos por causa da maldita redução de custos- e da otimização da montagem (menos peças diferentes, mais fácil de se montar e menor é o custo!). Ontem os tecidos eram finos, confortáveis. Hoje continuam finos, mas de espessura... É verdade. Os automóveis não são mais como antigamente...

3 comentários:

  1. Inacreditável saber que um dia eu sentiria saudades da diversidade de cores aplicadas aos interiores dos carros...
    Em casa a tonaliudade marrom do interno era uma constante, desde o recém-lançado Chevette SL modelo 1976, comprado zero km. com a cor externa bege copacabana e interno marrom "monocromático", mas com vários itens em preto (botões de controle & otras cositas más...), agradou tanto que meu pai acabou comprando outro carro em fins do mesmo ano e na mesma combinação, mas um pouco maior: um Opala Cupê de 4 cilindros e 4 marchas,modelo Especial, com bancos separados e altos, em vinil, marrons (combinação rara até na época, pois o carro era básico).
    Saudades dos internos vinho e azuis (os Passat 79/80 eram maravilhosos, sem contar os Dodges ano 79, tiram o meu ar até hoje), como vc. bem citou, muito bonitos e bem executados...
    Mas a ditadura prata-preto dos dias atuais não permitem mais esses "exageros" por parte dos fabricantes...

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  2. Eu ainda gosto bastante de interiores em tons claros, que esquentam menos quando o veículo fica exposto ao sol. Até acho incoerente esse não ser o padrão predominante, embora por uma questão de praticidade as padronagens escuras venham prevalecendo devido à menor evidência que alguns pequenos danos como manchas no tecido acabariam tendo.

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  3. Poxa, tenho um Fusca 1974... O interior é todo preto, uma pena, porque um ano antes tinha vários estofados e o belo painel imitando madeira...

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