quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O Carro Cassado

Sempre que estamos próximos a época das eleições eu me lembro deste causo. Num país onde a instabilidade política reinou durante séculos (e ainda grassa despreocupadamente), não é de se espantar que até mesmo um automóvel foi "cassado".

Em 1960 a Fábrica Nacional de Motores (invariavelmente chamada pelos automobilistas inveterados de "fenemê") resolveu lançar o seu automóvel: ela já tinha em seu portfólio os quase indestrutíveis caminhões que ajudaram a carregar o desenvolvimento da nação sobre a carroçaria, mas faltava um automóvel na linha estatal.

É um bocado estranho pensarmos nos dias de hoje que o Governo Federal lançaria seu "próprio" carro. Mas os tempos eram outros. Haviam poucas fábricas de automóveis, e o governo da época, por meio da FNM, resolveu fomentar o setor automotivo lançando seu novo possante.

É verdade que o automóvel não era tão novo assim. A FNM usou o projeto do italiano Alfa Romeo 2000, realizou algumas adaptações e criou o seu sedã. Apesar de ser uma cópia quase exata do modelo italiano, o tal modelo era bastante moderno se comparado aos seus rivais da época. Tinha câmbio de 5 velocidades (com a alvanca de acionamento do câmbio na coluna de direção, configuração padrão daqueles tempos), conta-giros (coisa que muito carro de hoje não tem), pneus radiais (literalmente impossíveis de achar hoje), duplo comando de válvulas no cabeçote, entre outros itens que o destacavam dos demais modelos da época (como o Simca Chambord e o Aero-Willys).

A origem do nome não nega a origem estatal do nome: FNM JK 2000. Aliás um carro fabricado por uma montadora estatal, que veio à luz no dia da inauguração de Brasília (21 de abril de 1960), não poderia ter outro nome mesmo...

O JK era um baita carro - e continua sendo, é claro! Custava caro, e dava status ao seu orgulhoso dono- afinal, era o caro nacional mais caro.  De todo modo, o JK fez o sucesso que poderia fazer naqueles tempos, e o sedanzão passou bem até 1964. Tinha lá seus defeitos construtivos e até poderia ser melhorado, mas era um carro muito interessante e até mesmo amplamente utilizado em corridas.

Mas aí veio 1964, e junto com o golpe uma série de modificações na estrutura social e estatal de nossa nação. Muitos políticos foram cassados- e nosso fenemê também. Cassado talvez não seja o termo correto, mas é fato que o carro teve seu nome alterado: passou a se chamar apenas FNM 2000. O próprio JK perdeu os direitos políticos naqueles tempos, e o automóvel acompanhou a mesma sorte. Deve ser o único carro "cassado" do mundo...

Apesar da "cassação", o FNM 2000 continuou em linha com algumas modificações e sobreviveu até 1973 quando foi aposentado definitivamente. Já a FNM foi vendida à Alfa Romeo em 1968. Mas isso é outra história...

Na foto o FNM 2000 JK, talvez o único carro cassado do mundo. (Foto extraída da Revista "Transporte Mundial", edição nº 12, pg 50)

1ª Postagem

O blog é fruto de mais de quinze anos lendo revistas, coletando dados e ouvindo informações acerca do grande universo chamado carro. E depois de juntar tanta informação, decidi criar este despretensioso espaço de divulgação da cultura automotora em geral, como forma de socializar o pouco que vi ao longo do tempo.

Peço, desde já, a paciência dos leitores por conta de algum erro involuntário, assim como as incorreções gramaticais que podem brotar, sem que eu perceba (ou sabia), dos textos aqui expostos.

E sejam todos bem-vindos ao blog! 
Comentários são sempre bem-vindos, pois ainda tenho muito o que aprender sobre o mundo dos automotores.